Opinião

Empreendedorismo: Navegar num mar de incertezas

Susana Mendes

Portugal é um país de navegadores. Fomos navegadores durante o período da expansão marítima e somos hoje, em mares aparentemente mais calmos, mas igualmente incertos.

Tal como os marinheiros do século XV, que se lançavam ao mar sem saber o que encontrariam do outro lado – se terras por si desconhecidas, se monstros terríveis ou incontáveis tesouros –, também o empreendedor moderno navega num oceano de incertezas. Não há garantias, cartas marítimas ou, muitas vezes, “terra à vista”. Mas há a vontade de descobrir e de chegar, de cruzar novos horizontes… há o desejo de fazer algo que nunca ninguém fez.

Houve, no entanto, algo que sempre esteve do lado dos navegadores, mas que, raramente, está do lado dos nossos empreendedores: a preparação. Fazendo jus ao ditado “Quem vai ao mar, avia-se em terra”, os navios partiam com tudo o que era necessário: marinheiros experientes, todas as cartas marítimas disponíveis, astrolábios, sextantes, mantimentos… O insucesso era uma possibilidade bem real, mas juntavam-se todas as condições para que não acontecesse.

Infelizmente, não se preparam empresários da mesma forma. Há uma lacuna grande no ensino em Portugal e falta-nos literacia empresarial. Ser-se um bom profissional não significa ser-se um bom gestor. Gerir tesouraria, stocks, recursos humanos, fazer balancetes ou até ter conhecimentos básicos sobre marketing, direito laboral e finanças seriam essenciais a qualquer curso, para que um empreendedor não começasse a sua empresa meramente baseado no instinto.

Abrir um negócio exige mais do que coragem: exige preparação. E estamos a falhar aos nossos designers, aos nossos dentistas, aos nossos arquitetos e a outros profissionais, se apenas os estivermos a preparar para serem bons profissionais e não lhes dermos condições para navegar. Pois mesmo que queiram fazer parte da tripulação de outro comandante, este tipo de informação traz clareza e, consequentemente, uma maior compreensão dos desafios de quem lidera.

É por isso que, hoje, são tão importantes as redes de apoio e networking de empresários, que se apoiam mutuamente e preenchem as lacunas de saber uns dos outros. Que se ajudam nos maus momentos e aprendem com os erros daqueles que os cometeram antes. Porque, tal como no mar, muitos dos nossos empreendedores estão a aprender os nós em plena tempestade e o que lhes vale é ter outros navegadores mais experientes a seu lado.

Num país que se gaba das suas PME e de como são essenciais para a economia, é urgente dar-lhes mais condições para o sucesso. Agora que tantos outros já dobraram os seus “Cabos das Tormentas”, é altura de garantir que quem lhes segue os passos sabe que ventos apanhar.

Susana Mendes,
Diretora Nacional do BNI Portugal

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