A Sock Affairs é uma marca 100% portuguesa, tendo sido foi criada em 2018 por dois amigos que largaram os seus empregos para começar uma nova aventura: criar meias carismáticas e de qualidade, inspiradas em três universos – arte (meias das maiores obras-primas), música (meias das bandas mais icónicas do mundo) e carros clássicos (meias de veículos que ficaram para a história).
O negócio tem sido um êxito, com a exportação a ser o principal sustento da empresa, cuja produção é 100% portuguesa.
No universo da música, a marca portuguesa conta ainda com meias oficiais licenciadas de bandas como Pink Floyd, The Police e AC/DC.
A Sock Affairs já fatura cerca de 6 milhões de euros.
Numa altura em que se estão a aproximar os meses de novembro e dezembro, que, devido ao natal, representam, geralmente, cerca de 40% da faturação anual da empresa, Gonçalo Henriques, cofundador da Sock Affairs, conversa com a FORBES, olhando para os projetos futuros, sem, todavia, esquecer como toda esta aventura começou.
Ainda se recorda como surgiu a ideia de criar esta empresa?
A ideia da criação da Sock-Affairs surgiu durante o Web Summit, onde reparei que muitos oradores usavam meias divertidas que lhes proporcionavam grande expressão de individualidade. A partir desta observação, decidimos explorar a possibilidade de criar meias que fossem sofisticadas e carismáticas para adultos, uma abordagem que parecia em falta no mercado que, na sua maioria, oferecia apenas designs tradicionais ou infantis. Foi por isso que decidimos criar meias inspiradas em paixões como música, arte e motores, para que os nossos clientes pudessem ter uma ligação emocional com a peça que usavam. Com o estabelecimento da marca, percebemos duas coisas: que viemos preencher uma lacuna no mercado.
“A ideia da criação da Sock-Affairs surgiu durante o Web Summit”
Que dificuldades tiveram ao dar os primeiros passos nesta indústria?
O principal desafio foi avaliar se as pessoas estariam dispostas a abraçar a nossa abordagem às meias e se seríamos bem-recebidos. Felizmente, ao longo dos anos, a resposta tem sido positiva, e as meias divertidas para adultos ganharam popularidade.
A gestão da produção e qualidade das meias também foi um desafio inicial, mas encontramos parceiros de fabricação em Portugal, conhecidos pela sua tradição em fabricar têxteis de alta qualidade. Também enfrentámos a concorrência de marcas já estabelecidas, mas o nosso ênfase na originalidade e na colaboração com artistas ajudou-nos a ter destaque no mercado.
A aposta na originalidade e na criatividade estiveram presentes desde o início. Quais são os produtos ou séries mais vendidas?
Atualmente, os nossos produtos mais vendidos incluem as meias inspiradas nos estofos do Golf GTI, a série Great Wave e as coleções dedicadas a David Bowie e Pink Floyd. Estes designs têm cativado os nossos clientes e têm sido um grande sucesso.
Como tem sido o desempenho financeiro da empresa nos últimos anos?
Nos últimos anos, e à medida que conquistamos mais clientes, o desempenho financeiro tem sido notável. Começamos em 2018 e cinco anos depois, já vendemos mais de 1 milhão de meias para mais de 90 países e já atingimos os 6 milhões de euros de faturação total. Este crescimento é impulsionado pelo nosso compromisso com a qualidade e satisfação dos nossos clientes, bem como pela expansão global da nossa marca.
“Já vendemos mais de 1 milhão de meias para mais de 90 países e já atingimos os 6 milhões de euros de faturação total”
Pode partilhar informações sobre a faturação anual?
Projetamos uma faturação anual de cerca de 1,5 milhões de euros até ao final de 2023, refletindo o nosso crescimento constante e a nossa presença no mercado internacional.
Houve um crescimento notável recente na sua empresa? Quais foram os principais impulsionadores desse crescimento?
A nossa dedicação e compromisso com a qualidade de fabrico e a expansão da nossa presença global têm dado os seus frutos, mas as colaborações com artistas, pilotos, marcas e museus de renome contribuíram para o aumento das vendas e da notoriedade da marca.
“Colaborações com artistas, pilotos, marcas e museus de renome contribuíram para o aumento das vendas e da notoriedade da marca”
Para que mercados internacionais vendem?
Vendemos principalmente para os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, que juntos representam mais de 70% das nossas vendas. Além disso, outros mercados na Europa, Japão, Austrália e Canadá também são relevantes para o nosso negócio. Desde o início que almejamos ser uma marca global, e estamos satisfeitos por alcançar pessoas em mais de 90 países, com diferentes culturas e origens.
Exportações valem 98% do volume de negócios e “EUA, Reino Unido e Alemanha, juntos, representam mais de 70% das nossas vendas”
Qual é o peso da exportação no mix de vendas?
As vendas internacionais têm um peso significativo nas nossas vendas, representando 98% do nosso volume de negócios.
As parcerias com artistas são uma característica da empresa. Com que nomes já trabalharam?
Temos o orgulho de ser a primeira marca portuguesa a desenvolver e comercializar meias oficiais licenciadas de artistas como Pink Floyd, The Police, AC/DC e David Bowie. A nossa colaboração com estes artistas de renome trouxe uma dimensão criativa única às nossas meias, tornando-as mais do que simples acessórios de moda.
A Sock-Affairs comercializa meias oficiais licenciadas dos Pink Floyd, The Police, AC/DC e David Bowie.
Como é que decidem quais os artistas com os quais colaborarão em novos designs de meias?
A seleção de artistas para colaborações é um processo que combina vários critérios: é uma mistura entre o potencial de vendas, o universo gráfico do artista e a sua presença nos mercados onde atuamos. Queremos garantir que as colaborações resultem em designs únicos e apelativos para os nossos clientes.
Quando concebem um modelo de meia alusivo a uma temática ou inspirado numa determinada marca, empresa, artista, produto, têm de pagar créditos autorais? Como gerem esta questão?
Sim, quando criamos modelos de meias inspirados em temas ou artistas específicos, geralmente envolvemos acordos de licenciamento que incluem pagamento de créditos autorais. No entanto, a parte mais desafiadora é obter a aprovação dos nossos designs, o que requer negociações e alinhamento com os detentores dos direitos autorais.
Arte, música, motores são temas que estão presentes nas vossas coleções. Sabendo-se que o desporto e o futebol, em específico, tem legiões de fãs, qual o motivo que vos leva a não ir por esse caminho? É devido a direitos de autor?
A nossa decisão de não explorar o desporto, incluindo o futebol, nas nossas coleções, baseia-se na nossa abordagem de sermos uma marca inclusiva. Não queremos favorecer um clube de futebol em detrimento de outros ou criar meias que possam ferir suscetibilidades ou suscitar rivalidades entre os adeptos. Preferimos manter a nossa marca centrada em temas mais abrangentes, como música, arte e motores, que têm apelo global e não causam divisões.
Meias sobre futebol? “Não queremos criar meias que possam ferir suscetibilidades ou suscitar rivalidades entre os adeptos”
Pode antecipar-nos informações sobre os lançamentos futuros?
Embora não possamos revelar detalhes específicos sobre futuros lançamentos neste momento, estamos empenhados em surpreender os nossos clientes com designs inovadores e emocionantes que refletem uma variedade de temas criativos, mantendo, claro, a nossa originalidade e a qualidade. Podemos dizer que, muito em breve, lançaremos uma coleção que irá certamente agradar aos fãs da música portuguesa.
“Muito em breve, lançaremos uma coleção que irá certamente agradar aos fãs da música portuguesa”
Quais serão os próximos artistas a serem convidados?
Como disse anteriormente, ainda não nos é possível revelar os próximos artistas com os quais iremos colaborar. Podemos dizer que temos parcerias com os “maiores” artistas, dentro de cada género musical e estamos confiantes de que irá agradar os fãs da música portuguesa. Estamos entusiasmados com esta possibilidade de expandir as nossas criações à medida que continuamos a crescer.
Há outras empresas que têm meias criativas. Como é que analisa este mercado mais irreverente?
O nicho de meias criativas tem crescido e evoluído ao longo dos anos, o que consideramos bastante positivo. Acreditamos que a concorrência saudável pode impulsionar o mercado e a criatividade, o que, a longo prazo, é benéfico para todos. No entanto, e no que nos diz respeito, continuaremos a manter a singularidade da Sock-Affairs, criando meias que se destacam pela sua originalidade, cuidado no desenho, qualidade e ligação emocional com os nossos clientes.
Qual é o vosso cliente-tipo?
Os nossos clientes típicos são adultos que apreciam moda e gostam de expressar a sua individualidade através das nossas meias criativas. Estes, valorizam produtos de qualidade e procuram maneiras de se destacar com estilo. Atendemos a um público diversificado, desde amantes da música até entusiastas de arte e moda.
“Atendemos a um público diversificado, desde amantes da música até entusiastas de arte e moda”
Há alturas sazonais de maior procura pelos vossos produtos? O Natal é o vosso pico de vendas?
Sim, observamos que existem períodos sazonais de maior procura pelos nossos produtos, com o Natal a ser um dos momentos de pico de vendas. As nossas meias também são populares como presentes de aniversário e no Dia dos Namorados. Os meses de novembro e dezembro representam, geralmente, cerca de 40% da nossa faturação anual.
As vossas vendas são online: maioritariamente ou exclusivamente? Preveem alargar o vosso canal de vendas a lojas físicas?
Atualmente, as nossas vendas são maioritariamente online, o que nos permite alcançar um público global e manter custos operacionais mais reduzidos. No entanto, reconhecemos o valor de ter presença em lojas físicas e estamos a considerar estratégias para alargar os nossos canais de distribuição, especialmente em locais estratégicos onde possamos oferecer uma experiência de compra única a quem tem esta preferência.
“As nossas vendas são maioritariamente online, mas estamos a considerar estratégias para alargar os nossos canais de distribuição”
Quais são as perspetivas de crescimento da empresa a curto e longo prazo?
A curto prazo, planeamos lançar novas coleções que reflitam os gostos dos nossos clientes e continuar a expandir a nossa presença no mercado para ampliar ainda mais a nossa visibilidade. A longo prazo, ambicionamos alcançar uma faturação de 5 milhões de euros em três anos, consolidando a nossa posição como líderes no mercado de meias criativas para adultos. Pensamos que o motor para este crescimento será, sem dúvida, o retalho internacional e estamos a procurar parceiros para nos ajudarem nesse processo.
“Ambicionamos alcançar uma faturação de 5 milhões de euros em três anos”
Onde é feita a produção atualmente e qual o volume anual de meias que fazem?
Todas as nossas meias são produzidas em Portugal, no norte do país, na região de na Lousã e em Barcelos. Escolhemos Portugal devido à sua longa tradição em fabricar têxteis de alta qualidade e queremos garantir que cumprimos os rigorosos padrões de qualidade que estabelecemos. O volume anual de produção é cerca de 250.000 pares de meias.
“Todas as nossas meias são produzidas em Portugal, no norte do país, na região de na Lousã e em Barcelos”
Existem planos de expansão geográfica ou de linha de produtos?
Sim, expandir está sempre nos nossos planos. Queremos crescer e estamos a considerar penetrar novos mercados e construir parcerias estratégicas para aumentar a nossa presença global. Quanto a novas linhas de produtos, por enquanto, queremos manter o foco exclusivamente em meias.
A empresa foi montada em 2018 com que investimento?
A Sock-Affairs foi fundada com um investimento inicial de cerca de 20.000€. Começámos modestamente, mas com determinação, acreditando desde o início na nossa visão. Optámos por ser 100% financiados por capitais próprios porque tínhamos uma visão clara e acreditámos nela desde o início: o nosso foco na qualidade e na criatividade tem sido fundamental para transformar o investimento inicial numa empresa de sucesso.
Estão a pensar realizar algum investimento em breve? Se sim, em que área e de que valor?
Sim, estamos a considerar investimentos que nos permitam expandir e inovar, apoiando o crescimento da empresa, no entanto, ainda não podemos partilhar detalhes específicos sobre esses investimentos. Estamos a explorar oportunidades, seja através de expansão geográfica ou desenvolvimento de produtos, para alcançar os nossos objetivos de crescimento a longo prazo. Desta forma, e como referido anteriormente, temos trabalhado continuamente para que uma possível venda da empresa faça sentido dentro de 3 a 5 anos.
“Temos trabalhado continuamente para que uma possível venda da empresa faça sentido dentro de 3 a 5 anos”
De 2018 até agora a equipa cresceu: quantos colaboradores têm?
Atualmente, contamos com uma equipa de 9 pessoas, abrangendo áreas como design, vendas e operações. Cada membro da equipa desempenha um papel fundamental no sucesso da Sock-Affairs, desde a conceção de designs até à gestão das operações e ao serviço ao cliente.
Desses quantos compõem a equipa criativa, de designers?
Temos uma equipa de 5 designers responsáveis por idealizar e conceber os designs, que tornam as nossas meias únicas. A sua criatividade e paixão são, sem dúvida, o coração da nossa marca.
Estão em fase de contratar mais pessoas?
Estamos satisfeitos com a composição atual e, de momento, não sentimos necessidade de expandir a nossa equipa.
Qual é o objetivo estabelecido para 2024?
O nosso objetivo estabelecido para 2024 é, naturalmente, continuar a crescer e superar os valores previstos para este ano, atingindo uma faturação de 2 milhões de Euros. Paralelamente, tencionamos continuar a expandir a nossa presença internacional, mantendo a qualidade e originalidade das nossas meias como prioridades.
Pergunta final, esta mais pessoal: qual é o modelo de meia da Sock-Affairs que costuma mais vezes vestir no dia-a-dia e qual é que guarda para ocasiões mais especiais?
No meu dia-a-dia, costumo usar as nossas meias inspiradas na Great Wave do Kanagawa. Para ocasiões mais especiais, gosto de optar por meias inspiradas nos estofos de um Porsche 930 Turbo, que é também um padrão escocês, ideal para ocasiões onde é importante “acelerar”!