Cristina Lourenço: “Há mais procura do que oferta. Queremos mais empresas listadas”

"Há mais procura do que oferta. Queremos mais empresas listadas na Bolsa angolana", defendeu hoje, Cristina Lourenço, presidente da Bodiva, a Bolsa de Dívida e de Valores de Angola, na conferência Doing Business Angola. A responsável desta instituição, filha de João Lourenço, presidente angolano, esteve presente como oradora na terceira edição da conferência anual dedicada…
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Cristina Lourenço, presidente da Bodiva, defendeu a necessidade de ter mais empresas cotadas na bolsa angolana e que existem boas oportunidades de investimento, nomeadamente nos quatro IPO que estão planeadas para os próximos meses.
Economia Forbes Events

“Há mais procura do que oferta. Queremos mais empresas listadas na Bolsa angolana”, defendeu hoje, Cristina Lourenço, presidente da Bodiva, a Bolsa de Dívida e de Valores de Angola, na conferência Doing Business Angola. A responsável desta instituição, filha de João Lourenço, presidente angolano, esteve presente como oradora na terceira edição da conferência anual dedicada aos negócios na lusofonia, organizado pela Forbes África Lusófona e Jornal Económico, que decorreu em Lisboa, no Hotel Ritz Four Seasons, para falar sobre a Bodiva e a estruturação do mercado financeiro de Angola.

A presidente disse, a propósito que, além das quatro companhias já cotadas na bolsa angolana, são esperados, mais oportunidades interessantes de investimento, conforme o programa angolano de privatizações, o PROPRIV, estando prevista a privatização de quatro empresas até ao final de 2025: o banco BFA, a Unitel, a TV Cabo Angola e a SBA. Sobre estes IPO a responsável não quis adiantar pormenores, mas lembrou a audiência de que estas operações serão grandes. “O destaque é que todas as anteriores quatro OPV do PROPRIV juntas são operações menores do que só uma operação do BFA ou da Unitel. Portanto, realçamos aqui esta oportunidade de investimento, seja para empresas portuguesas que já estejam a operar em Angola, sejam investidores residentes ou não residentes”.

O PIB angolano tem apresentado uma tendência crescente nos últimos 5 anos, tendo um valor estimado de 73,3 mil milhões de euros em 2024, tendo crescido 14 mil milhões de euros face ao ano anterior.

Cristina Lourenço começou a sua intervenção por reforçar a ideia, anteriormente referida numa intervenção desta conferência, de que “Não existe uma economia sustentável sem que exista um mercado de capitais”. E mostra à audiência que a Bodiva tem como missão promover o desenvolvimento sustentado do mercado regulamentado de valores mobiliários e derivados. A gestora refere que a instituição espera, desse modo, contribuir efetivamente para o financiamento sustentado da economia de Angola. O cenário macro-económico angolano é desafiante, com uma inflação, em 2024, de 27,5%. Já o PIB angolano tem apresentado uma tendência crescente nos últimos 5 anos, tendo um valor estimado de 73,3 mil milhões de euros em 2024, tendo crescido 14 mil milhões de euros face ao ano anterior. Também a capitalização do mercado tem registado um acréscimo interessante, representando atualmente 15,61% do PIB estimado.

Bodiva quer ser plataforma de investimento

A Bodiva, enquanto sociedade gestora do mercado de capitais, com atividade desde 2014, tem como objetivos posicionar-se como parceiro estratégico dos agentes económicos e converter-se numa plataforma de financiamento de médio e longo prazo. O mercado angolano tem assistido a uma crescente tendência no número de negócios, que alcançaram um valor histórico em 2024, alcançando os 10.328. O desempenho das ações da Bodiva cresceu cerca de 58%.

“Desde 2014 que a Bodiva se preparou para disponibilizar ao mercado diferentes possibilidades de investimento, sendo que começamos em 2016, com o mercado de bolsa e títulos de tesouro, ainda hoje o mercado com maior atividade de negócios”, explica a gestora. Cristina Lourenço explica que em 2018 a Bodiva registou a primeira emissão de uma obrigação corporativa, e em 2021 fez uma revitalização dos seus sistemas de renegociação. “Em 2022 deu-se então a ativação do nosso mercado de bolsa de ações, que passou pela admissão a negociação do banco BAI, do banco BCGA. Foi um ano marcado pela ativação de novos segmentos. Conhecendo a nossa economia e o nosso tecido empresarial percebemos que a emissão de ações não seria logo o primeiro caminho, e daí termos apostado mais no mercado de títulos do tesouro”, explica. Surgiu depois, em 2022 o mercado de REPOS (acordos de recompra) e de PME, sendo que este último ainda não está ativo.

Entre 2023 e 2024 deu-se uma importante transição para o mercado de capitais. “Até então eram os bancos que transacionavam no nosso mercado e passaram essa função para as sociedades corretoras e distribuidoras. Os bancos mantêm-se no mercado, mas a atuarem apenas como agentes de liquidação, e alguns na estruturação de ofertas públicas”, explica Cristina Lourenço.

O BAI valorizou 249% desde a sua entrada em bolsa e o BCGA valorizou 210%. O desempenho conjunto das ações da Bodiva cresceu cerca de 58%.

A Bodiva conta com quatro empresas cotadas, resultantes das privatizações parciais do Estado e todas registaram grande valorização desde que admitidas à negociação. O BAI, por exemplo valorizou 249% desde a sua entrada em bolsa e o BCGA valorizou 210%. O desempenho conjunto das ações da Bodiva cresceu cerca de 58%. Segundo esta responsável, “O número de investidores parece ainda exíguo: pouco menos de 40 mil investidores, entre particulares e corporativos. Porém, mas apesar deste número o volume que é transacionado continua a crescer”.

Para o futuro, Cristina Lourenço refere que o objetivo da Bodiva passa por continuar a promover a literacia financeira, “porque ter uma empresa preparada para cotar-se e depois não ter os investidores que consigam avaliar a essa empresa e percepcionar este valor, não faz sentido”, remata.

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