A 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente uma declaração final.
Depois de uma longa maratona de negociações e dos trabalhos se terem prolongado por mais 26 horas do que o previsto, o presidente da conferência, Alok Sharma, pediu desculpa por o acordo não ser o ideal, mas sim o possível.
O documento reafirma o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC (graus celsius), decidido há seis anos no Acordo de Paris.
Detalhes do acordo
No entanto, uma emenda de última hora solicitada pela China e Índia modificou o texto preliminar sobre a redução do uso de carvão. Estes dois países pedriam que fosse inserida a expressão “redução gradual” (“phase down”) em vez de “eliminação” (“phase out”), como na proposta inicial.
Este facto motivou várias reações de desapontamento.

Um dos elementos que de forma mais veemente expressou o seu sentimento com os resultados da COP26 foi o ministro responsável por Mudanças Climáticas do Fiji, Aiyaz Sayed-Khaiyum, que declarou que o povo de Fiji está profundamente desapontado com a hipocrisia da linguagem sobre o carvão, indo de “eliminação” para “redução gradual”, literalmente minutos antes do encerramento da COP26.
“O que gostaríamos de expressar não é apenas o nosso espanto, mas o nosso imenso desapontamento pela maneira como isso foi introduzido e, em segundo lugar, parece que estamos lidando com essas várias cláusulas de uma forma desconexa. Não há confluência nas cláusulas anteriores antes disso, que fala sobre 1,5ºC”, indicou Aiyaz Sayed-Khaiyum.
Emocionando-se, o próprio Presidente da conferência climática COP26, Alok Sharma, pediu mesmo desculpa pelo modo como as negociações de última hora decorreram para ser possível aprovar o texto final.

“Peço desculpa pela forma como este processo foi desenvolvido. Peço imensa desculpa. Também percebo a profunda desilusão. Mas também é crucial que protejamos este acordo”.
Alok Sharma, Presidente da COP26
Sobre o financiamento para a ação climática, o texto final enfatiza a necessidade de levantar os valores “de todas as fontes para atingir o nível necessário e chegar aos objetivos do Acordo de Paris, incluindo um aumento significativo do apoio para países em desenvolvimento, além de 100 biliões de dólares por ano”, cerca de 87 mil milhões de euros.
O acordo pede que os governos antecipem os prazos de seus planos de redução de emissões e convida os 197 países participantes a reportar o progresso sobre as ações climáticas no evento do próximo ano, na COP27, que vai acontecer no Egito.

Reações: entre o copo “meio vazio” e o copo “meio cheio”
No início da última plenária de avaliação, muitos países lamentaram que o pacote de decisões não será suficiente. Alguns declararam estar desapontados, mas no geral, reconheceram que o texto era equilibrado. Países como Nigéria, Palau, Filipinas, Chile e Turquia disseram que, embora haja imperfeições, eles apoiavam o texto.
Os representantes das Maldivas e da Nova Zelândia foram menos otimistas. Em declarações, afirmaram que o resultado foi o “menos pior”, embora não esteja em linha com o progresso necessário.
“O mínimo que se pode fazer é implementar as promessas”, diz Ursula Von der Leyen.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, considerou que o acordo alcançado, em Glasgow, é “um passo na direção certa”, embora ainda haja trabalho por fazer.
“A COP26 é um passo na direção certa. 1,5 graus centígrados ainda é possível alcançar, mas o trabalho está longe de terminar”, defendeu Ursula Von der Leyen em comunicado.
A presidente da Comissão Europeia deixou claro que “o mínimo que se pode fazer é implementar as promessas” feitas na COP26 “o mais rápido que seja possível e, então, apontar mais alto”.
Von der Leyen considerou que se avançou nos principais objetivos estabelecidos para a conferência, recordando que alguns dos principais países responsáveis pela emissão de gases poluentes anunciaram novas metas de redução e que mais de 100 países se uniram à iniciativa global sobre metano, impulsionada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e ela própria.
O enviado dos Estados Unidos, John Kerry, disse que o texto “é uma declaração poderosa” e garantiu aos representantes que o país se comprometerá construtivamente num diálogo sobre perdas e danos bem como sobre adaptação, duas das questões que mais geram ambiguidades.

Boris Johnson, Primeiro-ministro do Reino Unido, referiu que “ainda há muito mais a fazer nos próximos anos. Mas o acordo de hoje é um grande passo e, decisivamente, temos o primeiro acordo internacional para reduzir o carvão e um roteiro para limitar o aquecimento global a 1,5 grau. Espero que olhemos para a COP26 como o início do fim das mudanças climáticas”.
Comentando o acordo final, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o conteúdo reflete os “interesses, contradições e momento da vontade política do mundo hoje”. António Guterres entende que a COP26 foi um “passo importante, mas não o suficiente”, defendendo ser “hora de entrar em modo de emergência” e entregar compromissos como o fim de subsídios para os combustíveis fósseis e a eliminação do carvão.

O Secretário-Geral da ONU diz que há uma necessidade de acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, eliminar o carvão, colocar um preço no carbono, proteger as comunidades vulneráveis dos impactos das mudanças climáticas e cumprir o compromisso de financiamento climático de 100 billiões de dólares para apoiar o desenvolvimento países.
“Não atingimos essas metas nesta conferência, mas temos alguns blocos de construção para o progresso. Quero enviar uma mensagem aos jovens, comunidades indígenas, mulheres líderes, todos aqueles que lideram a ação climática. Eu sei que estão desapontados, mas o caminho do progresso nem sempre é uma linha reta. Às vezes, há desvios”, disse Guterres.
“Embora lamentando que não tenha sido possível um consenso mais ambicioso, nomeadamente no que diz respeito aos combustíveis fósseis, à redução de emissões, aos prazos para atingir os objetivos limitados em discussão, ao apoio financeiro aos países menos desenvolvidos, para se adaptarem às mudanças que aí estão e mitigarem os efeitos para os seus povos, o Presidente da República saúda o pequeno passo dado pelo COP26 em Glasgow, que ainda assim representa um avanço, tímido, na luta contra as alterações climáticas”, afirmou o Presxidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na página oficial da Presidência da República.
A jovem ativista sueca Greta Thunberg afirmou também que a COP26 foi “blá blá blá”, entendendo ela que houve falta de ambição e demasiadas palavras e poucas ações para tentar diminuir as emissões de gases que causam o efeito estufa. “A COP26 acabou. Aqui vai um breve resumo: blá-blá-blá”, afirmou Greta Thunberg.

Anúncios mais encorajadores
Além das negociações políticas e da Cúpula dos Líderes, a COP26 reuniu cerca de 50 mil participantes online e pessoalmente para compartilhar ideias, soluções, participar de eventos culturais e construir parcerias e coalizões.
A conferência apresentou anúncios encorajadores. Entre os destaques, líderes de mais de 120 países, representando cerca de 90% das florestas do mundo, se comprometeram a conter e reverter o desmatamento até 2030.
Houve também uma promessa sobre a redução de metano, liderada pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Mais de 100 países concordaram em reduzir as emissões do gás de efeito estufa até 2030.
Enquanto isso, mais de 40 países, incluindo grandes utilizadores de carvão como Polónia, Vietnam e Chile, concordaram em abandonar o minério, um dos maiores geradores de emissões de carbono.
Cerca de 500 empresas de serviços financeiros globais concordaram em levantar 130 triliões de dólares (113 biliões de euros) – cerca de 40% dos ativos financeiros mundiais – para alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris, incluindo limitar o aquecimento global a 1.5 grau Celsius.
Outro importante acordo foi o compromisso conjunto dos Estados Unidos e da China em aumentar a cooperação climática na próxima década. As nações concordaram em tomar medidas para reduzir emissões de metano e carbono, fazendo a transição para adotar energia limpa. Estes dois países também reiteraram seu compromisso de manter viva a meta de 1,5 graus Celsius.
Em relação ao transporte, governos e empresas assinaram compromisso para terminar a venda de veículos com motores de combustão interna até 2035 nos principais mercados e até 2040 em todo o mundo. Pelo menos 13 nações também se comprometeram a acabar com a venda de veículos pesados movidos a combustíveis fósseis até 2040.
Por fim, países como Irlanda, França, Dinamarca e Costa Rica lançaram uma aliança inédita para definir uma data final para a exploração e extração nacional de petróleo e gás.