Muitos são os desafios que enfrentam os empreendedores, sendo que talvez o mais reconhecido é o da dificuldade do financiamento, sobretudo em áreas de maior risco. Mas um outro desafio, pouco abordado, mas de não menos importância, é a pouca resistência que os portugueses têm ao «falhanço». Ou seja, para muitos quem tenta e falha fica marcado com uma conotação negativa. E voltar ao mercado de trabalho pode ser uma solução para quem fechou um negócio, ou porque quis ou porque não correu bem. Mas, em termos salariais isto pode representar um downgrade.
Um estudo recente, designado de “O Capital Humano e o Empreendedorismo”, publicado na revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal, revela que “Comparando empresários portugueses com aqueles que nunca foram empresários, os empresários que voltam a trabalhar por conta de outrem registam uma perda salarial imediata de 18%, situando-se em 5% a longo prazo”. Ou seja, segundo esta análise, conduzida pelos autores Attila Gyetvai, Nasir Hossein Dad, Nicholas Kozeniauskas, e Eugene Tan, estas perdas de competitividade salarial são entre 5 a 10 pontos percentuais maiores quanto maior for o tempo de atividade empresarial. “Tal sugere que o capital humano específico à atividade empresarial não é um substituto do capital humano acumulado através do trabalho por conta de outrem”, pode ler-se na publicação.
Desvalorização é barreira ao empreendedorismo
Segundo os investigadores são apresentados neste estudo dados empíricos que sugerem que as opções externas diminuem com a experiência empresarial, conclusões retiradas da comparação entre as trajetórias salariais dos empresários que voltam a trabalhar por conta de outrem com as dos que nunca foram empresários. “Constatamos que os empresários que voltam a trabalhar por conta de outrem sofrem perdas salariais significativas e persistentes em comparação com os que nunca foram empresários, e que uma maior experiência empresarial está associada a perdas mais persistentes”, escrevem os autores. Além disso, dizem estar demonstrado que os empresários com mais habilitações sofrem perdas salariais maiores e mais persistentes quando voltam a trabalhar por conta de outrem. As perdas salariais desses empresários, com habilitações ao nível do ensino secundário ou superior, agravam-se com a experiência empresarial, o que não acontece com os que não concluíram o ensino secundário. Estas comparações são feitas tendo por base os dois tipos de empresários na mesma profissão.
São necessárias políticas que ajudem os empresários a ultrapassar esta barreira, protegendo-os do risco do empreendedorismo.
“Os nossos resultados sugerem que a desvalorização aquando da saída da atividade empresarial constitui uma barreira adicional ao exercício da mesma. Políticas que ajudem os potenciais empresários a ultrapassar esta barreira, protegendo-os do risco do empreendedorismo, podem melhorar a afetação de recursos, reforçar o ambiente empresarial dinamizando as empresas e, em última análise, promover o crescimento económico. Simular o impacto de tais políticas constitui uma importante via para a investigação no futuro”, pode ler-se na conclusão deste estudo.