Cerca de nove meses depois de ter sido eleito como presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas deu uma entrevista ao conhecido editor de economia da CNN Internacional, Richard Quest, na qual abordou alguns dos aspetos estruturais do modelo de cidade que está a procurar criar.
Habitação, turismo e inovação foram os três grandes temas da conversa.
Questionado por Richard Quest, sobre o que pensa fazer, enquanto responsável da autarquia, para enfrentar os tempos difíceis da chamada estagflação, Moedas observa que Lisboa é “uma cidade muito resiliente” e “o que temos que fazer é investir mais em inovação e em cultura”, de modo a que a capital portuguesa se torne um “spot da inovação da Europa”.
O presidente da edilidade lisboeta considera que o facto de ter sido comissário europeu para a ciência de lhe dá capacidade para conseguir proporcionar esse salto a Lisboa “e criar empregos nesta nova economia”.
Richard Quest confrontou Carlos Moedas sobre onde é que pensa ele obter dinheiro para promover a cidade, numa altura de recessão, seja ela técnica ou não. O presidente da autarquia responde que “temos o dinheiro da próxima geração da Europa”, acrescentando que “estamos a investir esse dinheiro não apenas em inovação, mas também em habitação social” [programa Renda Acessível, n.d.r.] como forma de proteger as pessoas mais pobres e de lhes dar “a oportunidade de viver bem”.
Sobreturismo? Moedas diz que Lisboa não tem
O repórter da CNN quis ouvir Moedas sobre como pensa ele resolver as externalidades associadas ao problema “que os outros gostariam de ter” que se prende ao facto de, por Lisboa ser popular e ser um destino “hot” da atualidade, os portugueses não conseguem viver na cidade (devido aos elevados preços das habitações) e de haver um número de turistas.
“Temos uma economia muito diversificada. O turismo é 25% da nossa economia em Lisboa, mas depois temos os serviços a valer 20% e os serviços financeiros com um peso de 15%. Procuramos diversificar e a tecnologia está a atrair muitas pessoas que vêm como turistas, mas depois ficam”.
Moedas diz: “Quero que as pessoas venham e depois quero que fiquem para criar as suas empresas e gerar criar empregos; e é para isso que estou a trabalhar todos os dias, de modo a que as pessoas abram empresas em Lisboa e aqui permaneçam. Todos estes nómadas digitais que vêm a Lisboa: é bom para a empresa é bom para as empresas”.
Richard Quest insiste na questão do sobreturismo e nas dificuldades que traz para quem vive e quer viver na cidade.
Moedas responde: “Temos que investir em habitação, por isso, estamos a disponibilizar muitas casas, não apenas para os pobres, mas para outros cidadãos, como professores e policias que não podem mais pagar para morar na cidade. Estou a fazer isso para ter mais habitação pública em lisboa e estamos a investir muito nisso e isso é absolutamente crucial”.
Moedas diz ainda que há que “entender que muito desta economia como a 25% que temos no turismo é quase 40% do emprego em Lisboa, então, temos que manter o turismo. O turismo é importante para a cidade e para a economia”.
Mas como é que se para o sobreturismo?
“Não queremos parar o turismo e estamos muito longe desse sobreturismo. Todos os dias em Lisboa a população aumenta 8% com os turistas, então, são trinta mil pessoas que vêm; isso não é muito; é um aumento de 8% da população. Estamos muito longe da situação vivida por Veneza ou Paris ou outros lugares. Por isso não estamos nesse nível. Precisamos e gostamos de turismo e, na verdade, gostamos de usar esse turismo para retribuir aos portugueses”.
Carlos Moedas dá depois o exemplo: “Acabamos de abrir um grande museu [Museu do Tesouro Real] com as joias da monarquia portuguesa [no Palácio Nacional da Ajuda] onde pagamos 30 milhões [usando] a taxa de turismo que recebemos dos turistas”.
Moedas não detalhou a Richard Quest de que se trata de um projeto que custou 31,4 milhões de euros, dos quais 18 milhões de euros foram investidos pela Câmara Municipal de Lisboa e nove milhões pela Associação de Turismo de Lisboa com dinheiro proveniente da cobrança da taxa turística em Lisboa.
“Se fizermos o turismo trabalhar para as pessoas e se conseguirmos que as pessoas vivam numa cidade que é limpa porque os turistas pagam para a cidade ser limpa, então, temos essa harmonia”.