Começou a acompanhar a Bolsa aos nove anos. “Quinze minutos antes do Telejornal, havia um boletim de Bolsa. Comecei a seguir três empresas. Tinha um caderninho onde todos os dias apontava a evolução”, recorda Pedro Lino. Aos 16 anos, lançou-se na negociação de Bolsa. “Convenci um amigo, que era maior, a abrir uma conta em nome dele com 65 contos.”
Graças a um investimento na Lisnave, tiveram um bom retorno e, um ano depois, já investia o dinheiro dos pais. Mas isso correu muito mal. “Derreti-lhes o dinheiro todo”, confessa.
Apesar dos percalços, Pedro ganhou reputação e dinheiro no mercado accionista nacional. Aos 21 anos, começou a gerir carteiras de alguns clientes da corretora Fincor. “Investia apenas no mercado português, em acções e em futuros”, conta. Aos 25, tornou-se no maior accionista da Dif Broker. “Na altura, a empresa estava numa situação financeira muito má e estava a ser vendida”, lembra.
Hoje, além de Portugal, a Dif Broker tem clientes em Espanha, na Polónia e no Uruguai. Lucrou mais de 1 milhão de euros em 2018. Pedro, agora com 42 anos, tem um novo desafio: internacionalizar a Optimize Investment Partners.
Diz que a sua experiência na expansão da Dif Broker, a sociedade financeira de corretagem especializada em produtos derivados, é uma mais-valia no crescimento da Optimize, que gere 155 milhões de euros, maioritariamente em planos de poupança-reforma e fundos de investimento.
Para começar, a Dif Broker dará uma ajuda à Optimize. Os clientes portugueses e espanhóis da corretora poderão, em breve, subscrever os produtos da sociedade gestora. “Os clientes da Dif Broker estão muito habituados a intervir no mercado de capitais, a comprar e vender acções, futuros e derivados”, esclarece Pedro.
“São pessoas que têm uma pequena parte do património com a Dif Broker, mais vocacionada para o risco. A Optimize tem produtos mais de poupança e mais estáveis, que conferem ao investidor da Dif outro tipo de garantias”, explica.
O grande foco do esforço de colocação dos fundos da Optimize através da Dif Broker será em Espanha. “Cerca de 80% dos clientes da Dif [na Europa] são espanhóis”, revela o presidente da corretora.
Os clientes polacos e uruguaios da Dif ficam, para já, afastados – “investem mais em dólares” –, mas não esquecidos. Aliás, no longo prazo, Pedro quer levar a Optimize para os mesmos mercados que a Dif Broker quer explorar. A próxima meta da corretora: expandir as operações no Uruguai para outros países da América Latina, principalmente Argentina, México, Colômbia e Chile.
Migração para o Luxemburgo
Em 2018, Claire e Diogo Teixeira, então líderes da Optimize, concordaram em vender os 73% que controlavam na sociedade gestora a um conjunto de investidores encabeçados por Pedro. A venda, que será progressiva até ao final de 2020, tornará Pedro no maior accionista da Optimize.
O gestor planeia comprar até 34,4% da gestora. A Dif Broker também participará na operação, podendo adquirir até 26% da Optimize. Jorge Vilar Ribeiro, que, tal como Pedro, é accionista da Dif Broker, comprará 19,9%. (Pedro controla 30,11% da Dif e Jorge Vilar Ribeiro 7,08%). “Vou ser o maior accionista de ambas”, esclarece Pedro, mas acrescenta que o objectivo não é fundir a Dif Broker e a Optimize.
“Há algumas sinergias de custos, como marketing, serviços informáticos, campanhas publicitárias e alguns controlos de compliance e de back office. Mas a grande mais-valia está ao nível dos proveitos”, resume, referindo que assumirá o papel de presidente de ambas as companhias financeiras.
A estratégia para potenciar o negócio da Optimize já está desenhada há alguns meses: com a ajuda do AndBank, um banco andorrano especializado na gestão de activos, a Optimize criará um portefólio de fundos de direito luxemburguês. Posteriormente, os actuais três fundos principais da Optimize – Optimize Investimento Activo, Optimize Europa Valor e Optimize Europa Obrigações – serão fundidos nos novos fundos luxemburgueses. “Não acontecerá nada aos actuais investidores”, explica Pedro. “A longo prazo, queremos aumentar o volume sob gestão para poder diminuir o custo que é cobrado aos clientes”, destaca.
O gestor estima que todo o processo, nomeadamente ao nível das autorizações, constituição e transformação dos fundos em fundos de direito luxemburguês, possa ficar concluído no último trimestre deste ano – a grande vantagem dos fundos luxemburgueses é poderem ser distribuídos facilmente por toda a Europa, além de terem benefícios fiscais para os investidores espanhóis, que podem transferir o património entre fundos do mesmo grupo sem serem tributados.
Os planos de poupança reforma, que absorvem quase metade das aplicações dos clientes da Optimize, e os fundos de fundos Optimize Selecção, desenhados em parceira com a “Proteste Investe”, a publicação de investimento da Deco Proteste, não farão parte do plano de internacionalização.
Com os fundos luxemburgueses criados, a equipa da Optimize procurará listá-los no Allfunds, o maior distribuidor de fundos da Europa, e, eventualmente, no SaxoInvestor, uma plataforma concorrente estreada pelo Saxo Bank no final de 2018.
Pedro conhece bem o Saxo Bank de outras andanças: os clientes da Dif Broker usam a plataforma de negociação do banco dinamarquês. “A nível mundial, somos os segundos” maiores parceiros do Saxo Bank, garante.
Além disso, o negócio uruguaio da Dif foi comprado ao Saxo Bank em 2017. Está previsto que os três fundos luxemburgueses venham a ter companhia no futuro: a Optimize poderá lançar mais dois fundos; pelo menos um deles será em dólares para satisfazer os clientes que estão fora da Zona Euro, como os da América Latina.