Fundada em 1976, a CGI está entre as maiores empresas de serviços de consultoria de negócios e Tecnologias de Informação do mundo, empregando mais de 90 mil colaboradores. Está presente em Portugal desde 2004, através de duas aquisições, e está a investir no seu Global Delivery Center (GDC), liderado pelo gestor Gonçalo Lança, senior vice president do Global Delivery Center Iberia. Saiba a seguir qual a estratégia da empresa para o mercado nacional.
A criação de um Global Delivery Center (GDC) da CGI em Portugal iniciou-se em 2014. Como foi essa aproximação ao mercado português e qual o objetivo estratégico da empresa?
A CGI entrou em Portugal inicialmente em 2004 com a aquisição da AMS Consulting, e, em 2012 com a aquisição da Logica. Podemos dizer que a presença no mercado nacional resulta de quatro décadas de conhecimento local, partilhado pelas várias empresas sucessivamente integradas que consolidam neste momento na CGI.
A CGI passou assim a ter uma presença muito mais relevante em todo o mercado europeu, e com enorme sucesso se observarmos a nossa cotação bolsista. Ora, sendo Portugal um dos mercados onde tinha uma posição cimeira a nível local, com competências abrangentes da consultoria à integração de sistemas, manutenção e desenvolvimento de aplicações, gestão de infraestruturas business process services e gestão documental (com maior ênfase no setor da Energia), claramente foi identificado, dada a qualidade dos nossos serviços, um forte potencial de expansão através do nearshore.
“No Global Delivery Center (GDC) apercebemo-nos que a qualidade dos recursos tinha grande capacidade de ser potenciada internacionalmente e foi isso que nos levou a criar um centro de nearshore em Portugal e Espanha”.
Mesmo considerando que a CGI é uma empresa global, com mais de 90 mil membros (nome dado aos colaboradores da organização), estrategicamente, Portugal conseguiu impor a sua capacidade pela dinâmica de negócio local, onde somos pioneiros em diversas áreas tecnológicas, e pela nossa atratividade ao nível da qualidade e da competitividade do talento disponível.
Especificamente no Global Delivery Center (GDC) apercebemo-nos que a qualidade dos recursos tinha grande capacidade de ser potenciada internacionalmente e foi isso que nos levou a criar um centro de nearshore em Portugal e Espanha. Suportando, não só Portugal, mas também os restantes cerca de 40 países em que a CGI opera.
O que pretendem alcançar no mercado ibérico?
Nos nossos Centros de Delivery em Portugal e Espanha, procuramos continuar uma trajetória de crescimento sustentando que nos permita uma maior penetração de mercado, uma aposta forte no desenvolvimento das nossas competências e equipas, bem como a maximização do valor para os nossos clientes, colaboradores e shareholders.
Na perspetiva do Global Delivery Center, no mercado ibérico procuramos encontrar, reter e desenvolver o talento adequado para satisfazer as crescentes necessidades de nearshore, e sobretudo replicar com sucesso e qualidade em todas as geografias onde operamos, abrindo um canal bidirecional de transferência de know-how.
Em que consistem os GDC e qual o seu impacto na forma como a CGI atua nos mercados onde está presente?
O Global Delivery Center é um centro de entrega global, ou seja, reunimos, nas nossas equipas, competências de indústria e tecnologia, suportadas por boas práticas e metodologias da CGI, que nos permitem transformar o talento existente em valor para os nossos clientes. Fazemo-lo em contexto global, interagindo maioritariamente em inglês, ou em alguns casos na língua nativa do país com que trabalhamos.
O objetivo de um GDC é a deslocalização da entrega, permitindo que esta seja feita à distância, preservando, ou mesmo melhorando, os níveis e qualidade de serviço e otimizando o custo de operação. Ao rompermos a barreira física, alargamos também as opções de escalabilidade e capacidade disponível para os nossos clientes.
“A CGI utiliza a sua rede global de GDC que contempla no total mais de 20 mil membros, para suportar os seus clientes no cumprimento dos seus objetivos estratégicos”.
A CGI utiliza a sua rede global de GDC que contempla no total mais de 20 mil membros, para suportar os seus clientes no cumprimento dos seus objetivos estratégicos, seja na criação de valor diferenciador nos mercados em que atuam ou na otimização operacional e financeira das suas atividades.
Lidera uma operação ibérica. Como avalia o peso do mercado ibérico dentro da multinacional?
Se olharmos para o caso particular do GDC Ibérico, começámos em 2015 com uma equipa de 15 membros a trabalhar para um cliente, num país. Hoje, em 2023, somos 650, com mais de 30 clientes e 14 países. Comparativamente, tendo em conta a dimensão dos mercados de outros países, como França, Alemanha ou Canadá, avalio de forma muito positiva, mesmo extraordinária, a forma como temos vindo a potenciar as nossas equipas.
“Portugal conseguiu impor a sua capacidade pela dinâmica de negócio local, onde somos pioneiros em diversas áreas tecnológicas”.
Só é possível sustentar um crescimento acelerado como o descrito anteriormente, com bases de gestão e frameworks sólidas, que criam o contexto adequado para o desenvolvimento pessoal e profissional das nossas equipas. A confiança desenvolvida ao longo destes últimos oito anos baseia-se totalmente na nossa capacidade de entregar com profissionalismo, competência e qualidade, dentro dos prazos acordados e de acordo com as expectativas dos nossos clientes.
Este é um mercado em crescimento, em expansão? Quais são os vossos objetivos de médio e longo prazo?
Enquanto Global Delivery Center, continuamos a ver um mercado em expansão e com várias oportunidades de crescimento. Neste momento empregamos 650 pessoas, 530 em Portugal e 120 em Espanha, e vemos espaço para alargar estas equipas. O crescimento orgânico, em ambos os países, continuará a existir, acreditando que podemos chegar aos mil membros nos próximos 3 anos.
Qual foi o objetivo principal com o investimento recente realizado em instalações? De quanto foi este investimento? Qual o impacto que terá no negócio?
O ponto de partida foi a criação de um espaço que reflita a imagem do nosso talento, mas principalmente que nos permita as condições para continuar a crescer e criar valor enquanto equipa. O novo edifício nasce desse objetivo partilhado e de um processo interativo, de design thinking, onde as nossas equipas contribuíram ativamente para a idealização do conceito implementado. Ao imaginar o futuro do trabalho procurámos encontrar o conforto, não só para quem quer simplesmente ter um lugar para trabalhar, mas sobretudo para promover a colaboração, através de espaços que permitam e estimulem o trabalho em equipa, a geração de valor e onde seja, simplesmente, agradável estar. Tendo isto em conta, construímos um espaço que nos dá flexibilidade e que nos permite conciliar o local e o remoto, juntar duas ou 100 pessoas, num dos 26 espaços de colaboração que temos disponíveis.
“O investimento que a CGI realizou neste edifício foi significativo e reforça o valor estratégico de Portugal”.
Com os novos escritórios, também criámos condições para visitas mais regulares de clientes internacionais e, hoje, é rara a semana em que não temos a presença de clientes e colegas de todo o mundo.
O investimento que a CGI realizou neste edifício foi significativo e reforça o valor estratégico de Portugal, permite-nos estar mais próximos dos nossos clientes nacionais e internacionais, e melhorar as condições para atrair e reter o talento no mercado de IT.
Como líder ibérico, como vê o seu estilo e liderança e que marca pretende deixar na empresa?
Acredito nas pessoas e acredito na empresa. A minha responsabilidade e o meu papel são o de criar as melhores condições e contexto para que as equipas se possam desenvolver, suportadas pelos valores, boas práticas e experiência acumulados da CGI.
A experiência destes últimos oito anos de GDC diz-me que a combinação entre a disciplina operacional e a qualidade e talento (das nossas equipas) geram resultados impressionantes. É com grande satisfação que olho para a quantidade de primeiros empregos que gerámos, mais de 100 só no último ano, de consultores que promovemos e quadros de gestão que ajudámos a formar. No final do dia, estas são as métricas mais gratificantes que posso imaginar como gestor.
Como avalia as mudanças que as tecnologias estão a trazer a este necessário «novo mundo»?
A CGI tem acompanhado e participado em avanços tecnológicos significativos. A Inteligência Artificial (IA) generativa é o próximo salto nessa evolução. Na nossa perspetiva, a IA será uma força transformadora que terá impacto em todos os aspetos da nossa economia global. A abordagem por nós preconizada considera uma utilização ética e responsável de um ecossistema de IA, reforçada por uma supervisão humana especializada para garantir a coerência, qualidade e segurança.
“Neste momento, a utilização responsável da IA generativa é algo que assume um papel central no posicionamento da CGI, mas não ficará por aqui, uma vez que haverá ondas contínuas de inovação.”
A IA está presente nas nossas operações há mais de 20 anos e, impulsionado pela procura dos nossos clientes, especialmente devido aos avanços mais recentes, continuamos empenhados num ecossistema equilibrado de modelos de IA tradicionais e generativos, com controlos e equilíbrios em que a inteligência das máquinas e os conhecimentos humanos convergem para desbloquear um valor sem precedentes. Estamos a aplicar esta abordagem a todos os aspetos das nossas operações e às soluções inteligentes da CGI.
Neste momento, a utilização responsável da IA generativa é algo que assume um papel central no posicionamento da CGI, mas não ficará por aqui, uma vez que haverá ondas contínuas de inovação.
Qual o contributo da CGI para a criação deste «novo mundo»?
A CGI tem mais de cinco mil especialistas, em 15 países, e vai continuar a investir nesta área. A nossa estratégia de investimento em IA inclui o desenvolvimento e a contratação mais rápida, em linha com a próxima vaga de inovação em IA. Na nossa visão, parte do valor da IA será como uma extensão das atuais práticas de dados, na medida em temos equipas que apoiam a introdução da IA em processos end-to-end (desde a ingestão e modelação de dados, plataformas de dados na cloud, IA e MLOps até à ciência dos dados).