Vêm aí o inverno e com ele as inevitáveis e, por vezes, intensas chuvas, que provocam inundações. Todos os anos, em todo o mundo, milhares de automóveis ficam debaixo de água por causa de cheias. Se a maioria acaba como salvado e vai direto para a sucata, há, porém, alguns que são reparados e exportados para outros países.
Segundo Matas Buzelis, especialista da carVertical, empresa de dados automóveis, pode ser difícil identificar se um veículo já sofreu uma inundação. É que alguns problemas só começam a manifestar-se depois de algum tempo.
Vendedores tentam esconder sinais de inundação
Segundo a carVertical, muitos automóveis danificados por inundações chegam à Europa vindos dos EUA. No entanto, países como a França, a Alemanha, a Itália, e a Bélgica, também sofrem cheias.
“A água pode danificar o sistema elétrico, o motor, e vários componentes mecânicos do veículo. Embora os vendedores sequem e reparem o automóvel, as verdadeiras consequências da inundação podem só começar a fazer-se sentir seis meses após a compra do automóvel”, afirma Buzelis.
Como os condutores tendem a evitar veículos danificados por inundações, os vendedores desonestos costumam esconder o passado do veículo inundado. Se não o fizerem, o carro pode ser difícil de vender ou exigir uma redução significativa do preço. Então, que sinais nos podem indicar que um automóvel foi vítima de uma inundação?
Mau cheiro no habitáculo
Se um carro tiver passado muito tempo dentro de água, é quase impossível limpá-lo na totalidade, até que a água seja removida de todos os cantos e recantos do habitáculo. Por isso, o cheiro a mofo no habitáculo é o primeiro sinal de que um veículo esteve numa inundação.
Buzelis aconselha a ligar o ar condicionado durante a inspeção ao automóvel – um mau cheiro indica que há humidade, bactérias e bolor no interior do sistema de ar condicionado. Os vendedores fraudulentos utilizam vários ambientadores no habitáculo para enganar os compradores e mascarar odores desagradáveis.
Sinais de humidade: dos faróis à bagageira
Independentemente da diligência dos vendedores em tentar secar o carro, há várias áreas que podem indiciar danos causados por inundações. Faróis e farolins traseiros embaciados por dentro significam que o veículo pode ter estado inundado. Também é aconselhável examinar minuciosamente a bagageira e verificar a área do pneu sobresselente, uma vez que é frequente encontrar aí vestígios de humidade.
“Os estofos dos bancos dos automóveis danificados por inundações costumam ser substituídos – por vezes, até substituem os próprios bancos. Se vai comprar um carro de 10 anos e os bancos estiverem impecáveis, é sinal de que podem ter sido substituídos recentemente. Nesse caso, pergunte ao vendedor porque é que a substituição foi feita”, explica Buzelis.
Água salgada causa mais danos
Todos os automóveis enferrujam, especialmente os que são utilizados em climas frios. No entanto, um veículo danificado por uma inundação pode ser mais gravemente afetado pela corrosão. Os compradores devem ter atenção às dobradiças das portas, aos parafusos do habitáculo, aos fechos da bagageira, às molas dos bancos e ao porta-luvas – estas zonas podem apresentar sinais de corrosão.
Se um automóvel foi submerso em água salgada, a corrosão será mais grave do que num automóvel que sofreu uma inundação de água doce.
Falhas do sistema elétrico
Os automóveis modernos têm vários dispositivos elétricos que podem ser danificados de forma irreparável pela água. Ao testar um automóvel, deve sempre verificar se todo o equipamento elétrico está a funcionar corretamente – desde os reguladores dos vidros até ao computador de bordo ou ao sistema multimédia.
Ao comprar um veículo, pode ser difícil avaliar o estado do sistema elétrico: os contactos afetados pela corrosão podem causar problemas elétricos meses após a compra. Mesmo que o carro tenha sido reparado na perfeição, isso não significa que não venha a revelar-se uma grande dor de cabeça mais tarde.
Relatório histórico pode revelar inundação
Antes de decidir se o carro vale o preço pedido, convém verificar o seu historial. Os compradores devem prestar atenção aos países onde o automóvel já foi utilizado e se existe a possibilidade de ter estado numa zona inundada em algum momento.
Os relatórios da carVertical, refere esta empresa, incluem essa notificação graças à sua nova funcionalidade, “Desastres Naturais”. Embora isto não signifique necessariamente que o veículo tenha sido inundado, pode indicar que esteve numa área que sofreu recentemente uma inundação. Este facto pode ser mencionado ao mecânico para que o avalie cuidadosamente na oficina.
“Um automóvel danificado por uma inundação pode não só acarretar custos elevados de reparação, como também não ser seguro para conduzir. É melhor evitar estes veículos, por muito bons que pareçam por fora”, afirma Buzelis.