A Associação de Empresas Familiares (AEF) é uma organização com cerca de 400 associados, entre eles quatro das 10 maiores empresas portuguesas, sendo que 15 associadas têm mais de 100 anos e duas mais de 200 anos. José Germano de Sousa, presidente deste organismo, refere que as “empresas familiares transmitem legados de excelência, o que demonstra a sua importância na manutenção de valores e na adaptação às novas realidades de mercado”. Em entrevista à Forbes Portugal, para uma reportagem sobre empresas familiares que pode ler na edição em papel, que se encontra agora nas bancas, alerta para o facto de da transição geracional ser um momento importante para estas empresas, e que, por isso deve ser preparado com cautela.
Qual é o peso dos negócios familiares na economia nacional, e qual tem sido o seu papel na evolução do tecido empresarial no país?
Os negócios familiares são, desde sempre, fundamentais na economia nacional, contribuindo significativamente para o emprego e o PIB. Em Portugal estima-se que representem 70 a 80% do total das empresas, 50% da força laboral e 65% do PIB. E, segundo um estudo deste ano da KPMG, 20% das Empresas Familiares já têm um CEO de 4.ª geração.
Outros estudos internacionais indicam que as empresas familiares estão, igualmente, em maioria na economia mundial, liderando as listas das maiores do mundo.
A nossa associação, atualmente com perto de 400 Associados tem três das quatro empresas familiares portuguesas que figuram na lista das 750 maiores Empresas Familiares do Mundo , na lista da Forbes. Tem quatro das 10 maiores empresas portuguesas (familiares ou não); sendo que 15 das nossas associadas têm mais de 100 anos e duas delas têm mesmo mais de 200 anos.
As empresas familiares transmitem legados de excelência, o que demonstra a sua importância na manutenção de valores e na adaptação às novas realidades de mercado.
Quais são os maiores desafios e barreiras que as empresas familiares enfrentam, sobretudo na passagem de testemunho à próxima geração?
Considero que os principais desafios incluem questões emocionais, falta de preparação dos herdeiros e divergências familiares. É preciso saber ler os riscos associados à sucessão e a necessidade de ter um plano claro para evitar conflitos que possam comprometer o futuro da empresa. Neste âmbito, a nossa associação tem feito um percurso muito útil, oferecendo uma diversificada oferta de formação, a maioria gratuita para os nossos associados. Proporcionamos ainda muito apoio através de reuniões privadas entre famílias e também entre famílias e consultores especializados. Convido a visitarem os canais digitais da AEF e conhecerem a quantidade de formações e atividades que temos tido e vamos ter nos próximos meses.
Qual é a importância dos protocolos familiares para que esta sucessão seja feita com sucesso?
Os protocolos familiares são essenciais porque estabelecem diretrizes claras sobre a gestão do negócio, responsabilidades e processos de tomada de decisão. Se cometermos erros na governance familiar e nas decisões de quem manda na empresa, corremos o risco de comprometer o futuro da empresa e a harmonia familiar.
O quão difícil é manter os descendentes nos negócios da família? Há empresários que relatam que não estão a conseguir passar o negócio aos filhos porque estes têm outros interesses… Como resolver esta questão?
Manter os descendentes nos negócios da família pode ser desafiador. Muitos jovens optam por seguir outras carreiras devido a interesses diferentes, e isso nada de negativo tem. Sabemos que nem sempre é fácil cativar a nova geração, todas as empresas, familiares ou não, enfrentam hoje esse desafio, sendo que a solução passa por promover sempre um diálogo aberto, esclarecendo a importância do legado familiar e as oportunidades que o negócio pode oferecer.
Como é que as atuais gerações estão a reinventar os negócios familiares? Quais as principais características destas novas gerações de líderes?
Penso que as gerações mais jovens têm uma abordagem mais moderna, inclusiva, com um forte foco em tecnologia, diversidade e sustentabilidade. Trazem uma perspectiva mais fresca, o que é crucial para a adaptação das empresas às exigências contemporâneas. O nosso grupo Next in Line trata precisamente destes temas.
Quais são os grandes desafios das mudanças geracionais?
Penso que é consensual que os principais desafios das mudanças geracionais nas empresas familiares incluem: resistência à mudança (a geração mais velha pode hesitar em ceder o controlo, enquanto os mais novos trazem perspectivas diferentes); falta de preparação (os sucessores muitas vezes carecem da formação e experiência necessárias para liderar); conflitos familiares (a ausência de um protocolo claro pode levar a desavenças, que afetam a gestão); integração de inovações (adaptar-se a novas tecnologias e práticas sustentáveis pode ser complicado); manutenção da cultura (é essencial equilibrar inovação com a preservação dos valores e tradições da empresa).
Não há como evitar em pleno estes desafios, mas é fundamental priorizá-los e abordá-los com uma comunicação eficaz e um planeamento cuidadoso, de forma a garantir uma sucessão bem-sucedida.
Qual a importância do Grupo Next in Line para criar um grupo de líderes mais preparado para os desafios da empresa familiar?
Criado em 2016, no seio da Associação das Empresas Familiares, o Grupo Next in Line (NIL) representa as próximas gerações das Empresas Familiares associadas da AEF. O grupo arrancou com 20 empresas, que, na altura, já representavam um volume de vendas totais superiores a 2,5 mil milhões de euros e mais de 10 mil postos de trabalho diretos, mas atualmente já conta com a participação de cerca de 200 jovens membros famílias associadas, os quais representam pelo menos a segunda geração das suas empresas.
O Grupo NIL tem por missão promover a troca de ideias, experiências e conhecimentos num ambiente informal e totalmente aberto. Visa também divulgar, nas famílias e nas empresas, processos de sucessão harmoniosos e planeados, para assim assegurar a continuidade da Empresa Familiar.
O grupo ajuda a preparar os líderes para os desafios que as empresas familiares enfrentam, promovendo uma “nova visão” para o futuro. Para isso, realiza atividades como uma visita por mês a Empresas Associadas e utiliza ferramentas como o whatsapp para, no seio de um grupo privado, partilhar experiências, oportunidades de negócio, e acesso a uma rede internacional muito interessante.
As empresas familiares portuguesas estão a aderir mais ao apoio dos family offices especializados? Quais as suas vantagens?
Sim, tem-se notado, que, cada vez mais empresas familiares estão a aderir aos family offices especializados. As vantagens incluem a gestão patrimonial e a otimização de investimentos. Mas mais importante do que este ou aquele modelo, o mais importante é que cada empresa familiar encontre o caminho certo para continuar a renovar-se e a crescer.