Depois de três anos complicados para o setor automóvel, a indústria começa agora a recuperar a confiança face às interrupções na cadeia de abastecimento que dificultaram a entrega de semicondutores e prejudicaram a produção. Segundo o estudo “The automotive supply chain: Pursuing long-term resilience”, realizado pelo Research Institute da Capgemini, os construtores automóveis sentem-se agora mais confiantes para lidarem com possíveis futuras interrupções da cadeia de abastecimento. Isto é fruto da nova estratégia seguida, em que repensaram, reestruturaram e refinanciaram a gestão das suas cadeias de abastecimento.
Ou seja, cerca de metade dos construtores automóveis acreditam que seriam capazes de evitar 60% das perdas de receita ocorridas em 2022, caso a escassez de semicondutores afetasse hoje, da mesma forma, o mercado. Acumular stocks foi a solução implementada por 81% dos fornecedores e 44% dos construtores, mas esta não é uma estratégia sustentável a logo prazo, pois o excesso de stock tem efeitos perniciosos na saúde das empresas deste setor.
As empresas automóveis estão agora perante o desafio de equilibrarem a sustentabilidade e a economia circular com fatores como os custos e a acessibilidade. De acordo com este estudo, as soluções digitais podem ajudar a resolver esta questão complexa.
Com a pandemia e a guerra da Ucrânia, os constrangimentos gerados foram penalizadores para o setor automóvel, que viram assim muito do seu negócio em standby. Segundo este research, embora os problemas tenham sido estabilizados no curto prazo, as cadeias de abastecimento estão ainda a atravessar um profundo processo de transformação, dada a sua complexidade. Esta transformação está ainda dependente de fatores como o aumento do ritmo da produção de veículos elétricos, das novas políticas remuneratórias e governamentais, bem como da adoção de novas funcionalidades baseadas em tecnologia, como os Advanced Driver Assistance Systems (ADAS), que aumentam a procura de semicondutores.
A aposta é agora no fornecimento neashoring
Por tudo isto, segundo o estudo da Capgemini, o foco dos construtores automóveis deverá agora centrar-se na questão da sustentabilidade, uma vez que já reduziram em 61% a lista de pedidos em atraso. Prevê-se ainda que haja uma nova redução de 39% nestes pedidos no próximo ano. Assiste-se, ainda uma profunda reorquestração, à escala global, uma vez que o abastecimento oriundo de localizações offshore que caiu 22%, esperando-se que caia mais 19% até 2025. A Europa está a liderar esta tendência, com a redução de um quarto de abastecimento offshore. Isto quer dizer, que a criação de novas cadeias de abastecimento de semicondutores e produção de veículos elétricos acelerará a tendência de nearshoring (produção de proximidade).
No que diz respeito às baterias para os veículos elétricos os fabricantes têm em média stock de matérias-primas para um período máximo de três anos.
A proporção média do valor do veículo atribuída aos sensores e semicondutores aumentou 51% nos últimos dois anos, e prevê-se que este valor aumente mais entre 2023 e 2025. No entanto, segundo este estudo, apenas metade dos construtores automóveis considera que o fornecimento atual dos componentes dos semicondutores é seguro. Ou seja, 70% dos inquiridos afirmaram que atualmente o grosso do abastecimento ainda provem da China, da Formosa, do Japão e da Coreia. Para reforçar o nível de segurança das cadeias de abastecimento, a indústria está a investir em métodos de fornecimento alternativos e a afastarem-se dos fornecedores de nível 1 e de nível 2. No que diz respeito às baterias para os veículos elétricos os fabricantes têm em média stock de matérias-primas para um período máximo de três anos.
Sustentabilidade ficou em standy no último ano
Embora a economia circular e a sustentabilidade sejam essenciais para construir cadeias de abastecimento sólidas no futuro, apenas menos de metade das empresas inquiridas implementou iniciativas nesta área. Ou seja, devido à consecutivas crises no setor os grandes grupos de fabricantes automóveis deixaram ficar as suas iniciativas na área da sustentabilidade em segundo plano. Parte destas iniciativas não aconteceram por falta de fornecimento, em parte dos próprios materiais reciclados. Certo é que apenas 37% dos players deste setor têm em conta a gestão da pegada de carbono e dos riscos ambientais nas suas decisões relativamente à cadeia de abastecimento.
As empresas automóveis estão agora perante o desafio de equilibrarem a sustentabilidade e a economia circular com fatores como os custos e a acessibilidade. De acordo com este estudo as soluções digitais podem ajudar a resolver esta questão complexa.