Organizada pela associação internacional de controlo do tabagismo e redução de danos SCOHRE, a 6ª Cimeira sobre a Redução de Danos do Tabaco, que se realizou em Atenas, no final de setembro, discutiu o facto de, ao apresentarem uma menor emissão de substâncias tóxicas em comparação com os cigarros convencionais, os novos produtos de tabaco poderem vir a ser uma ferramenta para reduzir as consequências prejudiciais do tabagismo. E terem um tratamento diferenciado do ponto de vista legal.
“Aumentar a consciência dos consumidores sobre o impacto do tabagismo e o impacto das novas alternativas de menor risco aos cigarros convencionais é crucial”, afirmou Solomon Rataemane, professor e Chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Ciências da Saúde Sefako Makgatho, na África do Sul.
Este especialista falou sobre a evolução da legislação na África do Sul desde o primeiro ato em 1993 até hoje, em que um novo projeto de lei sobre a legislação do tabaco está em audiência pública. Uma questão que está na ordem do debate na África do Sul é se os novos produtos de redução de danos do tabaco devem ser tratados de forma semelhante aos cigarros convencionais, “apesar da evidência científica de que a transição dos cigarros convencionais para os novos produtos não combustíveis melhora a saúde dos fumadores”.
O professor Giuseppe Biondi Zoccai, Professor Associado de Cardiologia na Universidade Sapienza de Roma, Itália, comenta que, embora a ampla variabilidade nos produtos de cigarro eletrónico torne desafiador chegar a conclusões definitivas sobre o seu impacto geral na saúde, as indicações mostram que os cigarros eletrónicos aumentam as taxas de cessação em comparação com a terapia de reposição de nicotina (NRT), enquanto as evidências que comparam os cigarros eletrónicos de nicotina com o tratamento habitual ou a ausência de tratamento também sugerem benefícios.
Em Portugal temos cerca de 1,7 milhões de fumadores diariamente, o que é cerca de 14% da população.
Presente na conferência esteve a investigadora portuguesa doutorada em ciências biomédicas na área da genética bioquímica, Manuela Grazina. Esta cientista afirma que “ninguém tem dúvidas de que fumar faz mal à saúde”, todavia entende que “não se pode falar de igual forma sobre todos os produtos disponíveis no mercado para os consumidores, porque os riscos são muito diferentes entre eles”.
Num recente artigo de opinião no jornal Público, Manuela Grazina explica que “os inúmeros estudos científicos independentes mostram que a nicotina tem um risco mínimo de prejudicar a saúde e pode, inclusivamente, ser uma ferramenta terapêutica importante. A nicotina é um alcalóide, encontrada em algumas plantas e fungos, existindo nas folhas do tabaco. Embora a nicotina seja a razão pela qual as pessoas se tornam dependentes do tabaco, porque é um ativador da via da recompensa cerebral (associada à gestão do bem-estar), a preocupação primordial deve ser banir do consumo os milhares de produtos químicos cancerígenos contidos no fumo do cigarro e que são responsáveis pelos danos graves à saúde”.
O problema da combustão
Declarando não ser fumadora e não ter quaisquer interesses económicos relacionados com o tabaco, assumindo-se como “defensora da ciência para todos”, Manuela Grazina declara que “o uso de cigarro, devido ao processo de combustão, associa-se à exposição de substâncias nocivas em elevado número e toxicidade. O tabaco aquecido, que não usa combustão, apresenta uma redução muito significativa do nível de substâncias prejudiciais, comparativamente ao cigarro comum, de acordo com dados científicos disponíveis”.
“Apesar de, idealmente, ser desejável a ausência de consumo de tabaco, o tabaco aquecido expõe significativamente as pessoas a menos toxinas do que os cigarros, podendo contribuir para a cessação tabágica ou mesmo levar à redução das vendas de cigarros, tal como demonstrado por um estudo independente de investigadores da American Cancer Society”, indica a especialista para quem “as decisões políticas para assegurar a proteção das pessoas contra os riscos para a saúde deverão ser sustentadas com o apoio do conhecimento científico”, deixando, assim, no ar de que poderá fazer sentido haver uma diferenciação legislativa entre o tabaco de combustão e o tabaco aquecido.
“Apesar de, idealmente, ser desejável a ausência de consumo de tabaco, o tabaco aquecido expõe significativamente as pessoas a menos toxinas do que os cigarros”, diz Manuela Grazina.
Apesar destes indicadores, são necessários mais dados para que os políticos e os reguladores de saúde pública possam tomar decisões informadas, aponta o professor Ignatios Ikonomidis, Presidente da SCOHRE.
Na sua intervenção, a investigadora, que falou dos fatores neurológicos que contribuem para todos os tipos de dependência (comida processada, álcool, drogas e tabaco), defendeu que a sociedade tem de mudar e que, em vez de procurar estímulo e prazer através do abuso de substâncias e de comportamentos aditivos, as pessoas devem ser encorajadas a utilizar estimulantes inofensivos para o seu corpo, como tempo com a família, música, arte, entre outras atividades.
Não é apenas o consumo de cigarros que deve ser analisado, considera: “Precisamos de mapear o quadro completo, todos os vícios”, concluiu.