A polícia da Catalunha garantiu que tentou deter o dirigente independentista Carles Puigdemont nas ruas de Barcelona, mas não conseguiu porque a prioridade foi evitar distúrbios, sublinhando que o político estava rodeado por milhares de pessoas e autoridades.
Puigdemont, alvo de um mandado de detenção em território espanhol, esteve esta quinta feira nas ruas de Barcelona, num momento seguido por milhares de pessoas no local e transmitido pelas televisões, sem ter sido abordado pela polícia ou detido.
Face às críticas de que está a ser alvo, a polícia catalã (Mossos d’Esquadra) divulgou um comunicado em que nega qualquer “acordo ou conversação prévios” com Puigdemont, que foi visto esta quinta-feira em Espanha pela primeira vez desde 2017, quando saiu do país para fugir à justiça.
A polícia assegura que ativou um dispositivo considerado proporcional para evitar desordens públicas, atendendo ao anunciado regresso de Puigdemont a Espanha, mas também, em simultâneo, para garantir a segurança da sessão de investidura do novo presidente do governo regional que está a decorrer no parlamento autonómico.
Os Mossos sublinham que a segurança e a normalidade da sessão parlamentar foi a prioridade.
Segundo a polícia catalã, o dispositivo de segurança foi assim delineado para a detenção de Puigdemont ocorrer “de forma proporcionada e no momento mais oportuno para não gerar desordens públicas”.
“Os Mossos d’Esquadra desmentem que tenha sido feito qualquer acordo ou conversação prévios” com Carles Puigdemont ou as pessoas próximas do antigo presidente regional, lê-se ainda no mesmo comunicado.
A polícia realça que Puigdemont, depois de ter subido a um palco instalado na zona do Arco do Triunfo de Barcelona e de ter falado a cerca de 4.500 pessoas que estavam no local, iniciou uma marcha “protegido por várias autoridades do país e rodeado pelas pessoas concentradas”, em direção “à porta principal do parque da Cidadela”, onde se localiza o parlamento catalão, mas nesse momento entrou num carro, “aproveitando o número de pessoas que o rodeavam”.
Depois de, a partir de um palco, se ter dirigido à multidão concentrada numa praça do centro da cidade de Barcelona, o dirigente separatista desapareceu sem ser detido.
Os Mossos “tentaram detê-lo, mas não conseguiram”, garante a polícia.
Depois de Puigdemont ter escapado deste local, a polícia ativou um dispositivo (“operação Jaula”), focado no controlo de estradas, para tentar localizar Puigdemont.
Este dispositivo foi desativado após quatro horas, sem resultados, continuando Puigdemont em paradeiro desconhecido.
Um elemento dos Mossos d’Esquadra foi entretanto detido por suspeita de ter ajudado o separatista a abandonar o centro de Barcelona sem ser detido, disse esta força de segurança.
Segundo fontes da polícia da Catalunha citadas por vários meios de comunicação social espanhóis, os Mossos detiveram um dos seus agentes, que é dono do carro em que a polícia pensa que Puigdemont fugiu do local onde hoje de manhã apareceu em público.
Vários sindicatos de polícias (tanto da Polícia Nacional de Espanha como dos Mossos) pediram hoje explicações a dirigentes políticos e das forças de segurança por causa desta passagem de Puigdemont por Barcelona sem ter sido detido.
Puigdemont, antigo presidente do Governo Regional da Catalunha e protagonista da declaração unilateral de independência da região de 2017, vive no estrangeiro desde então, para fugir à justiça espanhola, e continua a ser alvo de um mandado de detenção em território nacional.
Para os sindicatos dos Mossos (força tutelada pelo governo regional da Catalunha), está em causa “o prestígio” desta força policial catalã.
Já sindicatos da Polícia Nacional de Espanha consideram “um escândalo” o que aconteceu hoje em Barcelona e dirigem críticas aos Mossos e ao Ministério da Administração Interna de Espanha, lamentando que se tenha excluído da operação desta quinta-feira tanto a polícia nacional como a Guarda Civil (uma força de segurança similar à Guarda Nacional Republicana em Portugal).
O comissário-chefe dos Mossos d’Esquadra acusou, entretanto, em nova conferência de imprensa, Carles Puigdemont de deslealdade com a polícia da Catalunha ao tentar usar a sua eventual detenção para desestabilizar o acordo de investidura do socialista Salvador Illa como presidente do Governo Regional.
O comissário-chefe Eduard Sallent admitiu que na quinta-feira, não conseguiram prender Puigdemont “por mais que tentassem” e denunciou uma “verdadeira campanha de desinformação” por parte da comitiva do ex-presidente do Governo da Catalunha sobre o seu regresso a Espanha.
Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado que estaria na sessão parlamentar de quinta-feira, convocada para investir o socialista Salvador Illa presidente do Governo Regional, mas o plenário decorreu sem a sua presença.
De acordo com o responsável da polícia, os Mossos d’Esquadra acreditaram no que Puigdemont e a sua comitiva estavam a anunciar há dias sobre as suas intenções de assistir à sessão plenária de investidura do novo presidente da Catalunha.
A polícia montou, então, um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.
“É alguém que foi presidente da Generalitat, não é um Jodorovich ou uma pessoa que se dedica ao crime organizado”, disse.
Os Mossos d’Esquadra acionaram depois a “operação Jaula”, um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizá-lo, mas sem sucesso.
Sallent, que insistiu em negar qualquer tipo de negociação com Puigdemont e a sua comitiva para aceitar a sua detenção, também acusou os dois elementos da polícia da Catalunha que foram detidos por terem ajudado o líder independentista a regressar a Barcelona e a fugir novamente, o que considerou “repreensível, inaceitável e uma afronta” àquele corpo de polícia.
“Não merecem vestir o nosso uniforme”, disse, assegurando que os Mossos d’Esquadra não aceitam ser uma “polícia patriótica”.
O comissário-chefe da polícia catalã disse ainda que os Mossos d’Esquadra continuam à procura de Carles Puigdemont, porque não acreditam na “desinformação” das pessoas que o rodeiam e que afirmam que já está fora de Espanha.
O secretário-geral do JxCat, Jordi Turull, disse, contudo, entretanto, que Puigdemont já regressou à sua residência em Waterloo, na Bélgica.
Sallent disse que não têm “nenhum elemento objetivo” para confirmar que Puigdemont já está fora de Espanha, sublinhando que não dá “crédito” à “desinformação” das pessoas que o acompanharam na sua fuga.
“Enquanto não tivermos provas de que ele está fora do âmbito das nossas competências, continuaremos a procurá-lo para dar cumprimento ao mandado de captura”, disse.
(Com Lusa)