Na sequência do “Barómetro Corrupção e Transparência em Portugal”, conduzido pela Rep. Circle – The Reputation Platform, centro de conhecimento para a reputação corporativa d Lift, em conjunto com a Kepler Forensic Partners, a Forbes entrevistou Salvador da Cunha, CEO da Lift e Fundador do Rep.Circle.
Este responsável alerta para o facto de que “a principal consequência de uma distribuição pouco transparente é afastar o investimento da economia real e das empresas, o que pode levar o PRR a ter pouco impacto na recuperação económica do país”.
A chegada de fundos comunitários em grande volume à economia nacional, no contexto da recuperação pós-pandemia, é expectável que venha fazer aumentar os casos de corrupção em Portugal?
Salvador da Cunha (SdC): O histórico do país na execução de fundos europeus deixa os gestores pouco otimistas. Os programas anteriores ficaram marcados por episódios, mais ou menos mediáticos, de atribuição indevida ou arbitrária de fundos, com investimentos que ficaram por explicar e áreas estratégicas que ficaram por desenvolver. Por outro lado, sempre que se investigam casos de corrupção em Portugal, o tema é notícia durante vários anos, o que agudiza esta perceção de impunidade. Sendo o PRR o maior pacote de financiamento de sempre, as empresas temem que o risco de corrupção seja diretamente proporcional. Não digo que os casos de corrupção vão aumentar, mas parece ser essa a perceção dos gestores.
De acordo com os dados apurados, existe confiança de que venha a ser feita uma aplicação correta e transparente das verbas a disponibilizar pelo Plano de Recuperação e Resiliência?
SdC: Os gestores estão pouco confiantes numa distribuição transparente dos fundos e lançam várias críticas ao sistema. A mais incisiva tem a ver com a falta de fiscalização e excesso de burocracia, percecionadas como uma ineficiência intencional para favorecer grupos de interesse. Estes obstáculos são particularmente críticos se pensarmos que o intervalo de tempo para a aplicação dos fundos é relativamente curto e que grande parte dos fundos está destinado a entidades públicas.
Os números também deixaram claro que, independentemente das causas, a principal consequência de uma distribuição pouco transparente é afastar o investimento da economia real e das empresas, o que pode levar o PRR a ter pouco impacto na recuperação económica do país.
Em que setores trabalham as empresas portuguesas com maiores índices de corrupção, segundo o barómetro?
SdC: De acordo com o estudo, a classe política é percecionada como a principal promotora da corrupção, logo seguida pelas instituições desportivas. Contudo, as empresas também são chamadas a prestar contas, já que os grandes grupos empresariais e os gestores de topo são igualmente vistos como um veículo para operações menos transparentes. Este é o “top 3” em relação aos alegados protagonistas, mas a verdade é que os gestores que ouvimos encaram a corrupção como um fenómeno transversal e habitual nas empresas e instituições nacionais, apesar de a maioria não conseguir apontar casos concretos na própria organização.
As empresas têm aqui um desafio muito relevante pela frente: criar e implementar mecanismos de denúncia de casos de corrupção e um ambiente seguro para os colaboradores que os pretendem utilizar. É essencial que um denunciante não seja penalizado e isso está por fazer.