Se lhe dissessem que os traumas não são apenas individuais e que cada um de nós acumula traumas de várias gerações? E que muitas mulheres portuguesas não conseguem alcançar o seu potencial pleno de sucesso e felicidade porque estão, muitas vezes, «presas» a traumas de grupo, como traumas da colonização, traumas da ditadura, de abandono dos maridos para a guerra colonial? Acreditava? Pois a especialista brasileira Ana Lisboa, CEO do Instituto Conhecimentos Sistémicos e fundadora do Movimento Feminino Moderno não só acredita como afirma que a ciência, através dos estudos realizados da epigenética, já comprovou esse mesmo facto.
Os estudos da epigenética têm por base a observação de que as experiências ambientais afetam os nossos genes. Ou seja, o nosso ADN acumula marcas químicas – chamado de epigenoma – que registam as diversas experiências ambientais vividas por cada um. E há inúmeros estudos que comprovam que estas marcas passam de geração em geração, influenciando os comportamentos futuros dos vários descendentes.
“Para muitas mulheres, o medo tem sido um obstáculo para a sua expressão. Crescemos a ouvir que devemos ser discretas, não chamar a atenção, ou seríamos consideradas arrogantes. Com o tempo, essa mentalidade aprisiona os nossos sonhos e impede-nos de alcançar a verdadeira prosperidade” explica Ana Lisboa.
“Acredito que precisamos perceber que os traumas não são apenas individuais. Pensamos muitas vezes que o trauma se liga com o pai e com a mãe, mas a ciência, através da epigenética, já comprovou que armazenamos no nosso ADN traumas de sete gerações”, refere, em entrevista à revista Forbes Portugal, a conceituada psicanalista especializada em desenvolvimento pessoal feminino. Com mais de 65 mil alunas em cerca de 42 países, Ana Lisboa lidera a partir do Brasil – e agora também de Portugal – um movimento que já é uma referência mundial no tratamento de traumas e do fortalecimento da autoestima feminina.
Foi em 2021, em Florianópolis, no sul do Brasil, que a especialista realizou o seu primeiro evento dedicado à mentalidade e terapia feminina, designado de Encontro Internacional Feminino Moderno, que ganhou destaque no Guiness World Records por ser a maior constelação familiar do mundo. A quarta edição vai realizar-se em Portugal e acontece já no próximo dia 27 de outubro, no Casino do Estoril, na qual espera reunir perto de mil mulheres, oriundas de vários países europeus. Os bilhetes para o encontro vão dos 100 aos 500 euros, sendo que estes últimos estão já esgotados.
Estarão presentes como oradores Ana Lisboa, que abordará diversos temas, desde a criança interior aos relacionamentos, Inês Gaya, especialista em cura emocional, e Maria Maia, empreendedora que falará sobre vender e prosperar sem perder o feminino e ainda Felipe Belanda, médico neurocientista. Ana Lisboa refere que este será um evento imersivo, focado no crescimento pessoal, no desbloqueio emocional que conduzirá a uma mentalidade de abundância, com recursos a diversas palestras e workshops.
“Acredito que precisamos perceber que os traumas não são apenas individuais. Pensamos muitas vezes que o trauma se liga com o pai e com a mãe, mas a ciência, através da epigenética, já comprovou que armazenamos no nosso ADN traumas de sete gerações”, refere a especialista.
“Para muitas mulheres, o medo tem sido um obstáculo para a sua expressão. Crescemos a ouvir que devemos ser discretas, não chamar a atenção, ou seríamos consideradas arrogantes. Com o tempo, essa mentalidade aprisiona os nossos sonhos e impede-nos de alcançar a verdadeira prosperidade” explica a fundadora do movimento, que acredita que participar nesta viagem trará a muitas mulheres a oportunidade de quebrarem barreiras.
Quem é a empreendedora por detrás deste movimento?
Ana Lisboa, 33 anos, nasceu no Rio Grande do Sul, numa pequena cidade do interior do Brasil e mudou-se para o litoral aos seis anos de idade. Licenciada em Direito, tinha apenas 23 anos quando veio fazer um mestrado para Lisboa, a sua cidade homónima e pela qual se apaixonou. Coincidência ou não, foi na capital portuguesa que se “descobriu a si própria” e decidiu dar prioridade à sua vida.
É que nesta tenra idade já tinha tido vários problemas de saúde, incluindo nódulos nos ovários e nos seios, e um quase burnout a exercer advocacia. Especializada em Direito de Família – o seu trabalho final foi sobre resgate da dignidade da mulher através de políticas públicas -, e desde sempre envolvida em projetos sociais, muito pelo exemplo da sua mãe, diretora de uma escola pública, cedo começou a perceber que esta era a área certa para si.
Licenciada em Direito, tinha apenas 23 anos quando veio fazer um mestrado para Lisboa, a sua cidade homónima e pela qual se apaixonou. Coincidência ou não, foi na capital portuguesa que se “descobriu a si própria” e decidiu dar prioridade à sua vida.
Depois de fazer a especialização assumiu a liderança da OAB Jovem (Ordem dos Advogados Brasileira), na sua cidade, e continuou este estreito trabalho com as mulheres, nomeadamente na área da violência doméstica. Foi numa palestra dos direitos das mulheres que conheceu o tema das constelações familiares aplicadas ao Direito.
“Há 10 anos era um tema muito novo no Brasil, pouco se falava nele, mas percebi que me levantava questões pertinentes sobre a minha vida, os meus relacionamentos – tinha então um namorado com quem não estava feliz -, o meu trabalho, no qual trabalhava muito, mas era mal paga. Aí comecei a me interessar por estas terapias”, relembra Ana Lisboa. Confessa que nessa altura começou a estudar o tema das constelações familiares, da psicanálise, do direito sistémico e foi aí que precisava de um mestrado para poder dar aulas na universidade mais virado para estas temáticas.
O início de uma nova etapa de cura
Ao fazer o mestrado de Ciências Jurídicas e Sociais, em Portugal, na Universidade Autónoma de Lisboa, voltou ao Brasil, já com Lisboa no coração, pronta a iniciar uma nova etapa. Na OAB começou a aplicar as constelações familiares às vítimas de violência doméstica, aos conflitos familiares, compreendendo que a grande maioria dos conflitos são mais emocionais do que processuais. O sistema judiciário brasileiro começou a abrir-se para esta temática, e começou a formar advogados, juízes para o tema das constelações familiares – que, em Portugal, ainda não está a ser devidamente tratado.
“No Brasil somos uma das poucas escolas que se especializou nesta temática e tem até uma certificação pelo Ministério da Educação, equivalente à da Universidade”, diz Ana Lisboa.
Entretanto conheceu o atual marido, Filipe Belanda, médico de medicinas integrativas e especialista em epigenética, e juntos abriram uma clínica médica, ao mesmo tempo que funda, em 2019, o Instituto de Conhecimentos Sistémicos. Conhecimentos Sistémicos porque, como explica, se trata de “uma combinação de várias técnicas e ferramentas dirigidas para a saúde mental, entre elas a psicanálise, a psicologia, a neurociência, a epigenéticas, para que juntas se consiga aceder aos traumas, recuperando a saúde mental e o bem-estar”. Afirma que não aplica nada que não tenha uma base científica, que seja testada e validada.
Apesar de estar a enveredar por este caminho, continuava a aplicar estas terapias ao Direito, conciliando com a sua atividade de advogada. Porém, em 2020, percebeu que não dava para continuar a exercer advocacia. “Foi aí que fiz a transição de carreira e comecei a dar consultas. Como em 2020 fechou tudo, entrei no digital, comecei a fazer diretos online, a preparar cursos”, explica. “No Brasil somos uma das poucas escolas que se especializou nesta temática e tem até uma certificação pelo Ministério da Educação, equivalente à da Universidade”, diz Ana Lisboa.
O crescimento de um negócio fora de fronteiras
Desde 2020 que o negócio da educação especializada em saúde mental feminina lançado por Ana Lisboa tem crescido a bom ritmo, sobretudo nos últimos dois anos. Trata-se de um modelo de negócio que já gerou resultados de 38 milhões de reais (cerca de 6,8 milhões de euros) em 2023.
“Hoje somos a primeira formação internacional com certificado. Temos uma empresa no Brasil, e outra em Portugal, e já estamos a formar terapeutas portugueses. Temos uma turma de 140 com alunos de nove países da Europa”, diz. “Primeiro fazemos o processo de cura destas mulheres, e depois damos ferramentas para serem bem-sucedidas nos negócios”, explica. Ou seja, o propósito da empresa passa por tornar as mulheres mais femininas, através da saúde mental, mais próprias, trazendo rendimentos, e mais seguras, com autoestima e poder.
A estratégia futura passa por constituir um grupo, que até já tem nome: Grupo Altis – Ana Lisboa Terapia Integrada Sistémica. Neste grupo vai nascer uma startup com o objetivo de potenciar negócios femininos, ou seja, vai financiar negócios com potencial para alavancar os mesmos.
Apresenta cursos de nível um, de entrada no tema, até à formação de terapeutas em conhecimentos sistémicos. No final do ano vai abrir pós-graduações. Estes cursos têm ramificações para a área de negócios, de marketing, de relacionamentos. “No primeiro semestre deste ano, a nossa plataforma proporcionou cerca de 60 milhões de reais (cerca de 9,8 milhões de euros) em negócios entre as nossas alunas”, refere.
A estratégia futura passa por constituir um grupo, que até já tem nome: Grupo Altis – Ana Lisboa Terapia Integrada Sistémica. Neste grupo vai nascer uma startup com o objetivo de potenciar negócios femininos, ou seja, vai financiar negócios com potencial para alavancar os mesmos. “Vimos que as nossas alunas tinham boas ideias de negócio e como a comunidade é muito grande começavam a vender entre elas com a nossa assessoria, e algumas ficaram ricas. Achei que podíamos fazer disto uma startup, e vamos pegar nos talentos da comunidade, e fazer com que estas mulheres criem ótimos negócios”, remata Ana Lisboa.