O presidente do grupo retalhista Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, desafiou o Governo saído das recentes eleições, a ter a coragem para encetar uma reforma fiscal que permita aliviar a pressão da escalada de preços a que as famílias e as empresas estão sujeitas.
Durante o encontro com a imprensa via online para a apresentação dos resultados de 2021, Pedro Soares dos Santos admitiu que a inflação sobre os produtos alimentares, o aumento dos preços da energia e a incerteza trazida pelo conflito que opõe a Rússia e a Ucrânia está a ter impacto sobre o rendimento das famílias e cria também pressão sobre as empresas.
Questionado sobre quais as medidas que o novo Governo de maioria do Partido Socialista deveria adotar para ajudar a mitigar a crise, o presidente da Jerónimo Martins não teve dúvidas em defender que a maior reforma seria um alívio fiscal para apoiar todas as famílias neste cenário de aumento de custos e inflação. Pedro Soares dos Santos detalhou ainda que essas reformas fiscais deveriam recair sobre “o IRS das famílias e o IVA no consumo”, isto sem esquecer as “numerosas taxas” existentes.
No entanto, alertou que para se avançar com esta reforma “é preciso coragem”. E acrescentou que para Portugal “manter-se competitivo teria de baixar muito os impostos sobre a energia, agora se é possível ou não, só quem está no Governo poderá saber, porque teria de fazer grandes reformas a nível de custos”.
No ano em que o grupo dono do Pingo Doce celebra os 230 anos Pedro Soares dos Santos não deixou de assumir “uma certa dor porque o mundo está demasiado perigoso e incerto”. Ainda assim, destacou o orgulho que sente na equipa que o acompanha e que ajudam a se chegar a esta comemoração.
No exercício de 2021 o grupo retalhista que detém também a insígnia Biedronka na Polónia atingiu um volume de vendas de 20,9 mil milhões de euros, mais 8,3% face a 2020, e registou uma subida nos lucros de 48,3% para 463 milhões de euros.
A marca polaca continua a ser o maior contribuinte para as vendas do grupo, registando uma subida de 8% face a 2020, para os 14,5 mil milhões de euros. Ainda na Polónia, as vendas da cadeia de beleza Hebe cresceram 13,5%, para 278 milhões de euros. Na Colômbia, as receitas da Ara ultrapassaram, pela primeira vez, a meta dos mil milhões de euros (+29%).
Para o corrente exercício, Pedro Soares dos Santos preferiu ser cauteloso a fazer estimativas dado o clima de incerteza que se vive. “As projeções estão muito reservadas. Não tenho a certeza exata do impacto da inflação. Há demasiada incerteza e prefiro ser cauteloso”, disse o gestor. Ainda assim, admitiu que o grupo está preparado para mitigar e absorver parte dos aumentos que estão previstos ainda que esta medida possa ter impacto no desempenho financeiro.
A Jerónimo Martins prepara-se para investir, este ano, 850 milhões de euros, dos quais, 150 milhões de euros terão como destino a área da distribuição em Portugal e cerca de 25 milhões de euros para continuar a desenvolver o segmento agroalimentar do grupo.
Quanto ao reforço da expansão internacional que a retalhista tinha admitido como estratégia, a CFO da empresa, Ana Luísa Virgínia, assumiu que não colocaram de parte a ambição de continuar a crescer, sendo a prioridade os países vizinhos da Polónia. A Roménia tem sido um dos países no radar. No entanto, face ao cenário de guerra na região será difícil que esta ambição seja materializada em 2022.