António-Pedro Vasconcelos começou a comprar chapéus há mais de 15 anos na Chapelaria Azevedo Rua. É lá que vai repondo o seu stock de panamás (para o Verão) e de chapéus de feltro (para o Inverno), rinite alérgica oblige. Apesar de ter comprado os primeiros chapéus para si na mítica chapelaria Motsch, em Paris, há 30 anos, fidelizou-se à casa que ainda está hoje no Rossio lisboeta, volvidos mais de cem anos desde a sua fundação.
O afecto é significativo e imortalizou-o na sua arte: chegou a pôr a actriz Soraia Chaves a sair da Chapelaria numa das cenas do filme “A Bela e o Paparazzo”, de 2010. “Descobri a casa dos Ruas e, a partir daí, comecei a comprar sempre aqui”, diz o realizador português à FORBES, enquanto se prepara para posar com uma das suas últimas aquisições na loja centenária: um panamá estival.
Quem diria que os chapéus clássicos, de panamás passando por bonés, acabariam por cativar uma nova geração de pessoas e por se tornarem acessórios hip. E a centenária Chapelaria Azevedo Rua é a Meca de quem procura chapéus bonitos e de qualidade. A loja, situada no Rossio, no coração de Lisboa, foi fundada em 1886 por Manuel Aquino de Azevedo Rua, produtor de vinho do Porto à época afectado por más colheitas. Na altura, resolveu mudar de ramo e “decidiu pedir dinheiro emprestado a um tio padre para abrir a chapelaria”, conta Pedro Fonseca, trineto do fundador, à FORBES. Ao início, a loja só vendia chapéus de homem, todos manufacturados no estabelecimento. Hoje, têm fornecedores externos e fábricas que fazem chapéus por medida, explica o actual gerente da Chapelaria.
Sempre na moda
Já lá vão os tempos em que Fernando Pessoa, Vasco Santana e, mais recentemente, Mário Soares, vinham à Azevedo Rua comprar chapéus. O sobrinho do actual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também vem comprar chapéus para oferecer ao tio, conta Pedro. Mas é a clientela supostamente mais prosaica que dá vida à loja. Quando a FORBES visitou o estabelecimento, num dia de sol de Verão, um corrupio de turistas na Chapelaria experimentava chapéus de todos os tipos. Um trintão de fato, português, hesitava em frente ao espelho entre um panamá de palha fina e uma boina de padrão de xadrez colorido. Uma senhora idosa, também portuguesa, procurava uma capeline de cerimónia. A loja está viva. António-Pedro Vasconcelos congratula-se com a vitalidade das lojas tradicionais como a Chapelaria Azevedo Rua.
“Soube preservar a tradição. Acho que é bom para a cidade preservar o comércio tradicional. Além de me ser muito útil, porque sou dos poucos lisboetas que usam chapéu”, graceja.
gerente está obviamente satisfeito com o negócio e realça o papel do turismo na dinâmica das vendas nos últimos anos. Antes, quando chegou à loja, em 2006, “o mês de Agosto era paradíssimo, não tínhamos cá quase ninguém na loja”, afiança. Hoje acontece o contrário.
Os turistas visitam a Chapelaria e não é só para ver: 60% das vendas são feitas a estrangeiros. E, em termos de nacionalidades, os angolanos estão à cabeça, especialmente no que concerne à venda de chapéus de cerimónia para mulheres, explica Pedro. “Agora, de Maio a Setembro, não paramos”, acrescenta o gerente.