Os fundos de índice, usualmente conhecidos pelo acrónimo em inglês ETF (Exchange Traded-Funds), têm a capacidade de agregarem um portefólio suficientemente abrangente por um baixo custo, ou mesmo próximo de zero.
É uma forma barata e simples de ganhar exposição à totalidade do mercado ou a um índice accionista específico. É um mercado altamente apetecível para as empresas de gestão de activos, onde gigantes como a Blackrock, com 1,2 biliões de euros sob gestão, e a Vanguard, com 758 mil milhões de euros, dominam, mas que têm deixado para trás uma franja do mercado.
E são estas migalhas que Mebane Faber, co-fundador da Cambria Investment Management está interessado em acumular e multiplicar até aos milhões.
Na ementa de Faber cabem 11 ETF, incluíndo um que replica o mercado accionista dos EUA. Mas depois há 10 “especiais”. É o caso de um fundo que replica o mercado accionista mundial, com uma sobreponderação a mercados como a Turquia e a Rússia.
Um outro que selecciona obrigações de high yield, mas que define o rendimento uma maneira pouco ortodoxa e ainda um outro que funciona como uma apólice de seguro. Mas, será que se consegue ganhar dinheiro com fundos “esquisitos”?
Talvez. Com cerca de 800 milhões de euros para supervisionar, a Cambria está apenas a atingir o break-even, mas as receitas das comissões que vão surgindo com o dinheiro fresco rapidamente descem para a linha de água. Se um ou dois produtos da empresa forem bem-sucedidos, a Cambria tem razões para abrir o champanhe. “O objectivo é construir algo que consiga escalar para uma dimensão 100 vezes superior”, diz Faber.
Perseguir tal objectivo significa assumir alguns riscos. Considerando que o Global Asset Allocation ETF, um fundo que tem posições em 24 outros fundos – alguns da Cambria – que têm posições em activos tão distintos como obrigações do Tesouro norte-americano e acções internacionais.
“O objectivo é construir algo que consiga escalar para uma dimensão 100 vezes superior”, diz Faber.
Nas acções, a composição do fundo revela uma alocação de 18% em títulos de mercados emergentes, o triplo do normal em fundos mistos, com uma companhia russa, uma turca e uma brasileira nas três maiores posições. Para os clientes, é uma alocação no mínimo intrigante.
Faber até pode estar correcto em relação à sua teoria de que é possível melhorar a rendibilidade de longo prazo investindo em países arriscados.
O preço está correcto, o fundos não tem comissão de gestão e a comissão de gestão global fica-se por uns competitivos 0,33% anuais. Na opinião de Faber, esta é uma aposta que ainda não atingiu a maturidade.
Com 55 milhões de euros em activos, o fundo gera 177 mil euros anuais em receitas oriundas das comissões de gestão, mas apenas dois terços ficam na gestora.
O restante vai para os revendedores e para os restantes fundos presentes no portefólio, a maioria da Vanguard. Neste sentido, Faber mal consegue cobrir os custos fixos da gestão do ETF, como os custos com a custódia de títulos, os serviços legais e os serviços de contabilidade.
Porém, Faber está à espera que a sua aposta nos mercados emergentes “pague a conta” e contrarie os velhos dogmas dos modelos de gestão dos fundos de investimento.
Há cerca de 1,2 biliões de euros aplicados em fundos de investimento mistos tradicionais. “Escolhas fáceis”, diz Faber, para a sua alocação de activos que, em média, têm uma taxa de despesas a rondar 1%, quase o dobro da cobrada pelos ETF.
Fazer diferente
A indústria dos ETF tem duas vantagens ao nível do custo. Ao contrário dos fundos de investimento tradicionais, os ETF não fazem day-trading, nem pagam serviços de análise a acções individuais.
A maioria limita-se a replicar um índice de referência como por exemplo o S&P 500 ou, como os fundos da Cambria, a seguir um índice criado com regras quantitativas (mecânicas).
O marketing de Faber limita-se à produção de relatórios de investimento, sete livros editados e posts em blogues de investimento. O SSRN, um repositório de teses de investigação, guarda um ranking dos relatórios com mais downloads.
Um, sobre a eficiência do mercado, publicado pelo vencedor do Nobel da Economia em 2013, Eugene Fama, está entre os primeiros. À frente, na primeira posição, está um de Faber sobre alocação global de activos.
“Até recentemente, o S&P 500 estava caro, mas com tendência ascendente, mas agora está caro e em tendência descendente”, diz Faber.
Não há motivo para duplicar os ETF de distribuição de dividendos dos gigantes Vanguard e BalckRock, logo, Faber procura inovar ao calcular a yield – taxa de rendimento – dos fundos tendo em conta a taxa de dividendo e o dinheiro que as empresas gastam na compra de acções próprias. É nesta métrica que se baseia o Cambria Shareholder Yield ETF.
No portefólio do ETF notam-se empresas boas pagadoras de dividendos como a O’Reilly Automotive e a United Continental, muito visadas pelos fundos convencionais de rendimento.
Optimista sobre os ETF, como o futuro da gestão de activos, Faber está cauteloso em relação ao comportamneto do mercado accionista, sobretudo do norte-americano. O S&P 500, o índice que reúne as 500 maiores empresas norte-americanas cotadas, negoceia com um preço 31 vezes acima dos lucros por acção, tendo em conta a média dos lucros obtidos pelas empresas que compõem o índice nos últimos dez anos. “Até recentemente, o S&P 500 estava caro, mas com tendência ascendente, mas agora está caro e em tendência descendente”, diz Faber.
A Cambria tem um ETF para ganhar com as quedas do mercado: o Cambria Tail Risk ETF. O nome é uma alusão à figura de sino desenhada pelas variações mais frequentes dos preços das acções ao longo do tempo, e as extremidades “gordas” dizem que há um risco estatístico grande de uma correcção súbita.
O fundo, que usa opções para funcionar como uma espécie de seguro contra as quedas abruptas do mercado, não tem corrido bem. A excepção foi no último trimestre de 2018, quando os mercados corrigiram de forma intensa.
Entre outros temas, a Cambria disponibiliza já ETF que replicam índices de commodities – mercadorias -, companhias de produção e distribuição de marijuana e empresas dirigidas por milionários.
Mas, conseguirá Faber fazê-los crescer 100 vezes, e tornar a Cambria sustentável? A resposta será dada pelos investidores.