Queria ser futebolista no Benfica, clube pelo qual tem paixão, mas foi na música que acabou por fazer sucesso. João Rosário, 33 anos, que ainda joga no Gaeirense, é conhecido como DJ Kevu e só não dá mais concertos na Índia porque não quer. A família, a filha de cinco anos e a namorada, são a principal razão por que não quer passar tanto tempo fora de Portugal. Além disso também acredita que o descanso é fundamental para continuar a ser um bom artista. “Tento não me sobrecarregar para poder fazer as coisas com a mesma qualidade, a mesma energia e a mesma vontade. Não quero chegar a uma altura que estamos só a entrar em personagem, pois quando se perde a paixão, o público não sabe, mas sente”, diz, com sabedoria. Recebe entre 2 mil e 7 mil euros por atuação, dependendo do local onde atua e dos contratos que assina e ganha ainda nos direitos de autor das músicas que cria para outros artistas.
Ficou desolado por não ter conseguido tocar na festa do Benfica, no Marquês de Pombal, no passado mês de maio, pois é um sonho que alimenta, mas como já tinha um compromisso nesse fim-de-semana, em Barcelos, não foi lhe possível estar presente. Afirma, a propósito, que os espetáculos agendados são uma prioridade, seja qual for o local. “Haverá outras oportunidades para cumprir esse desejo, tenho a certeza”, diz.
Recebe entre 2 mil e 7 mil euros por atuação, dependendo do local onde atua e dos contratos que assina e ganha ainda nos direitos de autor das músicas que cria para outros artistas.
O sucesso que alcançou a nível internacional – mais até do que em Portugal -, nos últimos oito anos tem sido tal que já conseguiu cumprir outro dos seus sonhos: comprar um BMW 8, um automóvel que ambicionava desde que andou num igual na Tailândia. Conseguiu concretizar esse objetivo em 2020, em plena pandemia. “Eu sou uma pessoa muito impulsiva, ou seja, não perco muito tempo a pensar naquilo que quero quando não posso comprar, mas quando posso, tem de ser logo”. E foi assim: num domingo decidiu comprar o veículo, viu um dourado no OLX, tal como desejava, e na segunda-feira fechou o negócio. Passado um ano e tal decidiu comprar outro automóvel, mais confortável para a família, um Porsche Panamera S, que acaba por ser o seu veículo diário.
Para o futuro, o objetivo principal é continuar a ser feliz no que faz. “Se disser que quero ter cada vez mais espetáculos estarei a mentir, porque apenas quero manter os 60 a 70 por ano que já tenho atualmente. Mais do que isto não me deixa tempo para viver a vida em pleno”. O cachet dos concertos depende do contrato que faz, se tem ou não voos incluídos.” Posso ir a Singapura tocar por 4 mil euros, por exemplo, mas tenho de pagar o voo que custa 1.200 euros. Prefiro sempre receber menos, mas que sejam os clientes a pagar o custo do transporte”, explica. Para fora vai, a maior parte das vezes, sozinho. Nos concertos em Portugal é que costuma levar uma equipa de seis ou sete elementos, pois os custos são menores.
Como surgiu o artista Kevu
João Rosário, natural de Caldas da Rainha, onde ainda vive atualmente, trabalhava como vendedor de uma operadora de telecomunicações, quando, em 2013, foi aos Estados Unidos assistir ao festival de música electrónica Ultra Music Festival, onde atuou o DJ Hardwell. Tinha então 23 anos. “Foi aí que me apaixonei pela música”. Como tinha alguma poupança, investiu numa mesa de mistura e mais algum equipamento que lhe permitisse começar esta aventura. “Percebi que precisava produzir música minha para ir mais além, porque tocar a música dos outros funciona só a nível local e não a nível internacional”, afirma. Deixou o trabalho para se dedicar só à música electrónica e não foi fácil para os pais aceitarem que deixasse um bom salário para ficar em casa a fazer música todo o dia. De facto, durante mais de um ano foi um percurso difícil. Em Portugal não é fácil um DJ viver exclusivamente da música, mas com trabalho e perseverança isso é possível, e Kevu afirma que hoje vive apenas desta sua atividade.
“Atualmente já fiz mais de 50 concertos na Índia”, afirma Kevu, que vai a este país quatro ou cinco vezes no ano e só não vai mais porque é um processo muito cansativo.
No final de 2014 já tinha marcado os primeiros concertos locais e, em 2015, surgem os primeiros internacionais. Já nesta altura grandes artistas tocavam as suas produções, como foi o caso do duo de holandeses Blaster Jaxx, atualmente seus amigos. “Hoje são muitos os artistas que tocam a minha música e ganho também com os direitos de autor, mas naquela altura era mais difícil”, explica. O artista explica que mais de 50% da música que passa nos concertos é criação sua, sejam originais ou remix.
A atuação que despoletou a sua carreira foi em agosto de 2015, nos Açores: duas atuações feitas em duo, com um colega que, entretanto, seguiu outro caminho. Nessa altura receberam 400 euros por cada concerto, 800 euros num fim-de-semana. Conheceu este amigo num dos fóruns de música e decidiram concorrer juntos a um concurso com um remix, tendo ficado em terceiro lugar. Ainda em 2015 receberam um email dos Blasterjaxx a dizer que queriam tocar a sua música e acabaram por passar juntos uma semana num evento, perto de Amesterdão.
O sucesso na Índia
Com pernas para andar, o projeto foi crescendo, cada vez com mais fãs e seguidores. Em 2016 surgiu o primeiro convite para atuar na Índia e na Tailândia, fazendo na altura uma tour em quatro cidades. “A tour da Índia, foi estranha, não conhecíamos ninguém, e a minha mãe e a do meu colega tinham muito medo do que nos poderia acontecer. Mas correu tudo bem. Atualmente já fiz mais de 50 concertos na Índia”. Afirma que vai a este país quatro ou cinco vezes no ano e só não vai mais porque é um processo muito cansativo. “Às vezes faço 12 concertos numa tour. Eu diria que é o país onde tenho mais fãs. Tenho muitos fãs na Chéquia, na Alemanha, na Holanda, na Eslováquia, mas na Índia é onde a pessoas mais têm a cultura da idolatria. As pessoas atiram-se ao carro, são muito apaixonadas. E, mesmo quando não conhecem, ao saberem que é alguém internacional, têm muito respeito e muita admiração”, explica.
No primeiro concerto neste país asiático tocou num clube privado, para cerca de 200 pessoas. “Na Índia os clubes são caros: tenho concertos em que a entrada custa 120 euros, o que equivale quase a mil euros se fosse cá. Fiquei apaixonado pela Índia, apesar de ser um país com muitos problemas, tem muita cultura, muita energia, muita cor, muita vida. Na Índia estou sempre bem disposto”, afirma. Naquele país dá concertos tanto para 35 mil pessoas como para 4 ou 5 mil, geralmente em festas académicas
“Em 2016 já tinha um bom ano de concertos. Em julho de 2017 sou convidado para ir tocar ao EDP Beach Party, que é um dos maiores festivais de música electrónica em Portugal. Foi a primeira vez que levei os meus pais a um evento daquela dimensão, com 20 ou 30 mil pessoas, e aí eles perceberam que isto não era um hobbie, mas uma atividade à séria”, remata.
Com cerca de 400 mil ouvintes no Spotify, está a apostar agora nas redes sociais, sobretudo Instagram, com perto de 140 mil seguidores, e no Youtube, ainda com 6 mil utilizadores apenas, e mais recentemente Tik Tok.
Em 2017 tocou pela primeira vez no Ultra Music Festival, em Miami, e em 2019 regressou para tocar no segundo maior palco do festival, “que foi talvez o maior em que já toquei, não em número de pessoas, mas em mediatismo”, diz. Entre 2019 e 2018 andou pelos melhores clubes da Ásia, na tour iniciada na China, onde passou um mês em atuação. Quando começou a pandemia estava no Nepal e preparava-se para fazer outra tour na China, quando ficou tudo cancelado. “Para mim, naquela altura até me soube bem, porque estava muito cansado, desgastado, a perder um pouco a paixão”, desabafa. Estava habitualmente em tour duas semanas e vinha a Portugal dois dias e sentia que estava a perder o crescimento da filha. Nessa fase pandémica virou-se para as redes sociais e foi talvez o primeiro artista a dar um concerto de musica electrónica em streaming. Aproveitou para pôr em prática outros negócios que tinha em mente, mas que até então não tinha tempo para concretizar. Tocou recentemente no World Club Dome, em Frankfurt, na Alemanha, um dos maiores clubes do mundo, onde passam artistas como David Gueta, Steve Aoki, Marshmello, entre outros, e já tem cerca de 30 concertos agendados para o verão.
Com cerca de 400 mil ouvintes no Spotify, está a apostar agora nas redes sociais, sobretudo Instagram, com perto de 140 mil seguidores, e no Youtube, ainda com 6 mil utilizadores apenas, e mais recentemente Tik Tok.