Com a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, o cenário está montado para que um dos seus apoiantes mais prolíficos – a pessoa mais rica do mundo, Elon Musk – exerça a sua recém-descoberta influência política e, embora seja um mistério o papel que poderá desempenhar na administração, Musk definiu várias prioridades.
No seu discurso de vitória de 25 minutos, Trump passou quase quatro minutos a falar de Musk, apelidando o diretor executivo da Tesla e da SpaceX um “super génio”, elogiando os lançamentos de foguetões e os programas de Internet por satélite da SpaceX e declarando que “nasceu uma estrela – Elon!”.
Embora Trump não tenha falado em pormenores sobre Musk, que doou mais de 130 milhões de dólares para os esforços eleitorais de Trump este ano, os dois parecem concordar que Musk terá uma grande influência no segundo mandato de Trump.
Depois de apoiar Trump em julho, Musk rapidamente abraçou a ideia de liderar um “Departamento de Eficiência Governamental” (“Department of Government Efficiency” – D.O.G.E.) com o objetivo de cortar 2 mil milhões de dólares ou mais do orçamento federal, enquanto Trump apresentou Musk como o chamado “Secretário da Redução de Custos”.
Ambos indicaram que é improvável que Musk assuma um papel oficial, já que Trump diz que Musk “não quer fazer parte do Gabinete” e Musk refere que “não é necessário nenhum pagamento, nenhum título, nenhum reconhecimento” pelos seus serviços.
Musk declarou que não planeia parar de ter intervenção na política após esta eleição, prevendo intervir nas eleições intermediárias.
Numa entrevista no podcast “Joe Rogan Experience” lançado na noite de segunda-feira, Musk disse que espera “reduzir as agências [federais] para serem muito menores”, pretendendo ainda certificar-se de que “se cinjam ao que o Congresso autorizou em vez de todas essas outras coisas” e “limpe os gabinetes” de regulamentos indevidos e agências federais, acrescentando que se a sua força-tarefa remover “algum regulamento ou agência que estava a fazer algo útil, podemos colocá-lo de volta”.
O que é que Musk disse que faria numa administração Trump?
Numa série de publicações entre terça e quarta-feira na sua plataforma de redes sociais X, Musk ofereceu informações mínimas sobre qual será o seu papel. O homem mais rico do mundo respondeu “acho que sim” a uma imagem gerada por inteligência artificial dele falando numa plataforma D.O.G.E., republicou uma imagem apelidando-o de diretor de tecnologia dos EUA, referiu que o D.O.G.E. será “tão iluminado”, respondeu com emojis de fogo num post pedindo para demitir a chefe da Comissão Federal de Comércio Lina Khan e o chefe da Comissão de Valores Mobiliários Gary Gensler e respondeu afirmativamente a uma mendsagem pedindo para “desmantelar Washington como a conhecemos”. Musk bateu muitas vezes de frente com os reguladores na Administração Biden. A FTC liderada por Khan confrontou o X, então conhecido como Twitter, com uma multa de US $ 150 milhões e ordenou restrições aos métodos de recolha de dados da empresa de redes sociais para publicidade, e a SEC (equivalente à portuguesa CMVM) liderada por Gensler “lutou” com Musk sobre o uso do Twitter no contexto do seu papel na Tesla, que remonta a um polémico tweet de 2018 em que Musk disse que garantiu o financiamento necessário para tornar a Tesla privada.
Como é que Musk poderia beneficiar de uma administração Trump?
Há uma série de processos judiciais e inquéritos governamentais contra Musk e as suas empresas, o que significa que ele iria provavelmente desfrutar do clima regulamentar mais leve apresentado por Trump. Entre as questões legais e regulamentares que Musk enfrenta estão um recurso para restabelecer o seu bónus de 50 mil milhões de dólares em ações da Tesla, rejeitado por um juiz de Delaware em janeiro, uma investigação sobre os sistemas de condução autónoma da Tesla por parte da Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário e um aviso do Departamento de Justiça sobre os prémios de 1 milhão de dólares do America PAC a certos eleitores de swing-state. E a Tesla, que é responsável por mais riqueza de Musk do que qualquer outra das suas empresas, pode receber um impulso das propostas económicas de Trump, que provavelmente prejudicariam os seus concorrentes de veículos elétricos, um benefício que se reflete na enorme subida das suas ações na quarta-feira: as ações da Tesla dispararam 14% para o seu nível mais alto desde julho passado, adicionando 20 mil milhões de dólares para a fortuna de Musk. “A grande aposta de Musk em Trump [é] um homerun para a Tesla”, disse Dan Ives, analista da Wedbush. A proposta de Trump de acabar com os créditos fiscais federais para veículos elétricos “poderia dar a Musk e à Tesla uma clara vantagem competitiva num ambiente sem subsídios para veículos elétricos”, escreveu Ives aos clientes, acrescentando que as pesadas tarifas sobre as importações chinesas “continuariam a afastar os construtores chineses de EV mais baratos de inundar o mercado dos EUA nos próximos anos”.
Quando é que Musk se tornou um aliado de Trump?
Musk apoiou Hillary Clinton em 2016 e disse que votou em Joe Biden em 2020. A sua mudança para a direita coincidiu com a compra do Twitter em 2022 e, em junho desse ano, disse que votou pela primeira vez num candidato republicano para a antiga deputada do Texas Mayra Flores. Em novembro daquele ano, Musk disse que apoiaria o governador da Flórida Ron DeSantis (Republicano) na eleição presidencial, eventualmente endossando Trump em julho após a tentativa fracassada de assassinato de Trump, juntando-se inclusive a Trump na campanha nos meses subsequentes.
Empresas milionárias
A SpaceX e a Tesla de Musk estão entre as empresas mais valiosas do mundo, sendo a SpaceX, gigante aeroespacial, a segunda maior empresa privada do mundo, com uma avaliação de 210 mil milhões de dólares, e a Tesla, empresa de veículos elétricos, a décima maior empresa, com uma capitalização bolsista de mais de 900 mil milhões de dólares. Musk detém uma participação de 42% na SpaceX e de 13% na Tesla, além de controlar a X, a plataforma anteriormente conhecida como Twitter, e a startup de IA generativa xAI. Musk, nascido na África do Sul, é de longe a pessoa mais rica do mundo, com um património líquido de cerca de 280 mil milhões de dólares, mais de 60 mil milhões de dólares do que o segundo homem mais rico, o fundador da Amazon, Jeff Bezos.
Derek Saul/Forbes Staff