Na Idade Média as crianças poderiam ser presas se os seus pais morressem atoladas de dívidas. Hoje, as dívidas são tratadas como um mal menor. Crescem a um ritmo vertiginoso e passam de geração em geração como uma herança pesadíssima e sem grandes “pesos na consciência” por parte dos mais velhos.
O monstro da dívida nacional é disso um claro exemplo: se em 1990 a dívida líquida externa de Portugal era inferior a 20% do produto interno bruto (PIB), hoje ascende a mais de 100% da riqueza nacional. A agravar a situação está a fraca pujança da economia nacional que, nos últimos 10 anos, registou mesmo o pior crescimento dos últimos 90 anos da sua história.
Para os credores de Portugal estes são números preocupantes. Mas também para as famílias, que mais do que nunca têm de se preocupar em conjugar primeiro o verbo “poupar” e só depois o verbo “gastar”. Fechar os olhos a esta realidade poderá mesmo significar hipotecar o futuro dos mais novos.
Não é para menos: de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os portugueses poupam apenas 4,2% do rendimento disponível – é o valor mais baixo desde pelo menos 1960; e muitos alegam que não fazem qualquer tipo de poupança, diária, semanal, mensal ou anual. Por tudo isto é que o dia 31 de Outubro não deve passar impune.
No final deste mês celebra-se mais um Dia Mundial da Poupança – será o 92.º aniversário desde que foi estabelecido em 1924, no âmbito do primeiro congresso internacional de economia, que ocorreu em Itália.
São muitas as ofertas que bancos e outras entidades preparam para estimular as famílias portuguesas a encherem o mealheiro neste dia. Num tempo particularmente marcado pelas baixas taxas de juro dos depósitos, não será difícil o seu banco soltar um pouco da sua graça neste dia. Esteja atento. Contudo, tão ou mais importante do que encontrar os melhores produtos, o sucesso de uma boa poupança está na estratégia e na disciplina de poupança ao longo dos anos.
Investir na educação dos mais novos
O maior investimento das famílias está longe de ser o carro, a carteira de acções ou mesmo a casa onde vivem. O principal investimento das famílias são os filhos. E por isso dedicam todas as suas forças, energias e poupanças no seu crescimento e desenvolvimento, tendo como etapa final o “patrocínio” de uma licenciatura.
Mas a verdade é que, em muitos casos, esta etapa está cada vez mais longe de ser completada, pois a educação começa a ganhar contornos de um bem ao alcance de poucos, dado os elevados custos que acarreta e face a uma remuneração base média de apenas 909,5 euros por mês, segundo os últimos dados do INE.
De acordo com o Ministério da Educação, a propina máxima paga no ensino superior público para o ano lectivo 2016/2017 é de 1063 euros, o mesmo valor fixado no ano passado – devia ter sofrido um incremento de 5 euros em função da actualização dos valores de acordo com a inflação, mas os partidos que apoiam o Governo aprovaram o congelamento dessa actualização.
Assumindo que nos próximos anos será aplicada a lei em vigor e um comportamento da taxa de inflação semelhante ao verificado nas últimas duas décadas, dentro de 18 anos o custo de uma licenciatura de três anos numa faculdade pública deverá atingir os 5 mil euros, 55% acima do valor actual.
O problema é que as contas não se ficam por aqui. Às propinas terá de adicionar-se, caso seja necessário, a renda da casa e ainda uma mesada para o petiz pagar as suas contas do dia-a-dia. Desta forma, facilmente a factura de um curso superior de três anos poderá ultrapassar os 30 mil euros. Por isso, se está nos seus planos colocar o seu filho numa faculdade pública, comece já hoje a poupar para esse propósito.
Poupar hoje para não hipotecar o futuro
Disciplina é a palavra-chave para garantir um pé-de-meia suficientemente gordo para pagar as propinas da licenciatura do seu filho.
E para isso só precisa de arranjar um mealheiro e seguir à risca uma poupança mensal de 20 euros desde o primeiro dia que lhe pegou ao colo.
Mas se apenas começar a poupar quando o seu filho tiver hoje cinco, dez ou mais anos e o “plano universitário” for ainda uma miragem, nada está perdido. Será apenas necessário que os progenitores da criança desembolsem um valor mais elevado, colocando no mealheiro 25 e 37 euros, respectivamente, todos os meses. A este valor poderá ser interessante começar desde já a engordar o “orçamento universitário” com vista a pagar a renda da casa e incluir uma mesada.
Assim, assumindo um “salário” de 300 euros e uma renda de 440 euros por um quarto (ver caixa “Factura do estudante universitário”) e uma estratégia de investimento “ultra-conservadora” baseada na “conta mealheiro”, o caminho revela-se espinhoso para os encarregados de educação, pois seria preciso realizar uma poupança mensal de 126 euros até o fim do curso para atingir o objectivo delineado. Felizmente as famílias podem tirar proveito da força mais poderosa do Universo, como caracterizou um dia Albert Einstein: os juros compostos ou a capitalização do capital e dos juros.
Desta forma, caso o produto escolhido para garantir o financiamento do pacote ‘triple play’ do ensino superior (propinas, renda da casa e mesada) fosse um depósito a prazo que remunerasse o capital a uma taxa média anual líquida de 1,3% (valor mais elevado pago pela banca num depósito a um ano, segundo os últimos dados da Deco Proteste), o esforço mensal dos pais passaria para os 112 euros.
Mas se a escolha recaísse por um fundo de investimento de acções europeias como o BPI Europa, um dos fundos portugueses mais antigos e que desde o seu lançamento, a 11 de Junho de 1991, tem oferecido aos seus subscritores ganhos anuais médios de 6%, a poupança mensal sofreria um corte de 45%, obrigando os pais do futuro licenciado a contribuírem apenas com 69 euros todos os meses.
Porém, é importante ressalvar que esta última situação, ao contrário do que sucede com os depósitos a prazo, poderá incorrer em perdas do capital investido.
Conheça ao lado três estratégias universitárias que poderá colocar em prática já a partir de hoje, para que quando o dia da Bênção das Fitas do seu petiz chegar, não tenha a sua conta bancária a zeros nem a sua vida financeira virada de pernas para o ar.