Por onde se começa a escrever um artigo sobre reclassificação? A maioria de vós certamente pensaria pelo início, mas uma reclassificação implica um ou vários começos, um reset de parte de nós.
A sociedade incute-nos que somos aquilo que fazemos ou pelo menos que faz parte intrínseca da nossa identidade e que se não vencermos num dado campo somos “damaged goods” para sempre, almas penadas laborais destinadas a vaguear num mundo laboral.
Terminei a licenciatura em Análises Clínicas e Saúde Pública em 2006 e fui muito feliz como técnica de análises num hospital da Grande Lisboa durante 16 anos. No entanto adoro resolver enigmas, charadas, puzzles e tecnologia. O meu marido apercebeu-se destas minhas características inatas de programadora e mencionou casualmente a Codecademy.
Decidi começar a fazer pequenos cursos durante a noite ou quando tinha algum tempo. Aprendi a sintaxe de Python e algumas bases de programação, a noção de variáveis e de reutilização de funções, entre outras. Todavia eu senti que não era de todo suficiente e decidi em conjunto com o meu marido, pedir uma licença sem vencimento para fazer um bootcamp de web development para aprender efetivamente a programar e sobretudo para aprender com outros.
Em programação é fundamental comunicar com outros programadores, aprender a observar o mesmo problema de formas diferentes, só assim é que conseguimos evoluir. Se estou sozinha, o estilo de resolução de problemas será sempre o mesmo e não evoluo como programadora. Em setembro do ano passado fui contratada como programadora e gostaria de dizer que “cheguei, vi e venci”, mas tenho a sensação que esta jornada só agora começou.
A adaptação a métodos de trabalho diferentes, a uma organização diferente, até mesmo ao trabalho remoto. No meu caso também é diferente da maioria dos colegas, sou senior em soft skils, como organização ou gestão, mas junior em technical skills.
Tenho alguma dificuldade em conciliar esta dicotomia, assim como os novos colegas. Se por um lado sou organizada, criativa, resiliente, empática e cativante, por outro, este é o meu primeiro projeto e não sei o que é expectável, não tenho uma experiência anterior onde fazer um paralelismo e identificar pontos a esclarecer.
Tecnicamente sou uma folha em branco, sei criar uma solução para funcionar, mas não sei qual a solução mais escalável, de acordo com o projecto, de acordo com o cliente, de acordo com arquitetura e convenções.
Num mundo em constante evolução tecnológica, mudar de profissão é um desafio, mas também é uma oportunidade para adquirir novas competências valorizadas no mercado de trabalho.
Cada pessoa tem o seu caminho a seguir e pode encontrar uma nova carreira à sua medida. Para apoio e inspiração, junta-te a comunidades como a Women in Tech, onde podes encontrar mentores e colegas que passaram pelo mesmo processo. Arrisca e dá o primeiro passo para uma mudança de carreira. O teu futuro nunca mudará se não o fizeres.
Ana Bandarra Baptista,
Outsystems developer, PwC