Ana Luísa Virgínia, CFO da Jerónimo Martins e Rute Cruz, CFO da AON responderam ao desafio da Forbes Portugal e perante uma audiência composta por dezenas de mulheres (e alguns homens também), debateram entre si questões relacionadas com a sua profissão na área financeira. Apesar de ser uma posição de chefia ainda com uma maioria muito masculina, estas duas mulheres aceitaram os desafios que esta função lhes oferece e enfrentaram-nos com coragem.
Ana Luísa Virgínia, 52 anos, começou por referir que trabalha há quase 32 anos na Jerónimo Martins e que todo o seu percurso foi feito na mesma empresa, passando por vários cargos. “Toda a minha família me apoiou nesta jornada que não foi nada fácil”, afirmou. Refere que o seu percurso foi muito natural e que as oportunidades foram surgindo, e apesar de, a uma dada altura, as suas chefias terem sido sempre homens, estes lhe deram sempre oportunidades porque trabalhava e era competente. “E talvez porque nunca tentei fazer as coisas como os homens faziam, mas sempre como eu achava que deviam ser feitas”, explica.
A CFO da Jerónimo Martins refere, a propósito da liderança feminina, que “na parte da gestão das equipas, as mulheres têm um espírito de missão que se calhar acaba por trazer algumas vantagens”. Quanto ao apoio que tem tido para enfrentar as dificuldades que esta carreira acarreta, explica que “Sou apologista da diversidade em todos os sentidos e acho que devo agradecer às chefias masculinas que me deram oportunidades e principalmente ao meu marido, porque esta função implica muitas viagens e muito tempo fora”.
Ser mulher não me prejudicou
Rute Cruz acrescenta que encontra no percurso da Ana Luísa algumas similaridades com o seu. A AON é uma multinacional americana especialista em seguros, presente em Portugal há cerca de 30 anos, para a qual entrou há cerca de 25 anos, então como estagiária. “Ao fim de dois anos foi-me dada uma oportunidade de iniciar uma carreira dentro da empresa e fiquei. Senti que me foram dadas oportunidades e nunca senti que ser mulher prejudicava”, refere. Também Rute Cruz, com dois filhos, tal como Ana Luísa, sentiu o apoio da família, o que foi muito importante para crescer profissionalmente. “O facto de termos de gerir trabalho com a família, também nos ajuda a desempenhar e a conseguir gerir todo o nosso trabalho”, explica.
Ana Luísa Virgínia refere que o facto da Jerónimo Martins ser uma empresa cotada traz algumas obrigações adicionais, sobretudo ao nível do report, da transparência e a da relação que tem com os investidores. Porém, o facto de ser controlada por uma família, tem uma coisa boa: é que, para além da pressão dos resultados, tem uma visão de longo prazo, por isso as decisões são de crescimento.
Refere que não se sente diferente das outras mulheres que trabalham em outras funções. “O mais importante é gostarmos do que fazemos, e quando fecho o computador e chego a casa faço questão de estar com a minha família, e sempre tentei de estar presente nas suas festas da escola, quando eram pequenas”. Para ela, ser CFO é cada vez menos sobre números e cada vez mais relações interpessoais.
Excesso de regulamentação pode prejudicar sustentabilidade financeira
Já Rute Cruz explicou à audiência que o seu maior desafio como CFO é responder à casa mãe, pois são definidos objetivos que têm de ser cumpridos localmente. “Há 10 anos, eu era a única mulher no comité executivo em Portugal, e agora já somos 50% de mulheres. O meu percurso tem sido muito genuíno, o que tem ajudado a minha carreira é ser transparente. Não me vejo nem como inferior nem diferente, sei que sou capaz de fazer o mesmo que os homens”. Acrescenta que o que tem sido fundamental para a sua carreira é a proximidade ao negócio, e mais do que mandar, o seu papel é o de influenciar.
Ana Luísa Virgínia afirma ainda que a sua principal preocupação, além da automação e da Inteligência Artificial, é que exista um tsunami na regulamentação ao nível da sustentabilidade, pois isto coloca muita pressão nas empresas, sobretudo as mais pequenas, que não estão preparadas para isso, e que acaba mesmo por esmagar muitas delas. “Temos todo o interesse que essas empresas sejam sustentáveis, e ao criar muita regulamentação está a pôr em causa a sua sustentabilidade financeira”, explica. “Aquilo que se pretendia de antemão, de haver uma transição e proteger o planeta, pode acabar por ter efeitos contrários ao pretendido”, remata.