Obtida a autorização oficial para cultivar, processar, importar e exportar produtos à base de canábis para fins medicinais, a CANNPRISMA, empresa 100% portuguesa, inaugura esta segunda-feira as suas instalações de cultivo e processamento, segundo as normas “Good Agricultural and Collection Practices” (GACP), em Castro Marim, no Algarve.
De acordo com a empresa, a situação pandémica acabou por atrasar o processo de obtenção da licença definitiva, o qual ficou concluído com a autorização por parte da PSP e com a inspeção presencial bem-sucedida, do INFARMED, agência governamental portuguesa responsável perante o Ministério da Saúde que avalia, autoriza, regula e controla medicamentos para uso humano, bem como produtos de saúde.
A estratégia da CANNPRISMA é estar presente em toda a cadeia de valor do negócio da canábis medicinal, desde a pesquisa e desenvolvimento à embalagem final.
A unidade de cultivo e processamento da CANNPRISMA, com 10 hectares, situa-se em Vila Real de Santo António, no concelho de Castro Marim, e contempla cerca de 3000 metros quadrados de estufas e infraestruturas de suporte com tecnologia de última geração.
Entretanto, decorrem os trabalhos de construção da fábrica prosseguem, os quais deverão ficar concluídos no final de 2021, assim como a sua autorização de funcionamento como boa prática (GMP – “Good Manufacturing Practice”) de fabricação por parte do INFARMED.
A estratégia da empresa é de conseguir estar presente em toda a cadeia de valor do negócio da canábis medicinal, assim como, na verticalidade do negócio da empresa: P&D, cultivo e colheita, secagem, embalamento, processamento, extração, API de cristalização, fabricação de medicamentos, engarrafamento e rotulagem.

Grande potencial de Portugal
Segundo os responsáveis da CANNPRISMA existe um grande potencial para Portugal se tornar um país líder na pesquisa, na produção e, também, como um dos maiores exportadores de canábis medicinal da Europa.
“O rigor, a qualidade, a segurança e a clareza exigida pelas entidades licenciadoras portuguesas contribui de uma forma definitiva para que Portugal venha a ser a melhor opção para o cultivo e para a produção de produtos à base de canábis medicinal para o mundo inteiro, cumprindo ainda todos os requisitos em termos de ética empresarial”, refere a empresa.

Em entrevista à FORBES, João Nascimento, CEO da empresa, fala do projeto e dos ambiciosos planos de expansão da CANNPRISMA.
Quais são as áreas de negócio da empresa?
A CANNPRISMA está a investir em quatro grandes áreas de negócio, divididas por fases de implementação. Na primeira fase, uma Unidade de Cultivo que já se encontra em atividade desde o segundo semestre de 2020 (em testes), tendo sido obtida autorização a 29-07-2021 para o cultivo, importação e exportação da planta canábis para fins medicinais. A segunda fase, ainda nesta Unidade Industrial farmacêutica GMP, será produzir e embalar flor seca. A terceira fase, será a obtenção de óleos, extratos e API´s para fornecimento à indústria farmacêutica. A quarta fase, a produção de preparados e medicamentos, tanto como fornecedor de serviços de produção como na produção de produtos de marca própria. Isto tudo, claro, sempre de acordo com as normas GMP.
A fábrica de Vila Real de Santo António está em construção. Quando ficará pronta?
A unidade industrial farmacêutica GMP ainda está em fase final de construção e de acordo com o projeto arrancará em janeiro de 2022. Trata-se de uma unidade de 6000 m2 e incluirá áreas como Produção, Controlo da Qualidade e Investigação e Desenvolvimento. Com o terminus das obras, qualificação da unidade e validação dos processos e equipamentos, contamos obter a autorização por parte do INFARMED, até ao final do ano de 2021 / 1º trimestre de 2022.
Qual a capacidade de produção que preveem que a fábrica possa ter no futuro?
De acordo com o nosso plano de negócio, está previsto entre 1500 kg a 12000 kg, numa primeira fase, com possibilidade de aumentar estas quantidades ao longo do projeto.
A fábrica implicou um investimento de quanto?
Este é um negócio que exige um elevado investimento em estufas de alta tecnologia com características muito próprias; unidades de processamento com características idênticas às da indústria farmacêutica; bem como outros investimentos em software certificado e em segurança. Não podemos esquecer que esta área exige grandes custos em mão-de-obra especializada, quer na agricultura, quer na indústria farmacêutica.
Tratando-se uma área de negócio nova – quer em Portugal, quer no mundo -, também é necessário investir fortemente em I&D e na criação de novos produto para atender às necessidades específicas dos nossos parceiros.
Sendo assim, o nosso projeto de investimento prevê, nos próximos 5 anos, investir 30 milhões de euros (sendo que, até à data, foram investidos cerca de 15 milhões); a criação de 200 a 300 empregos; parcerias com diversas entidades institucionais e empresas locais; Investigação e Desenvolvimento; e cultivo, processamento e fabricação de produtos à base de canábis.
Qual será o volume de negócio que estimam para um ano completo de produção, como 2022?
De acordo com o nosso projeto de investimento, estão previstos cerca de 10 milhões de euros nas várias áreas de negócio atrás mencionadas, sendo que, mais de 90% será para exportação.
“O nosso projeto de investimento prevê investir 30 milhões de euros, nos próximos 5 anos. Até à data, foram investidos cerca de 15 milhões. Prevemos criar 200 a 300 empregos”
A empresa tem capital 100% português: quais são os seus acionistas?
Sim, de facto, o capital da CANNPRISMA é 100% português. O objetivo é tornar-se uma referência mundial em Pesquisa e Desenvolvimento, Cultivo, Colheita, Secagem, Processamento, Extração, Cristalização-API, Fabricação de medicamentos e Embalamento de Canábis Medicinal.
A empresa é composta por quatro sócios – João Nascimento (CEO), Elsa Nascimento (Executive Managing Partner), Paulo Nascimento (Executive Managing Partner) e Fernando Águas (Diretor Industrial/QP).
O know-how reunido da gestão de topo conta com mais de 60 anos de experiência e formação em Canábis Medicinal GMP, Gestão (empresarial, ambiental e operacional), Marketing, Auditoria, Ciências Farmacêuticas e Controle de Qualidade. A prova da capacidade empreendedora e de gestão dá-se com a formação, há 23 anos, da empresa “Renascimento”, uma das maiores referências na área do ambiente, em Portugal.
Sempre com a perspetiva de aquisição de competências internas, até ao momento mais de 50% dos colaboradores admitidos têm formação académica superior, ao nível das licenciaturas, especialidades e mestrados. Áreas que vão desde as ciências farmacêuticas, biologia, agronomia, às engenharias química, bioquímica e do ambiente.
Tratando-se de uma equipa heterogénea, a missão é só uma: oferecer produtos à base da planta cannabis que contribuam para a saúde e o bem-estar dos consumidores que procuram soluções de qualidade premium, agregando valor à indústria farmacêutica e atendendo aos padrões de qualidade, responsabilidade ambiental e social.
A atividade da CANNPRISMA no mercado tem em consideração a comunidade, atuando de forma confiável e honesta com todos os parceiros e com o meio ambiente. Acreditamos que nos devemos preocupar com a natureza e com aqueles que nos rodeiam, garantindo um futuro sustentável e brilhante para as gerações futuras.
Quais são os produtos que saem desta fábrica?
Esta Unidade Industrial GMP tem como objetivo a produção própria e a produção para terceiros, de produtos que vão desde, numa 1ª fase, flor seca embalada; na 2ª fase, a produção de preparados de extratos e óleos; na 3ª fase, APIs e medicamentos.
Aliás, esta unidade industrial irá, sobretudo, fornecer serviços aos cultivadores e parceiros que temos e venhamos a ter. É isso que está pensado no nosso plano de negócios e é para esse fim que ela está a ser construída. Não queremos ser apenas cultivadores, mas investir também no processamento.
Este será outro aspeto que nos diferenciará e que nos colocará à frente da concorrência. A combinação entre produção e processamento irá permitir termos produtos únicos, transformando-os como queremos ou da forma que o cliente deseja, pois, assim, controlamos todas as fases do produto. Queremos dar suporte a outros negócios ligados ao cultivo da canábis, oferecendo serviços de transformação, análise, cristalização, extração, formulação e acondicionamento, tendo assim, um pacote B2B completo.
A respeito da licença adquirida, qual foi o maior desafio no processo de licenciamento?
No que diz respeito ao licenciamento, o maior desafio foi a batalha contra a COVID-19 que atrasou o processo de licenciamento. No entanto, gostaríamos de destacar o incrível esforço que o INFARMED tem feito para atender, prontamente, todos os nossos pedidos. É muito importante ter uma entidade reguladora exigente, mas justa que nos orienta para a melhoria e que garanta que todas as empresas cumpram todos os requisitos legais, de segurança e éticos. Sabemos que não é fácil regular este tipo de atividade nos tempos que vivemos.
O que torna o vosso produto (flor de canábis) único?
Em parte, é devido às nossas instalações de última geração. Mas, também, a qualidade e consistência das nossas flores, a constante procura de novas genéticas e termos colaboradores qualificados e competentes que partilham a visão da CANNPRISMA e seguem, meticulosamente, os nossos SOP (Procedimentos Operacionais Padrão). Por outro lado, e como já foi referido, enquanto a maioria das empresas portuguesas licenciadas para a comercialização de canábis para fins medicinais são, sobretudo, cultivadores, a CANNPRISMA diferencia-se, por ter (ou melhor, irá ter, com a nova unidade industrial de GMP, em Vila Real de Santo António) as duas áreas: cultivo e produção. Isso irá permitir desenvolver produtos únicos e “à-medida” das necessidades dos nossos clientes.
Com a futura instalação GMP, em Vila Real de Santo António, estamos também a apostar na capacidade de investigação e desenvolvimento para permitir a criação de medicamentos à base da planta canábis e novos e inovadores produtos para a saúde.
Qual é a vossa estratégia e posicionamento nesta nova área?
Ao entrar nesta área de atividade, constatamos que existe muita especulação no setor da canábis medicinal, falta de unidade entre todos os envolvidos e partilha de informação limitada. Trabalhamos para construir e fazer parte de uma rede de profissionais que se respeitam, respeitam os seus fornecedores, respeitam os seus clientes e, acima de tudo, os doentes. Será fundamental partilhar, sempre que possível, as melhores práticas deste novo setor na Europa e no mundo.
É importante destacar que estamos no setor da saúde, por isso, é fundamental adotar atitudes éticas e responsáveis que contribuam para sensibilizar governos e políticos, ajudando parceiros, concorrentes e pacientes a crescer de forma sustentável. Esta licença, recentemente obtida, está em linha com a estratégia de verticalidade da CANNPRISMA, dentro do negócio da canábis medicinal para a indústria farmacêutica. Por outras palavras, pretendemos que a atividade abranja toda a cadeia de valor desde a I&D, o cultivo, a transformação e a colocação no mercado de produtos de canábis para fins medicinais.