Porque é que Portugal é especial para si?
Quando comecei a minha carreira, no início dos anos 90, passei muito tempo no Estoril. A Fórmula 1 (F1) ainda corria lá, era onde fazíamos todos os testes de inverno. Basicamente, entre dezembro, janeiro e fevereiro, andávamos para trás e para a frente. Depois, no meu primeiro ano na Fórmula 1, em 1994, o meu primeiro pódio foi no Estoril. Um ano depois, foi a minha primeira vitória. A razão pela qual comecei na Fórmula 1 foi, infelizmente, a morte de Ayrton Senna. Quando olho para a sua carreira, ele ganhou o seu primeiro Grande Prémio (GP) no Estoril em 1985, e eu ganhei o meu primeiro GP 10 anos mais tarde. Para mim foi quase uma espécie de homenagem. Eu não era tão bom piloto como o Ayrton, mas foi uma espécie de homenagem ao seu legado uma década mais tarde.
O que é que lembra dessa primeira vitória?
A felicidade e a realização do sonho que tinha quando era um rapaz a viver na Escócia, numa pequena aldeia de 300 pessoas. Não cresci numa cidade, não cresci rodeado de carros de corrida, mas, porque tinha o apoio da família e determinação, consegui chegar a um desporto que só via na televisão e que, de repente, me levou ao lugar mais alto do pódio. Naquela altura, Portugal era um centro muito importante para a Fórmula 1, que fazia a maior parte dos testes aqui. Claro, como tudo na vida, passou de Portugal para Barcelona, que se tornou um centro de testes. Agora a F1 tornou-se um desporto global muito maior. Mas Portugal desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento dos carros de F1 nos anos 80 e 90.
A F1 cresceu muito ao longo dos últimos anos, acha que a categoria vai conseguir manter este momentum?
A história sugere que ninguém se mantém sempre assim [em alta]. É como nos negócios, mesmo nos mais bem-sucedidos, nem sempre é apenas crescimento. Houve uma tempestade perfeita de covid-19, Netflix, mais pessoas em casa, a série ser a primeira deste género a mostrar realmente o behind the scenes de um desporto. E acabou por cativar muita gente, muita gente mais jovem, muitas mulheres. Antes a F1 era vista como algo barulhento, sujo e todo esse tipo de coisas. Esta dinâmica sobrecarregou o desporto, que já era global. Não sei os números exatos, mas suspeito de que o futebol é o maior desporto do mundo se considerarmos a audiência global, mas a Fórmula 1, em termos de audiência, esteve sempre atrás do futebol. Mas isso não vai continuar todos os anos nos próximos 20 anos, haverá um nivelamento a certa altura.
Até onde pode ir este crescimento?
No desporto há uma crença de que as equipas podem aguentar 24 Grandes Prémios, se planearem bem o calendário. Porque, por vezes, o calendário é um pouco… Estamos em Barcelona, depois vamos para Montreal, depois voltam para a Áustria. Podemos ser um pouco mais inteligentes com a forma como organizamos o calendário, o que facilita o trabalho dos mecânicos, dos engenheiros e de todos os que têm de fazer o espetáculo. Mas, ao contrário do futebol, em que temos a liga alemã, a liga francesa, a liga inglesa, todas elas grandes e podemos ser adeptos de cada uma, não podemos ter 100 GP, isso não vai acontecer. Haverá uma altura natural em que só se pode ir até certo ponto.
Se a série Drive to Survive, da Netflix, tivesse acontecido na altura em que competia, quais teriam sido os momentos mais fortes?
House uma tragédia em 1994, quando comecei, porque morreram dois pilotos, o Roland Ratzenberger e o Ayrton Senna. O Ayrton tinha uma propriedade em Portugal onde vivia quando estava na Europa. Era a época do Schumacher, que era uma época muito forte com a Ferrari, que teria sido muito popular. A McLaren, a equipa em que eu estava, estava a lutar. Penso que houve muitas histórias boas nessa altura e alguns bons pilotos. No final da minha carreira ainda havia o Alonso e o Hamilton a correr, por isso tenho uma pequena ligação à Fórmula 1 de hoje pelo facto de eles estarem em pista quando eu conduzia. Mas penso que todas as gerações têm as suas personalidades, alguns têm personalidades maiores, outros são simplesmente bons no que fazem. Não é diferente nos outros desportos.