Cresci com o exemplo máximo da Virgem Maria. Tanta importância se deu ao facto de ser virgem, que passou a fazer parte do nome dela. Eu, Clara Raquel, ela, Virgem Maria. Na adolescência não me identificava com isso, com esse ideal de pureza, que em nada foi imposto pela própria Maria. Cresci a sentir-me à parte, a negar a minha sexualidade e o meu direito à opinião. Eu própria não me aceitava.
Fiz da minha evolução pessoal a minha carreira. Aprendi que ser impertinente é útil, é pôr em causa a ordem normativa da sociedade, que cisma em tentar encaixar todas as pessoas nas suas caixinhas limitadas. Fiz da criação de comunidade o meu maior propósito: juntas ninguém nos para. O Dia da Mulher deve ser uma celebração conjunta de escancarar essas caixas, de mostrar problemas estruturais machistas na sua construção.
Se não fossem as mulheres que lutaram até hoje pela igualdade de direitos e oportunidades, eu não poderia estar a escrever este texto. Eu estaria presa. Em muitos países hoje em dia, eu estaria presa, e já com sorte.
Que o Dia Internacional da Mulher seja um dia de reivindicação, de luta, de liberdade.