Em setembro passado, Marta Ortega garantiu em entrevista ao The Wall Street Journal que ninguém sabe o que o futuro lhe reserva, mas ela acreditava que – à semelhança do que o seu pai, agora com 85 anos, tinha feito – o seu lugar seria sempre perto do produto. Naquela mesma entrevista, em que a filha mais nova de Amâncio Ortega rompeu o habitual “silêncio administrativo” da família, o jornal americano definiu Marta como a arma secreta do sucesso da Zara.
E assim foi.
Marta Ortega, 37 anos de idade, foi nomeada presidente do gigante Inditex (medida pendente de ratificação pela assembleia geral, o que deverá ser uma mera formalidade), após a renúncia de Pablo Isla, até aqui CEO, que permanecerá no cargo até 31 de março.
Concretizando-se – como tudo deverá ser – Marta Ortega será a partir de 1 de abril de 2022 não apenas a sucessora do seu pai (fundador deste império da moda) como comandante da empresa sedeada na Galiza, como passa a liderar a lista da FORBES dos 100 espanhóis mais ricos juntamente com a sua irmã mais velha, Sandra Ortega Mera, 53 anos e dona de 4,5% do capital da Inditex.
Os laços entre Marta e o gigante têxtil vão, contudo, muito além dos laços de sangue: a filha mais nova de Amâncio Ortega fez carreira no negócio da família desde a base, trabalhou em várias áreas da empresa e passou por diferentes localidades antes de chegar ao novo cargo.
Trajeto sempre em ascenção
Nascida em Vigo, a 10 de janeiro de 1984, Marta é a única filha do segundo casamento de Amâncio Ortega, com Flora Pérez. Estudou numa escola na Corunha até ao bacharelato, o qual fez na Suíça; posteriormente estudou administração na escola de negócios da Universidade de Londres (no Reino Unido), onde se formou em 2007, com especialização em empreendedorismo internacional.
Em maio daquele ano, a filha de Amâncio Ortega começaria a sua carreira na Inditex numa das 445 lojas Bershka que o império têxtil tinha na altura. Esse trabalho foi cumprido numa das lojas da marca em Londres.
A herdeira de Amâncio Ortega começava a trabalhar às 7h30, recebia e organizava a mercadoria e atendia os clientes. Tudo isso com um objetivo: que conhecesse detalhadamente os meandros da organização da empresa. Nesse mesmo ano, em 2007, com apenas 23 anos, Marta foi nomeada vice-presidente de duas sociedades patrimoniais, Gartler e Partler, embora sem funções executivas.
A trajetória de Marta foi desenhada ao milímetro para assumir a posição de CEO do Grupo Inditex.
Depois de passar por Londres, a filha de Amancio Ortega passaria por outras lojas – caso de Paris – e sedes da empresa em diversos países ao redor do mundo. Em 2008, mudou-se para Xangai, na China, para atuar como elo de ligação entre a sede, na Corunha, e o mercado do gigante asiático, ponto estratégico para o crescimento da empresa, ao tempo, de acordo com Pablo Isla.
Marta regressou à Galiza, onde trabalhou no departamento de design e desenvolvimento de produtos da Zara na sede de Arteixo.
A sua influência tem sido notada na marca, tanto nas coleções das diferentes estações como nas criações limitadas, para as quais tem apostado a sua filosofia de trabalho. “Acho importante construir pontes entre a alta costura e a rua, entre o passado e o presente, entre a tecnologia e a moda, entre a arte e a funcionalidade”, afirmou Marta ao The Wall Street Journal.
A lista dos 100 espanhóis mais ricos passa a ser liderada por duas mulheres: Marta e a sua irmã, Sandra.
Sob a sua liderança, a Zara tornou os designs de alguns dos maiores e mais exclusivos nomes da moda, como Steven Meisel, Fabien Baron, Karl Templer e Luca Guadagnino acessíveis para a maioria dos bolsos.
Dando um último passo em direção ao cargo que irá passar a ocupar, Marta foi nomeada membro do Conselho Curador da Fundação Amancio Ortega, em 2015. Agora conquista o topo: “Vivo esta empresa desde a minha infância e aprendi com todos os grandes profissionais com quem trabalhei nos últimos 15 anos. Sempre disse que dedicaria a minha vida a desenvolver o legado dos meus pais, olhando para o futuro, mas aprendendo com o passado e ao serviço da empresa, dos nossos acionistas e dos nossos clientes, no lugar em que considerem ser mais necessária. Sinto-me profundamente honrada e comprometida com a confiança que depositaram em mim e muito entusiasmada com o futuro que todos iremos empreender ”, referiu sobre a sua nomeação, numa declaração em que agradeceu a Pablo Isla pelo seu trabalho e dedicação, ele que tomou conta da empresa quando Amancio se reformou em 2011.
Amancio Ortega continua a ser o acionista maioritário da Inditex, com uma participação de cerca de 60% na empresa, o que o torna uma das pessoas mais ricas do planeta (#11, de acordo com a lista mais atualizada da FORBES) com uma fortuna de 73 mil milhões de dólares, cerca de 64 mil milhões de euros.
A Inditex é proprietária de nove marcas de pronto-a-vestir (Zara, Pull & Bear, Massimo Duti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Lefties, Uterqüe e Tempe), sendo o grupo líder mundial de roupa a retalho, à frente da H&M, da Suécia, estando presente nos cinco continentes com mais de 6.500 lojas nas zonas comerciais mais movimentadas do mundo.