O futebolista argentino Enzo Fernández, que atuava no Benfica e se transferiu por 121 milhões de euros para o londrino Chelsea, no último dia da janela de transferência deste mercado de inverno, bateu vários recordes no universo do futebol, como destacam os especialistas em transferências do Transfer Market.
Enzo Fernández passou, assim, a ser o médio mais caro da história do futebol (destronando os €105M pagos pelo Manchester United à Juventus por Paul Pogba), é a contratação mais cara da história da milionária Premier League (detido até aqui por Jack Grealish, €117,5M, do Aston Villa para o Manchester City, em 2021) e o jogador de futebol argentino mais caro de todos os tempos (o anterior máximo era do argentino Gonzalo Higuaín, com €90M da transferência do Nápoles para a Juventus, em 2016).
No total, apenas cinco jogadores no mundo foram transferidos por valores superiores aos €121 de Enzo:
Posição | Idade | Época | Naturalidade | Clube onde estava | Clube para onde foi | Valor da transferência | ||
1 | Neymar | Extremo esquerdo | 25 | 17/18 | Brasileira | Barcelona | Paris SG | €222.00M |
2 | Kylian Mbappé | Avançado centro | 19 | 18/19 | Francesa | Monaco | Paris SG | €180.00M |
3 | Ousmane Dembélé | Extremo direito | 20 | 17/18 | Francesa | Bor. Dortmund | Barcelona | €140.00M |
4 | Philippe Coutinho | Extremo esquerdo | 25 | 17/18 | Brasileira | Liverpool | Barcelona | €135.00M |
5 | João Félix | Segundo avançado | 19 | 19/20 | Portuguesa | Benfica | Atlético Madrid | €127.20M |
6 | Enzo Fernández | Médio | 22 | 22/23 | Argentina | Benfica | Chelsea | €121.00M |
7 | Antoine Griezmann | Segundo avançado | 28 | 19/20 | Francesa | Atlético Madrid | Barcelona | €120.00M |
8 | Jack Grealish | Extremo esquerdo | 25 | 21/22 | Inglesa | Aston Villa | Man City | €117.50M |
9 | Cristiano Ronaldo | Avançado centro | 33 | 18/19 | Portuguesa | Real Madrid | Juventus | €117.00M |
10 | Eden Hazard | Extremo esquerdo | 28 | 19/20 | Belga | Chelsea | Real Madrid | €115.00M |
Neste top 10 das maiores transferências no futebol mundial, o Benfica passa, neste momento, a ter dois jogadores: Enzo Fernández e João Félix que se mudou para o Atlético de Madrid a troco de €126M em 2019.
Nesta lista milionária, há dois futebolistas portugueses: João Félix e Cristiano Ronaldo, cujo passe foi adquirido pela Juventus ao Real Madrid, em 2018, por €117M.
No top 15, encontramos ainda outra transferência avultada de Cristiano Ronaldo, quando, em 2009, CR7 foi do Manchester United para o Real Madrid, por €94M.
Os valores da transferência de Enzo Fernández
O Benfica adquiriu os serviços de Enzo Fernández por €10M + €8M em variáveis milhões ao River Plate no último verão. O acordo incluía uma cláusula de venda de 25%. Como resultado, cerca de €34,75M da transferência paga pelo Chelsea vão para a conta bancária do River Plate, da Argentina, dos quais €30,3M se devem à cláusula de 25% e €4,5M são referentes ao mecanismo de solidariedade.

Em comunicado à CMVM, o clube da Luz informa que “o Chelsea FC terá o direito a reter o mecanismo de solidariedade de 3,78% para posterior distribuição aos clubes que participaram na formação do jogador. Adicionalmente, a Benfica SAD terá encargos com serviços de intermediação de 6,56% do valor da venda deduzido do montante da solidariedade e terá ainda de entregar ao River Plate o montante correspondente a 25% do valor da transferência deduzido dos montantes da solidariedade e dos serviços de intermediação”.
Feitas as contas, os empresários recebem €7,9M e o clube português fica com cerca de €78M.
De acordo com o jornal “The Athletic”, o pagamento será feito em seis parcelas, com a primeira tranche fixada em €34M€.
Chelsea: de milionário em milionário
Enzo Fernández, que foi considerado o melhor jogador jovem do Mundial 2022, assinou um contrato de oito anos e meio com a equipa de Stamford Bridge (vai ser colega de equipa de João Félix, emprestado pelo Atlético Madrid), e é a última contratação do clube londrino, cujos gastos com transferências em 2022/23 já ultrapassaram a marca de €600M€: o primeiro clube a fazer isso na história do futebol.
Depois da era Roman Abramovich, oligarca russo que deteve o Chelsea de 2003 e 2022, período em que gastou 2,3 mil milhões de euros em transferências de jogadores e 102M€ em treinadores, está a surgir uma nova era no clube londrino, sob a égide do norte-americano Todd Boehly, 49 anos.
Aliás, os investimentos feitos pelo consórcio liderado por Todd Boehly, dono do Chelsea, estão a ser estratosféricos.

No verão, os “Blues” contrataram oito novos jogadores, incluindo Raheem Sterling, Kalidou Koulibaly e Pierre-Emerick Aubameyang, num acumulado de €282M.
O treinador alemão Thomas Tuchel foi despedido em setembro e foi substituído por Graham Potter, que foi contratado por cerca de €17,5M.
As contratações com vários zeros à direita até agora são impressionantes.
Além de Enzo Fernández, outros sete jogadores foram contratados em janeiro. Os valores totais mais a compensação paga pelo treinador Potter (ao Brighton, o seu anterior clube) elevam os gastos do Chelsea a cerca de €629M numa única temporada. O recorde anterior era do Barcelona, com um desembolso total de 380 milhões de euros na temporada 2017/18.
Onde fica o Fair Play Financeiro?
Henry Flynn, colaborador da Forbes e especialista em futebol, refere que o Fair Play Financeiro exigido pela UEFA para permitir uma competição mais nivelada e sustentável, “não é muito justo quando permite que os Chelseas deste mundo encontrem brechas e recrutem talentos de alto nível”.
“Para registar jogadores caros como o ucraniano Mykhailo Mudryk, o Chelsea adotou uma abordagem de amortização, amarrando-os a contratos longos e pagando em parcelas, o que significa – tecnicamente – que gastou apenas uma parte das suas taxas totais até agora. Nos seus balanços, o resto dos montantes será diluído nas contas ao longo dos contratos das suas contratações”, evidencia Henry Flinn. A UEFA, aparentemente, não se opõe.
Essa tática explica em parte por que é que o Chelsea pode gastar tanto dinheiro nesta temporada sem infringir as regras do fair play financeiro. Os €70M pagos pelo futebolista ucraniano Mykhaylo Mudryk será, por exemplo, distribuída por um contrato extremamente longo, sete anos e meio com a opção de mais um ano, com o ucraniano a receber salários relativamente baixos para a realidade da Premier League, cerca de US$ 120.000 por semana, o que significa que o seu custo total para o Chelsea por ano não é muito alto. As outras contratações também assentam em contratos longos, caso do francês Benoît Badiashile (contrato de sete anos e meio) e do próprio Enzo Fernández (vínculo de oito anos e meio).

O especialista da Forbes refere ainda que, em Espanha, um Barcelona endividado está a liderar a La Liga com um plantel formado por jogadores caros depois de acionar alavancas financeiras e buscar outras fontes de receita para convencer o presidente da liga, Javier Tebas, de que poderia cobrir os custos. Tebas criticou os gastos excessivos, mas mostrou alguma flexibilidade para facilitar isso.
“Embora exemplos como esses permaneçam dentro das regras, isso não significa que as regras façam muito. O sistema gira em torno de promessas e planos. E dado o investimento superior que alguns clubes têm sobre os seus concorrentes – Paris Saint Germain e Newcastle United, por exemplo – o sistema não é muito justo, de qualquer maneira. Essencialmente, os superclubes podem encontrar uma maneira”, aponta o colaborador da Forbes.
“Sem igualdade de condições, o fair play financeiro assemelha-se a uma espécie de relações públicas. É uma tentativa da UEFA de estabelecer algum controle, mas esse controle é bastante fraco – como ficou bem patente neste mercado de transferências de inverno”, refere Henry Flinn.
Clubes detidos por bilionários, caso do Paris Saint-Germain (detido pelo Qatar Sports Investment, cujo rosto é o CEO Nasser Al-Khelaïfi), ou financiados por Estados, caso do Newcastle, financiado pela Arábia Saudita, estão agora a prevalecer. “E, sempre que possível, eles farão de tudo para manter as contratações dispendiosas a chegar às suas equipas. Parar isso parece fantasioso, pelo que uma solução de curto prazo para os órgãos reguladores seria contrariar o esquema de amortização, o que significa que as equipas devem pagar pelas estrelas de primeira linha imediatamente ou num prazo menor”, escreve Henry Flinn.
É claro que deter este outro mundo milionário que se agiganta ao lado do já rico mundo do futebol tem a oposição de muitos, pelo que, dificilmente, se perspetiva que haja alterações neste modus operandi.