Discriminação no trabalho continua generalizada, revela estudo

A diversidade e a inclusão são hoje conceitos amplamente reconhecidos dentro das organizações - 94% dos colaboradores, e 95% em Portugal, dizem estar familiarizados com o tema. No entanto, a prática ainda revela que a discriminação continua presente no dia a dia das empresas. Um estudo internacional do Grupo Cegos, representado em Portugal pela Cegoc,…
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Dois em cada três colaboradores já sofreram discriminação ao longo da carreira. Em Portugal, a aparência física lidera como principal fator discriminatório, com 75% dos profissionais a reportarem essa realidade - o valor mais elevado entre os dez países analisados.
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A diversidade e a inclusão são hoje conceitos amplamente reconhecidos dentro das organizações – 94% dos colaboradores, e 95% em Portugal, dizem estar familiarizados com o tema. No entanto, a prática ainda revela que a discriminação continua presente no dia a dia das empresas.

Um estudo internacional do Grupo Cegos, representado em Portugal pela Cegoc, conduzido em abril e maio de 2025 em 10 países da Europa (entre os quais Portugal), América Latina e Ásia, ouviu mais de 5.500 colaboradores e 438 diretores e gestores de Recursos Humanos (RH). As conclusões são claras: embora exista maior consciencialização, a inclusão ainda falha em várias frentes.

Os 10 países da Europa analisados foram França, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e Reino Unido. Na Ásia foi estudado o caso da Singapura e na América Latina as três nações consideradas para a análise foram Brasil, México e Chile.

Uma realidade persistente

Globalmente, 2 em cada 3 colaboradores relatam já ter sofrido discriminação ao longo da sua carreira profissional, com a aparência física (53%) e a idade (48%) no topo da lista. Em Portugal, a situação é ainda mais marcada: 75% dos profissionais dizem ter sido alvo de discriminação pela sua aparência, seguidos pela origem socioeconómica (70%), nacionalidade (65%) e local de residência (65%).

A experiência não é apenas pessoal: 84% dos colaboradores e 98% dos profissionais de RH já testemunharam situações discriminatórias nos locais de trabalho. No caso português, as percentagens sobem para 90% e 100%, respetivamente.

O estudo confirma que o tema da diversidade e inclusão está na agenda, mas o compromisso das organizações nem sempre se traduz em práticas consistentes.

As consequências são relevantes: um em cada três colaboradores acredita que a discriminação prejudica o ambiente de trabalho. Entre os profissionais de RH, nove em cada dez partilham da mesma visão, destacando os efeitos de comentários sexistas (53%), comportamentos racistas (47%) e a excessiva importância atribuída à aparência física (45%).

A realidade portuguesa

O retrato português apresenta várias especificidades preocupantes. O país regista a maior taxa de discriminação pela aparência física (75%); o mais baixo nível de comunicação interna dedicada a D&I (34%); o menor envolvimento visível da liderança nestes temas (33%); e a percentagem mais baixa de gestores com formação em preconceitos inconscientes (45%), quando a média global é de 59%.

As empresas afirmam valorizar a diversidade, mas os colaboradores continuam a sentir — e a testemunhar — a discriminação no quotidiano.

Apenas 29% dos colaboradores em Portugal acreditam que os seus gestores atuam como aliados contra a discriminação (face a 42% na média global). Além disso, só 10% consideram que os gestores estão envolvidos na resolução de conflitos relacionados com diversidade, o valor mais baixo de todos os países estudados.

O papel dos recursos humanos

Apesar das fragilidades, os profissionais de RH surgem como principais agentes de mudança: 81% defendem a continuidade ou aceleração das políticas de diversidade e inclusão (80% em Portugal). No entanto, 45% admitem estar sozinhos na linha da frente na resolução de conflitos ligados à discriminação – um esforço pouco acompanhado pela liderança.

A adesão a políticas de quotas revela-se significativa: 64% dos colaboradores e 74% dos profissionais de RH estão a favor da medida. Ainda assim, a cultura de solidariedade ou aliança — em que indivíduos privilegiados apoiam ativamente grupos marginalizados — permanece incipiente: apenas 29% dos colaboradores e 30% dos profissionais de RH em Portugal a praticam, face a médias globais de 40% e 41%.

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