A entrada dos militares russos na Ucrânia e o escalar da violência levanta a questão do impacto que esta guerra poderá vir a ter na economia portuguesa. O Primeiro-ministro, António Costa, já admitiu que “não há uma guerra na Europa que não tenha efeitos negativos sobre todos nós”. Sem esquecer a crise energética e os efeitos nos preços da energia, do gás e do petróleo, António Costa sublinhou ainda: “Naturalmente, que o conjunto destas sanções aplicadas à Rússia tem efeitos na economia europeia e, portanto, também na economia de Portugal”.
Mas a verdade é que alguns analistas antecipam, para já, um efeito apenas indireto deste conflito que opõe a Rússia e a Ucrânia.
Em declarações à FORBES, o antigo ministro da Indústria e Energia, Luís Mira Amaral, não antecipa implicações diretas na economia nem no fornecimento de petróleo e gás a Portugal. Ainda que reconheça que a Rússia é o segundo maior produtor mundial de gás natural e petróleo, o antigo governante é perentório: “Não vejo quer no petróleo quer no gás ameaças para Portugal de cortes de fornecimento”. Isto porque, “no petróleo o mercado mundial é bastante diversificado e no gás natural dependíamos muito pouco da Rússia, ao contrário da Alemanha, para as importações do gás natural”. No entanto, Mira Amaral salienta que: “Vejo impactos no preço de energia que vão aumentar o fenómeno de inflação que já existia antes do conflito. Com este conflito vai ser ainda mais reforçado”. Com a escalada dos preços que vão continuar a subir quer no petróleo quer no gás, o ex-ministro da Energia admite que “aqui sim vejo ameaças para a economia portuguesa”.
Questionado sobre se o conflito terá implicações nas relações comerciais com a Ucrânia, Mira Amaral começa por lamentar a invasão que o país está a enfrentar, mas sublinha que não antevê impactos para a economia portuguesa porque este não é um dos principais parceiros.
Também o economista e professor universitário, João Duque, refere à FORBES que “a economia portuguesa é mais afetada por via indireta do que direta. A exposição quer a Rússia quer a Ucrânia não é muito elevada”. O economista também realça que a principal questão trazida por este conflito estará “mais relacionada com a turbulência dos mercados e para as implicações que vai ter no preço da energia que podemos não importar diretamente, mas importamos indiretamente”. João Duque socorre-se dos números para lembrar que as exportações de Portugal para a Rússia representam cerca de 200 milhões de euros e para a Ucrânia 30 a 35 milhões de euros. E sublinha que “da Rússia importamos mais do que exportamos, assim como da Ucrânia. À volta de 1067 milhões de euros da Rússia em 2021, mas há oscilações muito significativas de ano para ano, e são sobretudo combustíveis minerais, alguns metais, produtos químicos. Da Ucrânia importamos cerca de 300 milhões em produtos de origem animal e matéria-prima”.
Olhando para a presença em Portugal de cidadãos da Rússia através do regime especial de autorização de residência para atividade de investimento, ou programa dos vistos gold, conclui-se também que o impacto não será elevado.
O investimento com origem da Rússia, através deste regime ascende a mais de 277,8 milhões de euros desde a sua implementação em 2012. No total foi atribuído a 431 cidadãos russos que utilizaram os vistos gold para obterem autorização de residência em Portugal. Em 2020, de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras foram concedidos 63 vistos gold a cidadãos russos.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, o país liderado por Vladimir Putin foi o 34º cliente das exportações portuguesas de bens em 2020, com uma quota de 0,3% no total, ocupando a 16ª posição ao nível das importações (0,8%). Na lista das exportações destacam-se os Produtos Agrícolas (17,4% do total), a Madeira e Cortiça (17,2% do total), os Produtos Alimentares (15,7% do total), as Máquinas e Aparelhos (13,3% do total) e o Calçado (9,4% do total). Os principais produtos importados foram os Combustíveis Minerais (53,6% do total), os Produtos Químicos (14,7% do total), os Produtos Agrícolas (12,3% do total), os Metais Comuns (10,5% do total) e a Madeira e Cortiça (3,5% do total).