Roman Abramovich, 56 anos, passou a ter nacionalidade portuguesa desde 30 de abril de 2021 e cerca de cinco meses depois recebeu o passaporte português. Com o passaporte nas mãos desde setembro de 2021, ou seja, cinco meses antes da Rússia invadir a Ucrânia, segundo apurou uma investigação do jornal Público, o oligarca russo ficou autorizado a viajar para 188 países, inclusive da União Europeia.
Para além do timing aparentar uma estranha coincidência com o início do conflito, o jornal refere que o processo de obtenção da cidadania portuguesa demorou apenas dois meses e teve uma rapidez fora do habitual.
O Público dá elementos mais precisos: a Conservatória dos Registos Centrais (CRC), que trata do processo, tem de pedir informações à Polícia Judiciária e ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Ambos têm de responder num prazo de 30 dias que se pode prolongar para o dobro. Mas o que aconteceu, indica o Público, é que a PJ terá aparentemente dado o seu parecer no dia após a abertura do processo na CRC. Já o parecer do SEF chegou mais de um mês depois. O processo requer também uma certificação do cidadão como descendente de judeus sefarditas, a qual é concedida pela comunidade israelita do Porto.
E tendo a necessária autorização para viajar, o oligarca russo e amigo de Putin pôde colocar largas centenas de milhões de euros em off-shores entre a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, e as sanções sobre a Rússia e sobre os seus milionários que foram executadas pelo governo britânico a 10 de março.
A operação foi confirmada numa circular do Ministério dos Negócios Estrangeiros inglês, datada de 12 de abril. Nessa circular, é referido que um cidadão cipriota de nome Demetris Ioannides trabalhou com Abramovich nas últimas décadas e foi o responsável pela criação das estruturas offshore obscuras para o empresário russo esconder a sua fortuna, declara o Público. Por esse motivo, Ioannides passou a constar da lista de sancionados pelo governo britânico desde o passado mês de abril por ser considerado “facilitador de oligarcas”, aponta o jornal.
Segundo o Público, Roman Abramovich terá ocultado 760 milhões de libras (cerca de 874 milhões de euros) num conjunto de estruturas offshore.
Abramovich é um dos muitos oligarcas russos que procurou escoar a sua fortuna para locais onde ficariam à margem das sanções.
Com a obtenção da nacionalidade portuguesa e com uma fortuna avaliada pela FORBES em cerca de 9,2 mil milhões de dólares (cerca de 8,5 mil milhões de euros), Abramovich ocupa a posição nº 208 da lista FORBES dos homens mais ricos co mundo, tornando-se também o português mais rico do planeta.