A Coverflex nasceu em 2020 como uma startup em Braga e hoje já figura entre os principais players do segmento das fintech que disponibilizam soluções de compensação e benefícios aos colaboradores das empresas clientes. Em entrevista à Forbes Portugal, o cofundador e CEO da Coverflex, Miguel Amaro, refere que a missão estratégica é transformar a forma como as empresas oferecem benefícios, através de uma solução integrada. Hoje conta com mais de oito mil empresas clientes, de setores tão díspares como tecnologia, serviços financeiros, retalho, saúde ou indústria. Miguel Amaro realça a aposta nas inovações tecnológicas como uma das ferramentas que ajudaram a ganhar mercado e antecipa que, em breve, será lançada uma funcionalidade que irá promover a literacia financeira dos colaboradores das empresas clientes. Sobre o ecossistema de startups o CEO da Coverflex acredita que com as políticas certas e capitalizando nas iniciativas já existentes, Portugal tem condições para se consolidar como uma verdadeira startup nation.
O segmento de benefícios e compensações já conta com vários operadores. Como é que a Coverflex faz a diferença?
As principais apostas estratégicas da Coverflex centram-se em três pilares fundamentais: flexibilidade, inovação, com uma forte aposta em inteligência artificial (IA), e a consolidação da expansão internacional. A nossa missão é transformar a forma como as empresas oferecem benefícios, através de uma solução integrada que permite personalizar e otimizar pacotes de compensação, oferecendo aos colaboradores a flexibilidade de escolher benefícios que melhor se ajustam às suas necessidades. A inovação, impulsionada pela inteligência artificial, é uma grande aposta. Utilizamos IA para automatizar processos, fornecer recomendações personalizadas e oferecer insights valiosos que ajudam as empresas a gerir os seus pacotes de compensação de forma mais eficiente e estratégica. Este uso da tecnologia permite uma gestão inteligente, que se adapta às necessidades dinâmicas do mercado e das organizações.
A aposta já não é só Portugal…
Outro foco estratégico é a nossa expansão internacional, com uma forte consolidação já em curso em mercados como Itália e Espanha. Estes mercados são essenciais para o nosso crescimento e visam posicionar a Coverflex como uma plataforma consolidada para empresas que procuram uma solução pan-europeia. Esta abordagem visa atender às necessidades de empresas que operam em vários países e que precisam de uma solução única para gerenciar os seus benefícios e compensações em toda a Europa, oferecendo consistência e flexibilidade a nível internacional.
Mas quais os trunfos que permitiram à startup nascida em Braga entrar no mundo competitivo das fintech?
A Coverflex conseguiu destacar-se no competitivo mundo das fintech graças a uma execução excecional, com um crescimento rápido e sustentável. Desde o início, provámos que éramos capazes de crescer de forma eficiente, gerindo recursos com agilidade e focando-nos em oferecer valor aos nossos clientes. Este sucesso inicial deu-nos a confiança e a capacidade para replicar o nosso modelo em novos mercados, como Espanha e Itália. Outro grande trunfo foi a forte aposta na tecnologia, com uma plataforma intuitiva e escalável que permite às empresas gerir pacotes de compensação de forma eficiente. A nossa capacidade de inovar, nomeadamente com o uso de inteligência artificial, tem permitido automatizar processos, personalizar ofertas e gerar insights valiosos para as empresas, posicionando-nos à frente da concorrência. Além disso, a nossa expansão estratégica em mercados internacionais e a criação de uma solução pan-europeia para empresas que operam em vários países têm reforçado a nossa posição. Combinando inovação, flexibilidade e uma visão clara de crescimento internacional, conseguimos entrar num setor onde já existem grandes players, oferecendo algo único e diferenciado.
Referiu que, além de Portugal, a empresa já tem uma presença no exterior. Quais os argumentos que justificam esta aposta internacional?
A Coverflex tem tido um enorme sucesso em Portugal, e no seu terceiro ano de vida já se tornou um negócio rentável, algo raro no ecossistema das startups. A necessidade de uma solução como a nossa, que permite uma gestão flexível e personalizada de compensações, não se limita ao mercado português, tornando a internacionalização uma decisão natural e estratégica. A nossa proposta de valor, focada na flexibilidade e na inovação, é tão relevante fora de Portugal como dentro, e isso impulsionou a nossa expansão para novos mercados. Depois de consolidarmos a nossa posição em Portugal, seguimos para países onde identificámos grandes oportunidades e sinergias com o que já desenvolvemos, nomeadamente Espanha e Itália. Estes mercados oferecem um potencial significativo para replicarmos o nosso modelo de sucesso, e prevemos que, em 2025, as operações nestes dois países representem quase 50% do nosso volume de vendas. Quanto ao futuro, continuamos a avaliar novas oportunidades além-fronteiras. O nosso foco é encontrar mercados que partilhem as mesmas necessidades em termos de gestão de benefícios e compensações, onde possamos levar a nossa abordagem inovadora e altamente escalável, posicionando-nos como líderes em soluções de compensação flexível a nível internacional.
Quais os principais benefícios para as empresas clientes e os respetivos colaboradores?
Os benefícios da Coverflex para empresas e colaboradores são claros e altamente impactantes. Para as empresas, a nossa solução ajuda a aumentar a satisfação, motivação e retenção dos colaboradores, melhorando assim o desempenho geral do negócio. A Coverflex oferece uma plataforma integrada que centraliza todos os aspetos da compensação – salário, benefícios, seguros, subsídio de refeição, acesso ao salário ganho e descontos –, o que não só aumenta a competitividade da empresa no mercado, como também reduz significativamente a carga administrativa associada à gestão de compensações.
E para os colaboradores?
Para os colaboradores, o maior trunfo é a personalização. A Coverflex permite que cada pessoa adapte a sua compensação às suas necessidades específicas, reconhecendo que uma solução única não é eficaz para todos. A compensação vai além do salário e abrange tudo o que a empresa oferece, desde benefícios financeiros até não financeiros, como seguro de saúde, apoio à saúde mental, dias de folga no aniversário, ou férias extra. Com a nossa plataforma, os colaboradores podem escolher os benefícios que mais lhes convêm, como vales para creches, planos de poupança reforma (PPR), ou pagamento de despesas de saúde e bem-estar, entre outros. Um exemplo relevante é o seguro de saúde, que, de acordo com o nosso estudo “O Estado da Compensação” em Portugal, é dos benefícios mais valorizados, já oferecido por 85% das empresas. A nossa aplicação permite que os colaboradores gerenciem e personalizem a cobertura de saúde para si e para as suas famílias, utilizando o saldo de benefícios para cobrir despesas não abrangidas pela empresa ou fazer um upgrade para um plano mais completo. Tudo isso com vantagens fiscais, já que os valores usados estão isentos de IRS e contribuições para a segurança social.
É possível detalhar as últimas apostas inovadoras que lançaram e o contributo para o crescimento da empresa?
A inovação está no coração da estratégia da Coverflex e é um dos principais motores do nosso crescimento. A nossa abordagem all-in-one à compensação é um exemplo claro disso. Embora existam várias empresas a atuar em diferentes segmentos relacionados com compensação, somos a única a integrar todos os produtos numa única plataforma. Por exemplo, algumas empresas focam-se apenas em cartões de refeição ou no acesso ao salário ganho, mas não oferecem a gestão de benefícios ou mediação de seguros. A Coverflex diferencia-se por combinar todos estes elementos, oferecendo uma solução completa e integrada que simplifica a gestão de compensação tanto para empresas quanto para colaboradores. Uma das nossas maiores apostas recentes tem sido a digitalização total das experiências de gestão de compensações. Permitimos, por exemplo, que os colaboradores constituam um PPR, gerenciem seguros, ou paguem a creche dos filhos de forma 100% digital. Além disso, substituímos os tradicionais “vouchers” por uma aplicação e um cartão Visa que podem ser usados para pagar diretamente os benefícios, oferecendo uma experiência moderna, simples e eficiente.
Mas ainda podem reforçar em termos de inovação?
Muito em breve, iremos lançar uma nova inovação no mercado que promete revolucionar ainda mais a forma como empresas e colaboradores gerem a sua compensação. Esta nova funcionalidade, única no nosso segmento, não só vai aumentar a eficiência da gestão de compensações, como também irá promover a literacia financeira dos colaboradores. Acreditamos que esta aposta terá um impacto significativo no crescimento da Coverflex, ao oferecer uma solução ainda mais completa e inovadora que responde às necessidades do mercado de forma integrada e digital.
De entre os benefícios extrassalariais, quais os produtos ou segmentos que ainda poderão oferecer aos clientes?
A Coverflex já oferece uma solução bastante abrangente com cinco produtos principais: cartão de alimentação, gestão de benefícios, budgets, Flexpay (acesso ao salário ganho) e seguros. Dentro da categoria de benefícios, temos mais de 11 opções disponíveis, cobrindo um vasto leque de necessidades, desde saúde e bem-estar até à educação e poupança. Estamos também sempre recetivos ao feedback dos nossos clientes e comprometida em melhorar continuamente a experiência de utilização dos nossos produtos. O nosso foco é garantir que tanto empresas como colaboradores possam gerir os seus benefícios de forma cada vez mais simples, eficiente e personalizada. Estamos a investir fortemente em inteligência artificial para automatizar e otimizar processos, tornando a gestão de compensações mais intuitiva e ágil. Além disso, continuamos a desenvolver novas funcionalidades que irão melhorar ainda mais a experiência dos utilizadores, oferecendo uma solução cada vez mais completa, flexível e adaptada às necessidades dinâmicas do mercado de trabalho. O nosso objetivo é ser o parceiro de confiança para empresas que querem oferecer benefícios diferenciados e inovadores aos seus colaboradores.
Quais os setores que já são clientes?
Atualmente, contamos com mais de oito mil empresas como clientes, representando quase todos os setores de atividade, desde tecnologia, serviços financeiros, retalho, saúde, até à indústria. A nossa solução é utilizada por empresas de todas as dimensões, desde negócios com apenas um colaborador até empresas com cerca de dois mil colaboradores, com algumas exceções de empresas um pouco maiores. Embora as empresas tecnológicas e digitais tenham sido as primeiras a adotar a nossa plataforma, a nossa penetração tem crescido em vários outros setores, à medida que a importância de oferecer pacotes de compensação flexíveis e personalizados se torna uma prioridade transversal. Independentemente do setor ou da dimensão da empresa, a Coverflex tem-se afirmado como a solução ideal para empresas que procuram oferecer benefícios diferenciados e adaptar-se às novas exigências do mercado de trabalho.
No campo dos indicadores financeiros, quais os dados que já conquistaram?
Em termos de indicadores financeiros, temos registado um crescimento impressionante, com mais de 100% de aumento anual em praticamente todas as métricas. Este crescimento consistente reflete-se no número de empresas e utilizadores da nossa plataforma, que tem vindo a aumentar de forma significativa. Até ao final deste ano, esperamos ultrapassar os 10 milhões de euros de receita anualizada, com uma margem sólida de cerca de 80%. Prevemos também atingir mais de 10 mil empresas clientes e 225 mil utilizadores, processando mais de 500 milhões de euros em compensação anual através da nossa plataforma, o que representa uma duplicação em relação ao ano anterior.
Quais as perspetivas para 2025?
Para 2025, mantemos perspetivas de continuar este crescimento a +100% anualmente, consolidando a nossa posição nos mercados internacionais onde já operamos, como Espanha e Itália, e explorando novas oportunidades além-fronteiras. Este crescimento contínuo será capitalizado através de uma nova ronda de financiamento, que nos permitirá reforçar a nossa estratégia de expansão e inovação, solidificando ainda mais a nossa posição como líder no mercado de compensações flexíveis.
Para ganhar dimensão a empresa equaciona o crescimento por aquisições ou a aposta será apenas no crescimento orgânico?
Cada mercado requer uma abordagem ajustada à sua dinâmica específica, e a nossa estratégia de crescimento reflete essa flexibilidade. Embora o nosso foco principal seja o crescimento orgânico, estamos sempre abertos a considerar oportunidades estratégicas de crescimento através de aquisições ou parcerias, especialmente em mercados internacionais onde tal possa acelerar a nossa expansão ou oferecer sinergias valiosas. Se surgirem oportunidades de M&A que se alinhem com os nossos objetivos e valores, iremos avaliá-las cuidadosamente para maximizar o impacto no nosso crescimento e posicionamento global.
Nesta fase equacionam reforçar o número de colaboradores?
Atualmente, a Coverflex conta com uma equipa de 150 Coverflexers. Dada a nossa ambição e planos de crescimento, é natural que equacionemos reforçar a equipa no futuro. No entanto, o nosso foco principal não está em ser a maior, mas sim a melhor equipa. Estamos plenamente cientes de que o verdadeiro desafio reside em aumentar a eficiência, adotando os melhores processos e aproveitando a tecnologia de ponta, algo que já estamos a implementar. O nosso objetivo é construir uma equipa altamente eficiente e qualificada, capaz de continuar a impulsionar a inovação e o crescimento da Coverflex, sem comprometer a qualidade e agilidade.
Olhando para outros mercados mais evoluídos na adoção destes sistemas, o que falta em Portugal para se continuar a crescer e trazer mais produtos?
Olhando para mercados mais evoluídos na adoção de sistemas de compensação flexível, o principal fator que falta em Portugal para continuar a crescer é uma maior educação financeira. Este é um desafio comum em muitos países da Europa, mas em Portugal a necessidade é particularmente urgente. Embora a usabilidade dos nossos produtos seja extremamente simples e intuitiva, o maior desafio está em garantir que os colaboradores compreendam plenamente como podem maximizar e otimizar a sua compensação. É fundamental que as pessoas percebam o valor dos benefícios disponíveis e como podem usá-los para melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar financeiro. Com maior literacia financeira, o mercado português poderá não só crescer, mas também acolher uma oferta ainda mais diversificada e sofisticada de produtos de compensação. Outro exemplo que poderia impulsionar o crescimento e a adoção dos sistemas de compensação flexível em Portugal é a necessidade de maior clareza e facilitação das fontes e quantias de financiamento da bolsa de benefícios flexíveis. Em mercados como o espanhol, por exemplo, a legislação já define claramente o conceito de “sacrifício salarial”, que permite aos colaboradores alocar até 30% do salário base em benefícios, otimizando o seu valor líquido. Este tipo de estrutura legal simplificada e bem definida ajuda a tornar os benefícios mais acessíveis e fáceis de entender, o que incentiva tanto empresas como colaboradores a adotarem soluções que maximizem o seu rendimento. Implementar algo semelhante em Portugal seria um passo importante para aumentar a transparência e o aproveitamento das compensações flexíveis.
Como avalia o ecossistema de startups em Portugal?
O ecossistema de startups em Portugal atravessa um período de grande dinamismo, com um crescimento sólido em setores como fintech, saúde digital, turismo, web3 e inteligência artificial, onde já surgiram unicórnios com ADN português. O país tem também atraído empresas internacionais de renome, como a Google e a Cloudflare, consolidando-se como um hub europeu de inovação. Além disso, contamos com fundos nacionais bem capitalizados, como a Shilling, Armilar e Start Ventures, assim como investidores internacionais de referência, de Londres a Silicon Valley, que continuam a apostar no mercado português. A força do ecossistema é ainda reforçada por iniciativas como a Web Summit, Startup Portugal, Unicorn Factory Lisboa e a rede Endeavor, que posicionam Portugal como um destino atrativo para investidores e empreendedores. Exemplos de startups como a Poolside, que captou 500 milhões de euros, e a Sword, que garantiu uma ronda significativa, demonstram claramente a capacidade do país para atrair investimento internacional e competir a nível global.
Há espaço e condições para que as startups continuem a nascer e crescer?
O desafio agora é assegurar que este crescimento seja sustentável, criando condições para que mais startups possam escalar internacionalmente. Para tal, é crucial apostar em programas de aceleração, facilitar o acesso ao capital de risco e promover um ambiente regulatório mais flexível. Com as políticas certas e capitalizando nas iniciativas já existentes, Portugal tem todas as condições para se consolidar como uma verdadeira startup nation, onde as empresas tecnológicas desempenham um papel central na economia e geram impacto global.
E o País tem impulsionado a transformação tecnológica?
Gostaria de ver Portugal e as grandes câmaras municipais abraçarem de forma mais incisiva as novas tecnologias e os avanços na área da inteligência artificial para otimizar processos e oferecer serviços mais eficientes e inovadores aos seus cidadãos. Um passo significativo seria a criação de cargos como CTO (Chief Technology Officer) nas principais câmaras do País e no governo central, apoiados por equipas tecnológicas dedicadas. Esta iniciativa poderia transformar Portugal numa verdadeira nação digital, semelhante ao que vimos acontecer na Estónia, onde o governo digital é um exemplo mundial. Seria uma oportunidade para Portugal liderar pelo exemplo, aproveitando o potencial da tecnologia para modernizar os serviços públicos e melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos.
