O projeto Torre de Palma Wine Hotel, no Alentejo, nasceu pela mão de Ana Isabel e Paulo Rebelo, ambos do mundo farmacêutico. Hoje é a filha Luísa Rebelo que assume os comandos da empresa que contempla a produção de vinho e um hotel de charme de cinco estrelas, em Monforte. Agora que comemora o 10º aniversário, Torre de Palma lança aquele que considera ser o seu topo de gama: o Reserva da Família Tinto 2017. Para criar o blend perfeito a marca conta com o enólogo Duarte de Deus, que é o responsável pelo desenvolvimento dos vinhos da adega de Torre de Palma. Em entrevista à Forbes, à margem do evento de lançamento do Reserva da Família Tinto 2017, Duarte de Deus revela que este topo de gama para o segmento premium tem o cunho de ser o embaixador da Torre de Palma, do Alentejo e de Portugal.
Em termos de lançamentos da marca Torre de Palma?
Neste momento estamos a lançar os projetos que idealizamos para um portfólio de vinhos. Estamos a lançar o Reserva da Família e Tinto 2017, foi o vinho que considerámos que iria ser um grande embaixador da Torre de Palma, do Alentejo e de Portugal. O vinho que teve bastante tempo em estágio de barrique, de tonel, 24 meses e depois todos estes anos em garrafa até ao que estamos a partilhar agora com todos os nossos clientes.
Como é que estes vinhos se diferenciam no segmento premium? A grande diferença está em tudo o que constitui o vinho. Começando na vinha, nas castas, na região, no tipo de solos. Portanto, interpretando todos estes fatores, interpretando e pegando no desafio do produtor da família e na vontade de querer fazer bem feito e termos tempo, que o tempo é muito importante nestes vinhos de segmento premium, conseguimos, de facto, trazer o vinho que para mim reflete um grande tesouro do Alentejo, a alma, e reflete um pouco dos vinhos que vão ser partilhados nas próximas gerações. Portanto, é um legado que estamos aqui a construir para as próximas gerações.
Por ser premium, não serão grandes quantidades. É possível detalhar alguns números?
No caso do tinto, estamos a falar de 3.300 garrafas, que não fazemos todos os anos. Temos 2017, iremos ter um 2019, que ainda não sabemos quando é que estará pronto para lançar, e depois o tempo dirá as novas colheitas. No caso dos brancos, temos conseguido fazer todos os anos desde 2017. Portanto, nos brancos, as castas têm sido mais nossas amigas e conseguimos, de facto, mostrar todos os anos esta gama premium do Reserva de Família.
E são vinhos apenas para o mercado português ou poderão ter alguma quantidade fora de Portugal?
O próprio projeto Torre de Palma está virado para o mundo. Portanto, muito no mercado português, mas sempre o olhar lá para fora. Hoje encontramos estes vinhos de nicho nos quatro cantos do mundo. Desde os Estados Unidos, no Canadá, um bocadinho por toda a Europa, Angola, Ásia. O que nós queremos é fazer parte das melhores garrafeiras, dos melhores restaurantes e wine bars, e que seja uma garrafa que vá para a mesa daquela família que vai beber o vinho e que as pessoas digam assim, “quando for a Portugal, eu quero visitar esta quinta, porque, de facto, os vinhos assim o merecem”.
Mas já estão a ser comercializadas nos países que referiu?
Sim, já estamos a comercializar nestes países todos, já estamos a vender. Neste momento, é cerca de 50% de exportação e o restante é mercado doméstico.
E aqui em Portugal, os oriundos destes países já procuram a vertente turística de Torre de Palma?
Já procuram. É incrível, digo que é um projeto no meio do nada. Estamos no meio de um Alentejo espetacular e hoje temos a sorte de ser visitados por clientes de toda a parte do mundo. E são clientes que, quando visitam a Torre de Palma, levam daqui grandes recordações e chegam a casa e contam aos amigos, à família, e dizem, olha, quando forem a Portugal, têm de ir visitar. Portanto, o melhor passa à palavra é quando nós temos um amigo ou um familiar dizer, quando fores àquele país, tens de ir visitar. E nós acreditamos e vamos.
E inovação está sempre presente?
A inovação faz parte do ADN da família Barradas Rebelo. Toda a inovação que eles têm tido na sua carreira da parte farmacêutica, de indústria, passaram-nos também este bichinho para a parte dos vinhos. Nós hoje olhamos para as sete castas que temos em Torre de Palma, para os vários microterroais que temos e tentamos interpretar as castas dentro daquela micro-parcela de terra. Depois o que fazemos é testes na adega. Dentro dos pequenos lagares de mármore onde pisamos as uvas a pé, temos a capacidade de isolar aqueles pequenos lotes para depois fazer estes ensaios de longevidade e perceber o que é que a casta nos vai dar. Hoje temos lagares de mármore, temos depósitos de cimento na adega, temos barricas de carvalho francês que compramos novas e usadas, estamos a fazer ensaios com a casta tinta miúda em barrica de carvalho português e temos ânforas italianas. E estas ânforas italianas, aqui mais uma vez a inovação aliada à história, que vem buscar um bocadinho da história, só um bocadinho, porque a história de Torre de Palma é muito longa, já tem mais de dois mil anos e vai buscar esta história da parte romana, da vila romana de Torre de Palma.
A presença romana é uma constante…
Quisemos trazer a técnica romana de estagiar os vinhos em ânforas, estagiar as uvas a pé e conseguimos recuperar um mosaico, que é o cor das musas e dar vida a este vinho, neste caso que é o Musas. Portanto, aqui foi um bocadinho esta inovação. E no caso do Musas tem uma parte muito interessante que é a mistura de duas castas, uma branca e uma tinta. E o vinho é tinto, ele não altera a cor, altera o perfil, o sabor da uva.
E ainda poderão ter mais dois lançamentos?
É o caso do Musas. Exatamente, vamos ter uma trilogia, já temos um tinto, e vamos ter um branco e um rosé. Portanto, este mosaico cada vez está a ganhar mais vida, das nove musas, agora já conta com três vinhos, e queremos também fazer aqui algo especial para marcar o lançamento deste vinho. Posso já adiantar que queremos fazer um almoço romano em Torre de Palma, com todo o receituário romano que havia na época e fazer uma harmonização com os nossos vinhos.
E será para quando?
Vai ser, seguramente, no primeiro trimestre de 2025.
Olhando para o portfolio de Torre Palma, o que é que ainda falta lançar?
Acho que nós falamos tanto em castas e hoje os nossos vinhos são maioritariamente feitos por algumas misturas das castas. No futuro queremos isolar as castas em extremo. Portanto, queremos pegar nas sete castas e fazer sete monovarietais. Não vai ser tudo no mesmo ano, vai ser de forma sequencial. E levar as pessoas ao campo, abrir perfis no terreno, rasgar a terra, mostrar onde é que aquela vinha, as raízes estão implantadas e dizer, este vinho é assim porque a vinha está aqui e produz vinhas com estas características. Portanto, quem manda é a vinha. E o clima manda na vinha.
Como é ser enólogo atualmente em Portugal?
É um privilégio. É um privilégio poder partilhar e participar de uma tradição que já remonta aos nossos antepassados. Eu cresci no Alentejo, defendo o Alentejo com unhas e dentes, defendo Portugal enquanto país vitícola de uma forma muito forte e digo que temos, de facto, muita qualidade em Portugal. E não nos podemos esquecer da tradição de beber um copo de vinho de forma moderada, à mesa, porque esta tradição de celebração do vinho à mesa, com o azeite, com a gastronomia regional, faz parte da nossa dieta mediterrânea. É algo que já vem dos nossos antepassados e acho que merece ser perpetuado por muitos mais anos.