O Presidente da República defendeu hoje que Portugal não pode desistir de criar mais riqueza, igualdade, mais coesão, considerando que só isso permitirá que continue a ter a sua “projeção no mundo”.
“Não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa no seu tradicional discurso na cerimónia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu hoje no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
“De que nos serve ter essa influência mundial se entre portas sempre tivemos problemas por resolver? Se temos mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade?”, questionou o Presidente.
Só dessa forma, prosseguiu o chefe de Estado, Portugal poderá continuar a ter a sua “projeção do mundo”, o seu “desígnio nacional”.
“É a nossa vocação de sempre: fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos. Outros há, e haverá, que são e serão mais ricos do que nós, mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciar, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta”, disse.
“Nós nascemos diferentes”, diz Marcelo Rebelo de Sousa. “Uma pátria improvável, feita a pulso, contra o vento, muito cedo universal, muito cedo chamada ou condenada a ser mais importante lá fora do que cá dentro. E não queremos nunca cometer o erro de trocar a nossa vocação, que nos fez e faz maiores e diferentes, pela ilusão de que o sermos felizes é deixarmos de ser o que nos marcou há séculos”.
Marcelo refere que “todos os dias sabemos que, por entre alegrias e tristezas, estamos a fazer Portugal”.
“Todos os 10 de junho, cada qual diverso dos outros, evocamos passados de quase 900 anos, ganhamos redobradas forças para os presentes e sonhamos novos futuros”, declarou.
Para o chefe de Estado, este 10 de junho é “muito diferente dos últimos”, por ser celebrado em Peso da Régua, “cidade do interior que nunca foi nem capital de distrito, nem cabeça de diocese”.
Escolher esta zona para as comemorações do Dia de Portugal é, para Marcelo, “o retrato do Portugal que queremos”, onde “os Pesos da Régua do nosso interior sejam tão importantes quanto as Lisboa, os Portos”.
Estando no Douro, o Presidente da República considera que o vinho “projetou Portugal no mundo e continua a projetar, num tempo em que o crescimento e a justiça social que ambicionamos se fazem de investimento, de exportações de bens como esse vinho de excelência”.
“Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos e somos universais, sempre disponíveis para a solidariedade em relação aos outros, como aquele nosso compatriota Manuel Ponte [português que tentou impedir o ataque com uma faca em Annecy, nos Alpes franceses, no qual várias crianças ficaram feridas, algumas delas correndo perigo de vida], que há dois dias, com mais de 70 anos de idade, fez aquilo que outros com menos de 70 anos de idade não fizeram”, declarou.
Marcelo diz que é preciso “cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda”
O Presidente da República considerou hoje necessário “cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda”, advertindo que, só se não se quiser, é que “Portugal não será eterno”.
No seu discurso na cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Marcelo Rebelo de Sousa pegou na vocação universalista do país e na luta da região do Douro para se projetar para deixar alguns recados, numa altura em que a política portuguesa continua envolvida na polémica em torno do incidente no Ministério das Infraestruturas e no envolvimento do SIS na recuperação de um computador de um adjunto do ministro João Galamba.
O chefe de Estado considerou que o país não quer “nunca cometer o erro” de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou “há séculos”.
“Mas atenção, que isso não seja álibi ou justificação para não sermos mais fortes e mais justos cá dentro, até para podermos ser mais fortes e justos lá fora”, frisou.
Segundo o chefe de Estado, “é esse o apelo deste Douro e de todos os Douros”: “Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, com vezes, mil vezes, falharmos mais do que acertamos, (…) não desistirmos, começarmos de novo”.
“Darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente”, declarou, sem nunca mencionar diretamente qualquer caso político atual.
Com o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a ouvi-lo na plateia, o Presidente da República disse: “Só se não quisermos é que o nosso Portugal não será eterno”.
Lusa