Nuno Diogo é um “self-made man” que fundou uma das empresas mais conhecidas no panorama nacional quando o tema são óculos, a Fábrica de Óculos do Cacém e do Chiado. Nuno Diogo diz que “ser-se oculista é um ofício”, mas, para si, “começou como uma paixão e rapidamente se transformou em profissão”. “Tendo como base o conhecimento minucioso do ofício”, Nuno Diogo olha com orgulho para o projeto da Fábrica de Óculos do Cacém e do Chiado, englobando os seus colaboradores no êxito conseguido, dizendo que se trata, por isso, de “o nosso sucesso”. O resto da conversa, com os segredos do negócio, está já aqui:
Tem 45 anos de idade e diz que são 26 anos dedicados à arte de vender. Foi uma arte que foi aprendendo ou já lhe estava no sangue?
Nuno Diogo (ND): Sinto que sou um predestinado. Depois, aprendi com os melhores. Aprendi numa época em que o trabalho de ótica era todo manufaturado. E desde muito cedo comecei a ter responsabilidades de chefia; não tinha receio de falhar. Mas soube desde sempre que iria trabalhar por conta própria, queria muito, o que sentia era muito forte, era intrínseco. Estava no sangue e na cabeça. O sangue fervilhava de ideias, a cabeça ia organizando e projetando as ambições.
“O sangue fervilhava de ideias, a cabeça ia organizando e projetando as ambições”
Qual foi o aspeto diferenciador do modelo de negócio que propôs quando lançou a Fábrica de Óculos? Inspirou-se, na altura, nalguma realidade, noutro país?
ND: O aspeto mais diferenciador da Fábrica de Óculos, como modelo de negócio, baseia-se em três fatores: know how, inovação e, o mais importante, os recursos humanos, as pessoas que fazem parte deste projeto. O que mais me inspirou foi o conceito de trabalho em relação ao nome Fábrica de Óculos. Toda a conceção e modelo de trabalho surgiu da minha cabeça, o tal fervilhar de ideias. Não foi inspiração, foi muita transpiração e muitas horas de trabalho, sempre a pensar no processo de como fazer bem e servir cada vez melhor. Como nota final, a entrega e a dedicação foi tão grande que no decorrer dos primeiros sete anos não consegui tirar um único dia de férias. Não havia tempo para descansar.
“A entrega e a dedicação foi tão grande que no decorrer dos primeiros sete anos não consegui tirar um único dia de férias”
Um dos lemas da Fábrica de Óculos é que consegue ter os óculos do cliente prontos em 20 minutos? Em que casos isso se aplica? E como conseguem essa rapidez de serviço?
ND: A resposta é inovação e recursos humanos, as pessoas são o mais importante; um investimento em duas máquinas industriais, no valor de um milhão de euros cada, e uma oficina com doze técnicos especializados. Aqui, todos têm funções diferentes, para que na entrega dos trabalhos a margem de erro seja zero! E o mais importante, temos sempre um stock controlado, diário, de três mil lentes, desde as lentes neutras até às 20 dioptrias. Só com um investimento tão avultado, e com o nosso conhecimento sobre a ótica ocular, o nosso trabalho poderia ser reconhecido pelo consumidor final tal como é.
“Temos sempre um stock controlado, diário, de três mil lentes, desde as lentes neutras até às 20 dioptrias”
O que o fez passar de vendedor e de técnica de ótica a empresário? Aos 19 anos, o que viu no ramo da ótica que lhe tenha dado a convicção de que poderia propor com sucesso esse tal modelo de negócio?
ND: Como referido anteriormente, no meu subconsciente sabia que tinha que trabalhar por conta própria, abrir a minha própria ótica, reunir os melhores profissionais para prestar o melhor serviço do mercado. Nesse seguimento, analisei o mercado da ótica em Portugal e nos principais países, estudei a concorrência nacional, avaliei o investimento necessário para desenvolver o conceito de trabalho que queria e até então não existia no nosso país. O sucesso deu-se e cresceu com naturalidade, o que é feito com o coração e a pensar nos outros só pode correr bem.
O modelo da Fábrica dos Óculos acabaria por ser copiado por outras empresas. Como é que vê esse “fenómeno”?
ND: A resposta é simples: quem não sabe, copia! Porém, a única coisa que imitam é o nosso nome, porque o conceito, o modelo de trabalho e a forma como nos entregamos diariamente é difícil de copiar e ninguém o consegue fazer. A diferença é toda, porque o investimento no conceito, no modelo de negócio e no modelo de trabalho é colossal. Falamos de milhões, tanto de euros como de horas de trabalho e dedicação, estudo e investigação.
Quais foram as grandes dificuldades que sentiu para montar o negócio?
ND: No começo a maior dificuldade foram os fatores financeiros, pois estamos a falar de um projeto que foi criado inteiramente do zero. Consegui ter alguma cooperação e ajuda por parte de alguns dos nossos fornecedores de equipamentos e de material ótico, mas como sabia, tinha a certeza absoluta de que tudo ia dar certo, sobretudo porque não existia nada semelhante em Portugal, não tinha porque não avançar.
“Tinha a certeza absoluta de que tudo ia dar certo, sobretudo porque não existia nada semelhante em Portugal”
Atendendo à sua experiência adquirida, que conselhos dá a quem tenha uma ideia de negócio: como podem os empreendedores perceber que estão a avançar na direção certa e quais os grandes erros que devem evitar cometer?
ND: Não obstante tudo o resto, para começar todo e qualquer empreendedor tem que interrogar-se sobre a disposição para fazer sacrifícios pessoais. Depois, há que conhecer deveras a concorrência, tentar perceber o que fazem de melhor e tentar fazer ainda mais. Para se avançar na direção certa, seja em que área for, temos que ter conhecimento do ramo, estudar muito e continuamente. Só assim estaremos preparados para dar o primeiro passo no ramo empresarial e rumo ao sucesso.
No seu livro autobiográfico “Nuno Diogo: O Homem e o seu Sonho”, diz que “era um jovem curioso e com vontade de vencer”: esses são os ingredientes para se ter sucesso? Que outros mais destacaria?
ND: A paixão é o ponto fulcral das vendas, o amor por aquilo que se faz e a forma como nos entregamos ao cliente é tudo. São sentimentos fundamentais para o sucesso e que têm que estar sempre presentes na vida pessoal e profissional.
E destaco uma vez mais o conhecimento pelo ofício. Não só o de agora, com todas as novas tecnologias que facilitam em muito alguns dos processos, mas também o conhecimento aprofundado nas suas origens. Sem este conhecimento não há sucesso.
Escreveu o livro na pandemia para poder partilhar o segredo do sucesso: qual é, afinal, esse segredo?
ND: Interrogam-me inúmeras vezes sobre o segredo, mas, na verdade, o que estão a querer perguntar-me é como se consegue chegar ao sucesso sem trabalhar. Na realidade isso não existe, não é possível. Se assim fosse não se chamaria sucesso. O êxito da Fábrica de Óculos tem um enorme impacto neste setor em Portugal, posso asseverar que fui o responsável por tornar este setor acessível aos portugueses. Foram anos de luta por demostrar que era possível ter-se o melhor serviço, o mais célere possível a um preço justo e acessível a todos. E tudo isto unicamente com dois pontos de venda, sendo que apenas um na área da Grande Lisboa.
“Foram anos de luta por demostrar que era possível ter-se o melhor serviço, o mais célere possível a um preço justo e acessível a todos”
Relativamente à Fábrica de Óculos: quantos colaboradores emprega atualmente?
ND: Atualmente emprego 85 funcionários. São o melhor investimento da Fábrica de Óculos do Cacém e do Chiado. E, quando me questionam qual é o melhor produto que tenho nas nossas lojas, a minha resposta é sempre a mesma: são eles, os meus funcionários.
No mercado dos óculos, quais são as grandes tendências do mercado atualmente?
ND: A tendência do mercado da ótica é para evoluir porque em Portugal trabalha-se muito bem. Em termos técnicos assistimos a inúmeras mudanças para o consumidor final, mas em termos práticos o mercado passa por uma fase de estagnação. No entanto, na Fábrica de Óculos a tendência é sempre a mesma: conhecer, inovar e investir!
Em termos de armações, as marcas “premium” são uma escolha crescente do lado dos consumidores?
ND: Depende das lojas. Na Fábrica de Óculos do Chiado, por exemplo, há mais procura por marcas premium, quer por ser uma loja muito frequentada por turistas quer pela sua localização geográfica. Esta loja está numa das principais artérias de Lisboa, uma zona frequentada por apreciadores de moda, gente a par das últimas tendências. Mas cada vez mais o cliente percebe e consegue distinguir o que tem qualidade e então não dá tanta importância à marca, mas sim às características do produto e no que confere à qualidade, qualquer uma das dezenas de marcas que comercializamos são incensuráveis.
“Eu não espero pelo sucesso, preparo-me para ele”
Prevê-se a expansão da empresa a outras geografias, tanto no país (dado que estão no Cacém e no Chiado), como no estrangeiro?
ND: Neste momento não. É fácil abrir lojas de óculos, mas na forma como eu vejo a ótica é muito difícil encontrar as pessoas ideias para delegar os cargos certos. Respeito muito o consumidor e, por isso, só faz sentido abrir as portas de uma nova loja tendo a certeza de que irão ter um atendimento e serviço igual ao que teriam se viessem à nossa loja do Cacém ou do Chiado.
Está a trabalhar em que desenvolvimentos ou em que novidade para a sua empresa?
ND: Sim, estou há dois anos a estudar e a trabalhar numa nova e revolucionária inovação neste setor. Terei novidades para breve nas lojas do Cacém e do Chiado. É um segredo muito bem guardado! Eu não espero pelo sucesso, preparo-me para ele.