Até determinado momento, o plano é simples e claro: fazer a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, escolher uma licenciatura, estudar mais uns anos e chegar ao mercado de trabalho. É obvio que há diversas variações deste plano, mas poucas se comparam à que leva a uma carreira no futebol.
Para começar, é muito provável que os estudos comecem a ficar para trás mais cedo do que o previsto, porque a exigência da modalidade assim o obriga. E quando finalmente se chega a profissional, começa uma carreira com um prazo de validade muito curto. Agora imagine que todos os anos que dedicou ao estudo de uma área só lhe dessem acesso a cerca de 15 anos no mercado laboral. Com o plano interrompido, o que é que vem a seguir?
Diogo Dalot tinha 15 anos quando começou a acreditar que poderia fazer do futebol a sua profissão. “A partir do momento em que as coisas começam a ficar mais sérias, também o tempo para ir para a escola começou a ficar mais reduzido. A partir daí sim comecei a dedicar-me um bocadinho mais do que aquilo que já me dedicava”, conta à Forbes. Foi nessa altura que, confessa, se começou a comportar como aquilo que imaginava ser o mundo do futebol como uma profissão a tempo inteiro.
Nessa altura já jogava no FC Porto, a sua escola. E fez o caminho até sénior no clube da invicta: depois de vários anos nas camadas jovens, na época 2017/18 chegou à equipa principal, onde ficou apenas até ao final dessa temporada. O Manchester United foi o clube que se seguiu e onde permanece até hoje – ainda que tenha passado pelo AC Milan, emprestado por uma época. Um caminho que andou lado a lado com o percurso pela seleção, com destaque para a vitória no Europeu de sub-17 e a primeira chamada á equipa principal no Euro 2020.

No meio de tudo isto, mais um momento chave na sua carreira: Aos 19 anos, pouco tempo antes de chegar ao Manchester United, fez o seu primeiro investimento.
“Foram-me trazendo oportunidades boas para investir, numa fase inicial mais a nível imobiliário. E tu vais começando a informar-te um bocadinho mais, se calhar percebendo também como é que funcionam esse tipo de negócios. Eu diria que a primeira vez que eu investi foi pouco antes de chegar ao United, tinha os meus 19 anos. Obviamente, a partir do momento que assino o contrato com o United existe também mais capacidade e acabas por fazer outro tipo de investimentos, que se calhar quando estava no Porto não conseguia. Sempre tive, por iniciativa própria, a vontade de investir cedo, porque tenho esse tipo de mentalidade financeira, mas sempre com muita precaução e tentando fazer sempre as coisas da maneira certa, com o risco reduzido”, afirma o jogador.
Educação como requisito
Os investimentos durante os anos em que os futebolistas estão no ativo surgem aqui como uma forma de assegurar o futuro. Repetem-se as histórias em que os desportistas enfrentaram muitas incertezas após o final da carreira, ou até mesmo a falência, e cada vez mais os atletas estão atentos a isso. Que começa, naturalmente, com a educação financeira.
“Eu tive sorte”, confessa Diogo. “Tive e tenho um apoio muito grande da parte dos meus pais, que foram sempre essenciais para mim nessa parte”. Ao mesmo tempo, a vontade de aprender e a iniciativa própria também têm um papel muito importante. “No nível futebolístico, no meu caso, no nível que eu represento, a quantidade de dinheiro sendo bastante grande, existe um choque um bocadinho maior, e existe também um apoio e um suporte maior, na minha opinião. E eu acabei por ter sempre esse apoio, procurei também, juntamente com os meus representantes ter uma equipa boa e sólida que me ajudasse nesse aspeto, e tentei ir-me informando à medida que fui crescendo”, diz, realçando a importância de conciliar o apoio de pessoas que entendam do assunto com a educação.
Apoio esse que, num mundo perfeito, chegaria da parte dos próprios clubes. Como acontece em alguns casos, mas nem todas as ligas têm as mesmas capacidades. “A capacidade que um clube da Premier League tem para apoiar o jogador, nunca será a mesma do que uma segunda divisão em Portugal, ou até muitos clubes da Primeira Liga em Portugal”, sublinha o jogador. “Mas sem dúvida que é cada vez mais algo que tem de ser um requisito. A histórias mais tristes que existem é quando um jogador acaba a carreira e acaba por perder todo o dinheiro, às vezes por falta de conhecimento, às vezes por falta de apoio, e não estão preparados para esse choque de realidades diferentes”.
E se é verdade que dinheiro gera dinheiro, este é o momento de começar a prestar esse apoio aos jogadores. É que nunca se movimentou tanto dinheiro no mundo do futebol como hoje em dia. E o exemplo mais claro está na Arabia Saudita, onde Cristiano Ronaldo recebe um salário de 200 milhões de euros anuais ou Karim Benzema soma 100 milhões de euros anuais.
“Cada momento em que existe um aumento de salários, um aumento de valores de transferências, é sempre uma oportunidade nova”, considera Diogo quando questionado sobre o momento atual do futebol a nível financeiro. Ainda que tenha claro que o dinheiro não se pode sobrepor à verdadeira essência da modalidade. “O futebol é socialização, é a paixão pelo jogo, é a paixão pela tua equipa”, diz.
Nova modalidade
Por cá, a oportunidade que se cruzou na vida de Diogo Dalot foi o padel. A modalidade que cativa cada vez mais portugueses tem verificado um dos maiores crescimentos nos últimos tempos. As estimativas apontam para que existam cerca de 200 mil praticantes em Portugal e perto de mil campos. Sendo que 14 desses campos têm a assinatura de Diogo Dalot.
O Padel Athletic Club (PAC) nasceu no Porto em maio de 2023. Com uma área total de 12 mil metros quadrados, o projeto, projetado pelo empresário Miguel Dominguez, conta ainda com o espanhol Paquito Navarro, número 11 no ranking mundial da modalidade, como parceiro.
“Eu diria que o padel foi, sem dúvida, o meu primeiro grande investimento, não só público, mas mesmo a nível pessoal. E também é provavelmente o investimento com o prazo mais longo que eu também defini”, afirma Diogo.
Para Diogo a oportunidade era clara. Além do enorme crescimento da modalidade até hoje, e do facto de esse crescimento ainda não ter abrandado, o próprio jogador confessa-se apaixonado pelo padel, ainda que só o consiga praticar nas férias. “Acabei por arriscar e estou bastante contente com o que decidi fazer, porque acabei por criar um espaço bonito, onde eu tentei que as pessoas, cada vez que vão lá, se sintam bem. Não sintam só que vão lá jogar padel, têm a capacidade para fazer outras coisas, poder passar lá bastante tempo. Que eu acho que é no fundo um bocadinho o objetivo do padel, a socialização, estares com pessoas que conheces e depois no fim com pessoas que não conheces e acabares por criar ali uma ligação. Foi uma ideia um bocadinho diferente daquilo que já existia em Portugal”, diz o jogador, que opta por não revelar o valor do investimento feito neste projeto, descrevendo-o apenas como “significativo” e que, com “100% de certeza” será um projeto que lhe dará retorno.

“Tens de começar a pensar no futuro”
A carteira de investimentos de Diogo Dalot não fica completa com o imobiliário e o padel. O jogador português continua a sua ronda de investimentos com, pelo menos, mais duas empresas. Uma é portuguesa e faz investimentos na área do desporto. “Foi algo que eu também gostei de me associar, por estar um bocadinho mais ligado ao desporto. Conhecer também outro tipo de desportos que não tinha bem a noção que existia também um grande nível de negócio”, diz. A outra é um investimento mais recente e está na área da suplementação, outro tema do seu interesse.
Além disto, este ano tornou-se também publico que Dalot é um dos investidores do lançamento da Baller League no Reino Unido, presidida pelo youtuber KSI – esta liga foi inicialmente lançada na Alemanha em 2023. A imprensa britânica avança com um valor de 23 milhões de euros investidos nesta liga, sendo que se trata do somatório do investimento de várias partes. Além de Dalot, também o português Diogo Jota faz parte do grupo.
“No fundo, acabo também por tentar diversificar aqui um bocadinho o tipo de investimentos que vou fazendo, mas sempre em coisas que eu me identifico e que gosto”, afirma Dalot.
Das quatro linhas para o mundo dos negócios, o jogador acaba por usar as mesmas ferramentas nas duas áreas. No campo, confessa-se “muito calculista, a tentar tomar sempre as decisões certas e ser o mais completo possível” e a partir do momento em que entra nos negócios volta a usar essas mesmas características. “Às vezes não ter tanto risco, mas ao mesmo tempo ser assertivo e acreditar muito que quando entro num projeto que vou conseguir ter o retorno que acho que vou ter”, diz. Ainda que esteja consciente de que há erros que, numa fase inicial, teve de cometer para conseguir aprender e crescer.
E tudo isto é mesmo essencial na carreira de um futebolista. Para que o curto prazo de validade que pode ter assustado ao início nunca venha a ser um problema.
“À medida que a tua carreira vai aumentando e vai crescendo, tens de começar a tentar pensar no futuro. É uma carreira relativamente curta, mas que se for bem aproveitada, se for bem gerida, bem sustentada e bem preparada, o pós-carreira pode ser mais fácil. É isso que eu tento fazer ao máximo e tentarei continuar a fazer para poder terminar a carreira o mais confortável possível, para no fim da carreira poder ter o resto da minha vida para estar tranquilo e poder continuar tranquilo”, conclui.
(Artigo publicado na edição fevereiro/março 2025 da Forbes Portugal)