Com apenas seis meses de actividade, a Knok já deu nas vistas. José Bastos, co-fundador e presidente executivo, está em negociações com um fundo de capital de risco londrino para poder dar o salto.
Mas, por enquanto, a app da Knok (gratuita e que já conta com mais de 3 mil downloads) dá acesso a cerca de 100 médicos de diferentes especialidades na região de Lisboa e Porto, que prometem chegar junto do paciente em menos de meia hora.
Em Inglaterra já existem serviços semelhantes ao da Knok (como o Doctify ou o Dr. Now, este último à base de consultas por videoconferência tal como o Babylon e Push Doctor), mas José desfaz quaisquer dúvidas: “Não somos a Uber para médicos. Somos um serviço em que o doente é quem escolhe o médico que quer em casa”.
Uma vez seleccionado o médico, é pedido ao utilizador que introduza os dados do cartão de crédito para pagar a consulta. A partir daqui, é então estimado o tempo de espera que pode ser visualizado em tempo real.
“O nosso tempo médio entre o paciente pedir um médico e este chegar a sua casa é de 25 minutos”, adianta o presidente da Knok Healthcare. No final, caberá ao doente avaliar a consulta.
José salienta também que a Knok não trabalha para ninhos de mercado. É e continuará a ser um serviço para massas, e como tal o preço das consultas tenderá a baixar progressivamente. No início, quando começou a operar, o preço médio por consulta era de 80 euros. Agora é de 60 euros.
“O nosso objectivo é trabalhar para que continue a descer. Isso acontece porque um médico com um preço médio mais baixo acaba por fazer mais consultas. No caso das seguradoras, a componente de reembolso de seguro é cerca de 50%.
Mas vamos chegar a um ponto em que a taxa moderadora será mais alta do que o preço que a Knok cobra. É esse o nosso ponto de chegada”, acrescenta.
A Knok junta oito sócios fundadores numa equipa de nove pessoas com formação em Medicina, Farmácia, Gestão, Economia e Engenharia, e que inclui um medical partner. Redução agressiva de preços e expansão geográfica são as linhas mestras da Knok.
Depois de participar em vários eventos dedicados ao universo das start-ups em que marcaram presença fundos de capital de risco nacionais, a empresa do Porto conseguiu chamar a atenção de investidores mais focados na expansão internacional. Também chegaram ofertas de crowdfunding no mercado inglês, mas a preferência recaiu sobre o smart money.
Até ao momento, a Knok tem enviado médicos para tratar crianças (54%), idosos (29%) e outros adultos (17%). Entre as especialidades destacam-se: medicina geral e familiar, pediatria, psiquiatria, medicina geriátrica e outras mais pontuais, como é o caso de cardiologia infantil. “Não há nenhum hospital privado no grande Porto com esse serviço”, sublinha o gestor.
Na calha e a curto-prazo será possível chamar os médicos mesmo quando não estão on-line.“Não é uma plataforma de reservas, não é isso, mas é off-line. Vamos ver como reage o mercado. Mas em termos tecnológicos é fazer exactamente o mesmo que montar uma plataforma de reservas pura”, acrescenta.
Obsessão pelos números
Ter acesso ao médico quando queremos é o pensamento natural de quem falta alguns dias ao trabalho porque tem os filhos doentes.
“A nossa ideia começou com sermos clientes de um serviço destes, não era fazê-lo. Não havia ainda um drive empreendedor”, começa por contar. Até que o pensamento ganhou força e transformou-se numa ideia de negócio, obrigando a deixar para trás uma carreira de 17 anos no grupo Sonae.
“Não foi uma decisão fácil, mas há alturas em que é a coisa certa para se fazer. As carreiras têm evoluções, e também têm caminhos que fogem um pouco ao nosso controlo”, explica o presidente executivo da Knok.
José teve um percurso diversificado na Sonae. Começou a trabalhar com 22 anos depois de terminar a licenciatura em Gestão na Faculdade de Economia do Porto.
Foi depois para a direcção financeira da holding, a seguir para a Sonae Indústria como gestor financeiro, depois para a capital de risco Change Partners (que era da Sonae e do BPI), seguiu-se o family office de Belmiro de Azevedo e, por fim, de volta à holding, esteve no planeamento estratégico da Sonae.
Sobre os 17 anos que vestiu a camisola da Sonae (saiu no início de 2015), diz que aprendeu muito de corporate finance – foi o que fez durante a maior parte dos anos. “Na Sonae Indústria tive o privilégio de gerir uma equipa que estava em 10 países, desde o Brasil, ao Canadá e África do Sul.
Depois no capital de risco aprendi tudo sobre o negócio, e no family office a coisa mais forte que se aprende é a negociarn. Mas diria que não estaria aqui se não tivesse estado no planeamento estratégico”, diz.
Assumidamente obsessivo por números, o gestor reconhece que só toma decisões com base em dados. “Tenho permanentemente no background do meu portátil um ficheiro com as métricas da Knok sempre actualizadas. As decisões são para se tomar com a verdade dos números. E quando somos uma start-up tem de ser muito hands on”, afirma.
José confessa que é um workaholic e que são raras as semanas calmas na sua genda. Por norma, começam no Porto mas nunca sabe como acabam. No final de Abril esteve no “Wired Health 2016”, em Londres, e no início de Maio no “Health 2.0 Europe 2016”, em Madrid e em Barcelona. O vaivém é uma constante. É a vida típica de um empreendedor à procura do sucesso.