EC Travel: “Já trouxemos cerca de 400 mil pessoas para Portugal”

O setor do turismo atravessou em 2010 um cenário de crise com várias empresas dos diferentes segmentos a fechar portas. É no meio deste cenário que a veia empreendedora do empresário algarvio Eliseu Correia fala mais alto e cria a EC Travel, que tem o estatuto de Destination Management Company (DMC), uma entidade que vende…
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A EC Travel já conta como principais mercados emissores Portugal, Espanha, Reino Unido, Holanda, Irlanda e Alemanha. O fundador, Eliseu Correia, revela que a empresa está a conquistar clientes no turismo de luxo e que o futuro passa por mais negócios de qualidade e de gama mais alta.
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O setor do turismo atravessou em 2010 um cenário de crise com várias empresas dos diferentes segmentos a fechar portas. É no meio deste cenário que a veia empreendedora do empresário algarvio Eliseu Correia fala mais alto e cria a EC Travel, que tem o estatuto de Destination Management Company (DMC), uma entidade que vende pacotes de serviços a operadores turísticos offline e online, grossistas, que depois os vendem a retalhistas e consumidor final. Apesar da surpresa que esta decisão do empresário causou no mercado, a verdade é que desde então a Eliseu Correia Viagens e Turismo tem conseguido conquistar o seu espaço no mercado fazendo, como gosta de realçar, mais com menos, a registar crescimento na faturação e a ser o parceiro também no chamado turismo de luxo que traz ao País clientes com um nível de exigência que obriga a ter uma solução tailor made e pacotes que podem atingir os 100 mil euros. Em entrevista à Forbes Portugal, Eliseu Correia detalha a estratégia de crescimento e destaca também aquele que considera ser o seu melhor ativo: a equipa.

 

A EC Travel nasceu em 2010 e tem vindo a destacar-se enquanto Destination Management Company. Como é que descreve a identidade da empresa tendo em conta o contexto do turismo nacional e internacional?

A EC Travel é um dos principais players a nível nacional, com uma estrutura de escritórios que abrange o país inteiro. O nosso posicionamento sempre foi, não sermos os maiores, mas sermos os melhores. Desde o início, há cerca de 15 anos, sempre quisemos ocupar um espaço pela qualidade e depois o resto viria por arrastamento. Os nossos mercados essenciais são o Reino Unido, Espanha, Holanda, Irlanda e Alemanha, como é óbvio. Eu sou native speaker alemão, então isso foi por arrastamento. Sempre tivemos, no mercado, uma forma diferente em termos de comunicação, em termos inclusive na forma um pouco rebelde e irreverente de estarmos no próprio negócio. As ADMC antigamente era aquilo que se chamava uma agência de incoming, que era uma coisa muito tradicionalista. A ideia foi quebrar um pouco com os dogmas dentro daquilo como as empresas comunicavam e como elas posicionavam o mercado e ser um bocadinho out of the box. E isso tem sido o lema desta casa.

Nessa ótica de fazer diferente ou ser out of the box, quais são as características que diferenciam a empresa?

Hoje em dia quando se fala nas empresas utiliza-se muito o termo família. Nós fomos, possivelmente, os primeiros a utilizar essa termologia, porque quando criei EC Travel, sempre foi a minha preocupação primeiro criar uma empresa em que as pessoas se sentissem em casa, onde realmente as pessoas colaboram e estão em casa, em que são a primeira preocupação. Temos todos a noção, e hoje em dia já se fala muito mais nisso do que há 15 anos, que são as pessoas que fazem a diferença. Também na forma como nós nos relacionamos com o meio em que estamos inseridos. A EC Travel sempre teve uma grande preocupação e vocação solidária. Desde logo que tivemos a capacidade financeira de o fazer, começamos a apoiar instituições. Hoje o valor que apoiamos anualmente as causas em que estamos inseridos, multiplicou por 30 face aos primeiros apoios que demos e continuamos todos os dias a estar na linha da frente. Quando houve o Covid, ainda mais necessário foi estar nessa linha da frente. Com tal, sempre houve essa preocupação, não só de nos relacionarmos bem em casa, não só nos relacionarmos bem com o meio que nos envolve, mas também na forma como se explicava e utilizava o paradigma da relação cliente-fornecedor, de ser completamente diferente em termos de aproach. Tanto é que criamos a gala EC Travel, que não era mais do que um get together anual para agradecer o apoio que toda a gente nos deu, tanto os nossos fornecedores como os nossos parceiros. Um evento onde nós pudéssemos conviver uma vez por ano, para agradecer todo o apoio que nos tinham dado durante a época, isso faz parte do nosso ADN.

E como é que a empresa tem adaptado os seus serviços às novas exigências dos viajantes, internacionais e também nacionais, e tendo em conta também que passámos por uma pandemia que obrigou também o setor do turismo a fechar?

No início de março de 2020, estávamos cerca de 35% acima do ano anterior. Ou seja, no ano anterior tínhamos ultrapassado a fasquia dos 30 milhões de euros de faturação, e estávamos a toda velocidade a apontar para os 40 milhões. Acontece o Covid e, em três semanas, passei de 35% acima para zero. E quando eu digo zero, é zero. E pior ainda, não só estar a zero, como não saber nem como nem quando é que o negócio iria retomar, numa incerteza absoluta e total, e que obviamente causou muita mossa, tanto a nível da empresa em si, como em todos os seus colaboradores e pessoas que eram os nossos parceiros e afins.

Foi necessário mudar a estratégia…

Obviamente que tivemos de mudar o paradigma da empresa porque tivemos de apostar mais nos mercados de proximidade porque eram os únicos que podiam chegar a nós através de estrada. Ou seja, começar a apostar cada vez mais no mercado nacional e no mercado espanhol. E que ainda hoje, volvidos cinco anos, esses mercados continuam a ser, neste momento, os nossos mercados praticamente dominantes. Foi uma solução, uma mudança estratégica na altura, e que ainda hoje se mantém, não como uma mudança pontual, pelo contrário. Como agradecimento pela forma como as pessoas nos apoiaram, continuamos, cada vez mais, a apostar no mercado nacional. E como é óbvio, a tecnologia é a essência do nosso negócio, em termos de ferramenta de comunicação, tanto com clientes, como com fornecedores. Nos últimos 15 anos, obviamente, tivemos uma grande evolução. As ferramentas disponíveis em 2025, são completamente diferentes das ferramentas que tínhamos em 2010. Por isso, essa será, por arrastamento e quase por necessidade de sobrevivência, a grande mudança em termos da forma como comunicamos dentro do próprio negócio.

Há quase uma obrigação para se adotar as novas ferramentas tecnológicas…

Sem dúvida. Até porque nós nascemos, exatamente, para preencher aquilo que chamamos o mercado online travel agent, as OTA, ou seja, o mercado online, não o operador tradicional, mas sim, o operador digital, e o que acontece é que o digital, obviamente, evoluiu muito nos últimos 15 anos. Nós fomos pioneiros na forma em que entrámos no mercado e nos posicionámos, porque o que acontecia na altura é que, em 2010, havia uma série de empresas a fechar. Aliás, foi em plena crise que nasce a EC Travel. Então, no turismo, basicamente, todos os dias fechava uma empresa de incoming. Quando abri a empresa, até houve uma certa, não é desconfiança, mas surpresa de como é que numa altura em tantas empresas estavam a fechar, eu estava a atrever-me a abrir uma, em contraciclo e em contracorrente. Na realidade, só havia as empresas muito grandes e as empresas pequenas, e não havia aquela empresa que não era grande nem pequena e que ocupava aquele espaço intermédio para poder servir os clientes certos, e foi por aí que nós evoluímos.

Em termos de expansão qual a estratégia que está, neste momento, a ser seguida?

Nós temos sempre a preocupação por aquilo que chamo de estratégia de proximidade. E nessa estratégia, para se ter o melhor produto e o melhor serviço, temos de estar próximo dos nossos parceiros. Isto significa que, este ano, abrimos nos Açores. Como é conhecido, já estamos na Madeira e Lisboa. E os Açores tem crescido exponencialmente, daí a preocupação, imediatamente, depois de esperar pelo timing certo, abrir o escritório, que foi o que aconteceu no final do ano passado e início deste ano, entre a decisão e a própria abertura.

A proximidade acaba por ser um ativo essencial para a EC Travel?

Ao fim ao cabo, nós somos os intermediários dos intermediários. Isso significa que temos de estar o mais próximo possível dos nossos parceiros, do nosso país, com o intuito de se houver alguma situação, tanto com o fornecedor como com o cliente, nós possamos estar estrategicamente perto dessa situação, para que se possa rapidamente resolver qualquer situação menos agradável que possa surgir. Sempre disse que o nosso lema era fazer mais com menos, tanto e assim é que, na realidade, a EC Travel tem a faturação que tem, tem a cobertura que tem, e tem apenas 21 funcionários a contar comigo. É uma estrutura muito leve para aquilo que fatura, é o verdadeiro slim management, acho que a EC Travel é o paradigma disso mesmo.

Como é que se têm posicionado face às novas tendências no turismo como o segmento de luxo, o corporativo e turismo sustentável?

Normalmente nós estamos sempre um pouco à frente das tendências. Por exemplo, já somos o agente da Emirates há muitos anos. Hoje quando se fala no tal taylor made, ou mesmo no superluxo, nós já colaboramos nesse segmento há muito tempo e sempre percebemos que, ao fim e ao cabo, somos comissionistas e quanto mais alto fosse o preço da transação do negócio em si, maior seria a fatia em termos de rentabilidade que sobrava para a empresa. Enquanto a maioria se preocupava em vender pelo preço mais barato, aqui sempre foi a preocupação de ir à procura dos clientes certos para os produtos de excelência, para ajudar os produtos de excelência que, na altura não estavam assim tanto na moda como estão hoje, e aumentar as margens de lucro que é essencial para qualquer empresa.

Há exemplos concretos que possa referir, que traduzam este produto de excelência que procuram prestar?

No caso da Emirates é um bom exemplo porque temos clientes que chegam a ocupar um piso inteiro. Para termos uma noção do impacto e da especificidade que esse cliente tem, obviamente, há a necessidade de limusine, tem a necessidade de uma panóplia de serviços e exigências que faz parte deste serviço personalizado. Poderia agora falar de alguns hotéis com os quais eu trabalho, mas seria um pouco deselegante estar a mencionar uns e não mencionar outros. Mas para que as pessoas entendam há realmente clientes de altíssima exigência e que não é só nos filmes que aparecem os Sheiks. É uma realidade, especialmente, em Lisboa, que acontece com alguma frequência. São clientes com um nível de exigência tremendo, mas também é pago para isso. E nós aqui não temos medo da exigência. Aliás, procuramos a exigência e ela começa em nós.

Mas um pacote para este tipo de serviço de que valores se está a falar?

Tivemos um cliente que esteve cá cerca de quatro semanas e estamos a falar entre os 80 e 100 mil euros. É um exemplo muito concreto daquilo que pode ser. E, referir que, Lisboa há 10 anos não era tão – vou utilizar o termo clichê –, sexy. Hoje Lisboa é muito sexy. O Porto, cada vez mais, também atrai esse tipo de cliente. Óbvio que não vou dizer que o core da EC Travel é o cliente de exigência máxima porque o turismo de luxo não permite faturações iguais à nossa. Ou seja, o turismo de luxo é uma franja importante pela rentabilidade que tem. Em termos de share que tem o nosso negócio, ainda continua a estar abaixo dos 10%, mas já chegou a ser um. Ou seja, a tendência veio para ficar. Isso quer dizer que somos um País que, com tanta crítica que existe, estamos parabéns porque, na realidade, Portugal tem dos melhores profissionais do mundo, tem dos melhores produtos do mundo, das melhores praias, da melhor gastronomia, etc. E a nível da hospitalidade, que ninguém me leve a mal, mas considero que Portugal é, sem dúvida, o grande destino. Para não falar na segurança, que hoje é crucial na escolha do destino. Por isso nós devíamos estar todos muito orgulhosos daquilo que somos em termos turísticos.

Em termos de futuro como é que imagina a evolução da EC Travel?

No dia 30 de novembro deste ano vamos fazer quinze anos e projetando os próximos cinco anos, acho que é assentado nos pilares que nos trouxe até aqui, que é transparência, honestidade, amizade, a ética, a forma diferente que nós temos de estar, a própria forma como internamente comunicamos em que realmente o chain of command é muito curto e a própria empresa tem poucas pessoas, mas são muito boas. A minha equipa, como costumo dizer, é a melhor equipa do mundo. É difícil fazer uma futurologia para daqui a cinco anos porque não há nenhum negócio no mundo mais sensível a fatores externos do que o turismo. Nós assistimos, por exemplo, a um mundo em conflito cada vez mais alargado, basta ver o que se passa na Ucrânia e na faixa de Gaza e outros focos de instabilidade que possam surgir e quando eles surgirem, o nosso negócio será o primeiro a ser atingido por essas situações. Por isso, nós teremos de ser aquilo que fomos durante o Covid porque foi o maior desafio a qualquer gestor em qualquer área que nos obrigou a criar soluções rapidamente e a manter a liderança em condições desumanas, praticamente. Eu orgulho-me de uma coisa e que ouço várias vezes, que é não deixei ninguém para trás. Ou seja, de todos os que estavam em casa, não só os mantive todos, como paguei os vencimentos na íntegra durante todo o período em que estávamos inibidos de exercer as nossas profissões com o brilho e dignidade que nos caracterizam.

Serão anos de crescimento?

Estou muito confiante e estou muito otimista para os próximos cinco anos, porque sei a equipa que tenho, a capacidade de resposta que tem e estou seguro de que rapidamente responderá a qualquer desafio. Vamos manter-nos obviamente cada vez mais fortes no mercado nacional e no mercado de proximidade, que é o mercado de Espanha, para não falar nos nossos mercados core, o Reino Unido e afins, que continuam a estar sempre na nossa preocupação e à procura de mais negócios de qualidade e de gama mais alta do que propriamente massificação.

E acredita que a EC Travel tem desempenhado o papel de projetar Portugal como destino turístico?

Isto vai parecer muito mal, mas acho que Portugal tem todas as razões para se sentir muito orgulhoso da EC Travel. Na realidade, dentro de portas, já fomos distinguidos praticamente uma dezena de vezes em várias frentes, desde a melhor equipa para trabalhar, desde a melhor PME do ano, etc. Ou seja, há um grande reconhecimento entre portas da nossa capacidade. Lá fora, eles não têm os grandes hábitos de atribuir grandes reconhecimentos públicos aos parceiros, mas se uma empresa que começou a faturar seis milhões de euros em 2011 e trazia cerca de 25 mil pessoas para Portugal, hoje em dia traz cerca de 400 mil em 15 anos. Eu acho que só isto diz muito sobre aquilo que nós temos feito, não só pelo meu Algarve, onde isto tudo nasceu e onde temos o nosso core, e é a terra que me está mais próxima, mas como todo o País. Por isso, acho que honestamente, temos muito orgulho em termos da bandeira portuguesa e acho que Portugal também deve se orgulhar da EC Travel.

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