Hoje comemora-se mais um Dia Internacional da Mulher, proclamado pelas Nações Unidas desde 1977. Mas aos dias de hoje as desigualdades de género continuam a ser uma realidade. Com o objetivo de apresentar recomendações para corrigir os desequilíbrios de género e garantir uma recuperação económica equitativa na pós-pandemia da Covid-19, o grupo The Women 20 (W20), realizou o relatório “If not now, when?: A roadmap towards a more gender-equitable economic recovery” em parceria com a consultora Accenture.
Uma das conclusões desta análise da Women 20 refere que o impacto desproporcional da propagação da Covid-19 sobre as mulheres pode ter acrescentado 51 anos ao tempo que se levará para alcançar a igualdade de género, isto se não forem adotadas medidas imediatas.
O estudo sublinha que, desde a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, e sendo as mulheres a maioria dos profissionais de saúde e assistência social da linha de frente estas “continuam a arcar com um fardo maior de trabalho de assistência não remunerado dentro das suas famílias e comunidades”. Por isso, realça que face à pandemia, “o mundo deveria ter voltado sua atenção para as mulheres desproporcionalmente afetadas, mas, em vez disso, elas foram deixadas para suportar o impacto de uma crise multidimensional”.
O relatório “Se não for agora, quando? Um Roteiro para uma Recuperação Económica Mais Equitativa de Género”, assenta num conjunto de recomendações para lidar com as crescentes desigualdades de género e garantir uma recuperação económica igualitária. De acordo com os promotores do estudo, o assumir de um compromisso com estas recomendações iria acelerar o progresso e ajudaria a compensar os impactos da pandemia, contribuindo para se alcançar a igualdade de género em 2061.
Citada no estudo, a presidente do W20 – Arábia Saudita 2020, Thoraya Obaid, salienta que a “Covid-19 e o choque económico subsequente destacaram desigualdades preexistentes e vulnerabilidades profundas nos sistemas sociais, políticos e económicos em todo o mundo”. Thoraya Obaid destaca que “a escala e a profundidade da crise na vida das mulheres oferece uma oportunidade para os líderes do G20 redefinirem as suas economias com base na participação plena e igualitária das mulheres”. Isto porque “a omissão de ação pode retardar o caminho para a igualdade de género em mais de 50 anos. Mas o compromisso total dos líderes do G20 com nossas recomendações faria ganhar isso de volta e muito mais”.
Entre alguns dos impactos negativos da pandemia no sexo feminino, o estudo detalha que as mulheres viram os seus ganhos cair quase dois terços mais acentuadamente do que os homens, caindo 16,5% em média desde o início da pandemia, em comparação com uma queda de 10,1% para os homens. A proporção de mulheres com acesso fácil a cuidados de saúde, incluindo serviços maternos e reprodutivos, caiu mais da metade, de 69% antes da pandemia para apenas 32%.
Metade das mulheres afirma que os níveis de tensão e stress nas suas famílias são altos, era apenas 15% na pré-pandemia. Mais de duas em cada cinco entrevistadas (42%) acreditam que o seu governo falhou em contabilizar o impacto da Covid-19 nas mulheres. A análise online mostra ainda um aumento de 7% na discussão em torno do tema da igualdade de género entre 2019 e 2020.
Em suma, as disparidades de género aumentaram nos últimos meses e, se não forem corrigidas, provavelmente vão prolongar o tempo que se levaria para alcançar a igualdade de género. No entanto, o relatório do W20 mostra que, se os líderes do G20 se comprometerem totalmente com as recomendações apresentadas pelo grupo, “o caminho para a igualdade de género poderia ser significativamente reduzido”.
Produzido em colaboração com a Accenture Research and Quilt.AI, o relatório “If not now, when?: A roadmap towards a more gender-equitable economic recovery” baseia-se numa pesquisa com sete mil adultos em sete países conduzida em agosto de 2020 e análises online comparando a discussão sobre igualdade de género entre 2019 e 2020 com foco em dez áreas diferentes, incluindo saúde, educação, emprego e inclusão digital.
O The Women 20 (W20) visa garantir que as considerações de género sejam integradas nas discussões do G20 e traduzidas na Declaração dos Líderes do G20 como políticas e compromissos que promovem a igualdade de género e empoderamento económico das mulheres. O W20 é formado por uma rede transnacional de delegados que representam organizações não-governamentais de mulheres, sociedade civil, mulheres empresárias, empresas e grupos de reflexão em todos os estados membros do G20.