O acordo que permite à Estée Lauder comprar a insígnia de moda do estilista norte-americano Tom Ford, por 2,800 mil milhões de dólares (2,6M€), fez do estilista um bilionário.
O estilista de 61 anos junta-se ao grupo dos bilionários 17 anos depois de fundar a sua marca, com o seu nome.
A gigante dos cosméticos Estée Lauder compra a marca Tom Ford por US$ 2,3 biliões em dinheiro e dívidas, mais US$ 300 milhões em pagamentos diferidos a pagar a partir de julho de 2025. Feitas as contas, o acordo avalia a empresa em US$ 2,8 biliões, valor que inclui US$ 250 milhões provenientes da Marcolin, marca italiana de óculos que detém a licença da linha de óculos de Tom Ford.
Trata-se da maior operação realizada até à data pela Estée Lauder.
A Forbes estima que Tom Ford receberá cerca de US$ 1,1 bilião em dinheiro com a venda, após a dedução dos impostos estimados (espera-se que a transação seja concluída no primeiro semestre de 2023).
Ford possuía quase 64% da empresa de acordo com um registo de 2013, e ele não parece ter vendido nenhuma das suas participações desde então. Ele também é dono, pelo menos, de duas casas, incluindo uma em Holmby Hills, em Los Angeles, e outra no Upper East Side de Nova Iorque, que valem US$ 65 milhões. Ao todo, o património de Ford agora vale cerca de US$ 1,2 bilião. Estée Lauder e Tom Ford não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Forbes.
Américo Amorim sai a ganhar
Tom Ford não é, contudo, o único que ganhou dinheiro com esta venda. A marca de luxo italiana Zegna detinha uma participação de 15% na empresa, avaliada em US$ 345 milhões (antes dos impostos). O antigo parceiro de negócios da Ford, Domenico De Sole, detinha pouco mais de 11% da empresa, agora avaliada em US$ 259 milhões (antes dos impostos). O Grupo empresarial português Américo Amorim, fundado por Américo Amorim (falecido em 2017), detinha os 10% restantes, agora no valor de $ 230 milhões antes dos impostos.
Tom Ford registou um lucro de US$ 96 milhões em vendas de US$ 1,7 bilião em 2021, de acordo com o último relatório anual apresentado pela Zegna, de capital aberto, que manterá uma licença de longo prazo para as roupas e acessórios da marca.
O ano passado marcou uma reviravolta em relação a 2020 e 2019, quando a marca registou perdas líquidas.
A Tom Ford tem 98 lojas em vários países, incluindo China, Itália, Japão, Rússia, Suíça e Emirados Árabes Unidos.
Tom Ford permanecerá como um “visionário criativo” até ao final de 2023, de acordo com o comunicado que anunciou o acordo. “Não poderia estar mais feliz com esta aquisição, já que a The Estée Lauder Companies é o lar ideal para a marca”, disse Ford no anúncio. “A Estée Lauder tem sido parceiro extraordinário desde o primeiro dia da criação da empresa e estou emocionado em vê-lo a tornar-se o administrador de luxo neste próximo capítulo da marca Tom Ford.”
Nascido em 1961
Nascido em Austin, Texas, em 1961, Ford cresceu em Santa Fé, Novo México, antes de se mudar para Nova Iorque para estudar história da arte na NYU. Transferiu-se, então, para a Parsons School of Design, estudando arquitetura nos campus da universidade em Nova Iorque e Paris. O seu interesse pela moda começou quando tirou um ano da faculdade para trabalhar na assessoria de imprensa da casa de moda de luxo francesa Chloé, em Paris. Após o curso, ele conseguiu um emprego a trabalhar para a designer de roupas desportivas Cathy Hardwick.
Ford teve a sua primeira grande oportunidade em 1990, quando se mudou para Milão para trabalhar como designer de moda feminina para a Gucci. Ele rapidamente subiu na hierarquia, tornando-se diretor de design em 1992 e diretor criativo da marca em 1994. Foi na Gucci que conheceu o seu atual parceiro de negócios, Domenico De Sole, então CEO da empresa. Em 1995, a dupla ajudou a abrir o capital da Gucci nas bolsas de valores de Amsterdão e Nova Iorque.
Batalha entre dois magnatas franceses
A oferta pública colocou a empresa na mira dos grandes tubarões o mundo da moda que procuravam uma oportunidade. Em janeiro de 1999, Bernard Arnault – o presidente e CEO do conglomerado de luxo LVMH, agora com um património estimado em $ 176,1 biliões – adquiriu uma participação de mais de 5% na Gucci. Logo depois, Arnault comprou outra participação de 9,5% de Patrizio Bertelli, o bilionário co-CEO da Prada. Em fevereiro de 1999, a LVMH controlava 26,7% das ações da Gucci. “Ele acabou de se convidar para jantar sem ligar primeiro”, disse De Sole à Forbes na época, referindo-se a Arnault.
Um mês depois, em março de 1999, outro bilionário da moda francesa – François Pinault, fundador do grupo de luxo Kering, agora com um património estimado em US$ 36,8 biliões – comprou uma participação de 40% na Gucci por US$ 3 biliões, ou US$ 5,4 biliões em dólares aos dias de hoje. Isso ajudou a Gucci a expandir e a adquirir a Yves Saint Laurent em 2000, com Tom Ford elevado ao cargo de diretor criativo de todo o grupo.
Mas a batalha entre os dois magnatas franceses pelo controle da Gucci continuou até 2001, quando Pinault comprou metade da participação de Arnault na Gucci por US$ 752 milhões (US$ 1,3 bilião ajustado pela inflação) e concordou em comprar as ações restantes da Gucci até 2004.
De 1994 – quando Ford se tornou o diretor criativo da Gucci – até 2003, as vendas da Gucci cresceram quase 1.200%, chegando a quase US$ 3 biliões. Ford e De Sole supervisionaram as aquisições de marcas de luxo da Gucci, incluindo Balenciaga e Bottega Veneta.
Mas Ford deixou a Gucci logo depois de Pinault concluir a sua aquisição em abril de 2004, supostamente devido a divergências sobre o controlo da empresa.
Em março de 2005, a Ford partiu por conta própria e estabeleceu a sua própria marca, com De Sole a assumir o cargo de presidente da nova empresa (extra mundo da moda, Tom Ford também abriu uma produtora de filmes, Fade to Black, e produziu o filme de 2009 A Single Man, com Colin Firth e Julianne Moore, o qual recebeu uma nomeaçãopara os Oscares para o ator Firth).
A primeira loja principal da Ford foi inaugurada em Nova Iorque em 2007, ano em que vendeu uma participação de 25% na marca ao Grupo Amorim por um valor não revelado. Em 2015, a Amorim vendeu 15% à Zegna, ficando com 10% da Tom Ford.
Investimentos em arte e imóveis
Ao longo dos anos, Tom Ford também fez investimentos em arte e imóveis: em 2010, teria vendido um autorretrato de Andy Warhol por US$ 32,6 milhões. Ele também era dono do Cerro Pelon Ranch de 8300 hectares no Novo México – que serviu como local de filmagem para filmes como Silverado e Thor – até vendê-lo por um valor não revelado em janeiro de 2021. Dois meses depois, ele também vendeu uma mansão vitoriana no luxuoso bairro londrino de Chelsea por US$ 17 milhões.
Não está claro o que o futuro reserva para Tom Ford depois de 2023, quando o seu papel na Estée Lauder terminar. Facto é que dinheiro é coisa que, para já, enquanto recém-bilionário, capacidade de investimento não lhe falta para se poder lançar noutras aventuras.