A partir de uma amostra de 1.059 startups baseadas em Portugal, uma análise feita pela Djassi África com dados de abril de 2022 concluiu que é muito escasso ainda o número de dessas empresas que resultaram da iniciativa de empreendedores africanos.
O estudo foi promovido pela Djassi África, fundada em 2020 em Londres pelos irmãos Fernando e Rudolphe Cabral, e que investe em inovação digital e empreendedorismo, face à “baixa representatividade e visibilidade de afro-empresários no sistema português de inovação”.
O “AfroPreneurs Report – State of Black Founders & Ventures in Portugal” destaca a existência de 200 fundadores negros em Portugal, descrevendo os tipos de negócios criados por estes empreendedores, distinguindo entre “Ideias de Negócios” e “Ventures”.
Ao todo, o estudo apurou a existência de 131 start-ups (12% do total da amostra de 1059 start-ups) e 69 ideias de negócios.
A partir dos dados levantados na pesquisa, 35% dos fundadores negros criaram uma ideia de negócio, 40% têm uma startup e 25% desenvolveram um negócio digital.
Ou seja, quase dois terços (65%) criaram start-ups ligadas ao comércio digital e os restantes são de ideias de negócios, com as principais áreas de atividade a serem media e indústrias criativas, tecnologias da informação e consultoria, que replica parcialmente a tendência em Portugal.
Idade e proveniência
Quase metade (48%) desses empreendedores africanos de start-ups em Portugal tem menos de 35 anos. Por género, as mulheres são em maior número (54%, num total de 108) e a esmagadora maioria (80%) provém ou tem ligações culturais aos países africanos de língua oficial portuguesa. Metade tem mesmo a nacionalidade portuguesa e 19% têm dupla nacionalidade.
Segundo este documento, os afroempreendedores têm elevados níveis de instrução: 76% têm cursos universitários, entre os quais 24% têm o grau de mestre e 3% completaram o doutoramento.
A maioria é multilíngue, com 67% a falar dois ou mais idiomas e 50% com proficiência em português e inglês.
A primeira das três principais motivações para avançarem para a criação de um negócio é a independência financeira, seguindo-se a solução de problemas da sociedade e o interesse pessoal ou paixão.
Relativamente à área de residência, a maior parte (84%) vive na região metropolitana de Lisboa (84%), alinhando com a tendência global de alta densidade populacional nos centros urbanos.
Maioria das start-ups nasceu após o início da pandemia
O estudo, que avaliou também o impacto dos constrangimentos da COVID-19 na criação das start-ups, conclui que 59% surgiram depois do início da pandemia, entre 2020 e 2022.
“A severidade das condições humanas e profissionais enfrentadas durante este período [2020-2022] estimularam o empreendedorismo como sendo uma via a seguir”, explica o estudo.
Em termos de modelo de negócio, a maior parte (61%) são B2C (Business to Consumer).
Quase metade das fontes de financiamento (49%) provêm de familiares e amigos.
O estudo revela que “a falta de literacia financeira e a falta de facilitadores para ligar empreendedores (procura) e investidores (oferta), são os principais fatores limitativos ao acesso às redes de investidores relevantes”.
Outro dado analisado diz respeito ao tempo dedicado ao negócio. Refere esta análise que, no geral, 39% dos “Black Founders” são dedicados em tempo integral aos seus negócios, com uma variação de 65% para fundadores de start-ups e 52% para fundadores de negócios digitais. Por seu lado, 61% dos fundadores inquiridos têm outra ocupação, sendo empreendedores a tempo parcial.
Em termos de número de colaboradores envolvidos, este é o registo:
O estudo conclui que “há talento na comunidade Black Founders em Portugal, com presença de características capacitadoras que os colocam numa posição ideal para serem bem sucedidos no seu percurso empreendedor e tornarem-se fortes contribuidores para os ecossistemas de inovação português e global”.