O público está habituado a vê-la na televisão, mas Catarina Furtado decidiu lançar o seu novo projeto no digital. O podcast ‘Ponto de Luz’ foi lançado esta semana no Spotify e Youtube, e chega com o objetivo de dar voz aos adolescentes, através de conversas com professores, sobre o estado da educação em Portugal e sobre temas associados aos direitos humanos. Ou seja, se por um lado o formato é diferente, por outro é mais um projeto fiel ao trabalho de Catarina como defensora dos direitos humanos, como presidente e fundadora da ONGD Corações Com Coroa e como embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a População.
“Aquilo que me apercebi ao longo do tempo é que em Portugal não há nenhum espaço onde esta faixa etária, e eu entrevistei pessoas dos 13 aos 18 anos, tenha um microfone onde possa dizer o que pensa e possa falar sobre as suas inquietações, os seus desejos, a forma como vê a escola, o modelo escolar, o formato da atual educação em Portugal. Normalmente são até bastante desvalorizados por estarem naquela fase em que tantas vezes lhes é dito que estão na idade do armário, que têm as hormonas aos saltos, e eles são muito descredibilizados injustamente”, explica Catarina à Forbes.
Além disso, e segundo as conversas que a apresentadora foi tendo com psicólogos na fase de preparação deste projeto, falamos da geração – a par com os idosos – que mais sofreu com os efeitos da pandemia causada pela covid-19. “Eles tiveram uma altura hipotecada das suas vidas que é completamente irrepetível. Não se tem uma adolescência outra vez. Todos nós fomos impactados negativamente, mas na verdade eles não voltam a ter aquela adolescência”, diz.
Posto isto, e tendo em conta que a escola se faz de alunos e professores, Catarina decidiu juntá-los e dar-lhes o microfone que eles não tinham. Nos episódios que colocam frente-a-frente um professor e um aluno, que não se conhecem e com origem em qualquer zona do pais, serão abordados temas como a cidadania, igualdade de género, violências, discriminação, racismo, saúde mental, populismos, desinformação, educação sexual, consentimento, orientação sexual, idadismo, incapacidades, inclusão, sustentabilidade, redes sociais e liberdade de expressão.
“Uma das conclusões que tiro do podcast é que os professores atualmente estão muito sobrecarregados com tarefas logísticas e burocráticas, que nada têm a ver com a sua disciplina e que depois lhes retira qualquer energia para de facto se concentrar nos alunos. Os alunos acusam isso em relação aos professores e também têm as suas questões que não são resolvidas em sala de aula, nomeadamente todas estas temáticas que para eles, e foi muito óbvio neste podcast, são essenciais”, explica Catarina, realçando que este projeto é “um contributo que quero dar aos Ministérios da Educação”.
Catarina, em conjunto com os alunos e professores, gravou 12 episódios, seis vão ser disponibilizados a partir de agora e os outros seis são lançados a partir do início do próximo ano. À Forbes, a apresentadora revelou um pouco sobre o que será possível ouvir ao longo destes episódios.
“É muito interessante perceber coisas como porque é que ainda existe, e está a crescer sempre, a violência no namoro. Perceber que eles não conseguem desabafar com professores questões que são de imensa dor e que têm a ver, por exemplo, com as questões de identidade de género ou de orientação sexual. É curioso que as questões de género, as desigualdades, ainda persistem, mas, por exemplo, a nível do intelecto, os rapazes já não têm tantas inseguranças. Numa sala de aula, se as raparigas são mais atentas ou melhor alunas, eles não ficam inseguros. As questões da saúde mental também falaram muito. Acho que aquilo que se retira, acima de tudo, é que eles sentem mesmo que são pouco ouvidos. Eles apontam os preconceitos que ainda existem e querem mesmo que a escola seja um espaço seguro. Até há adolescentes que me falaram de uma revolução, que a escola precisa de uma revolução”, conta a apresentadora.
Há ainda um outro episódio que destaca, principalmente quando temos em conta “os ventos que estamos a viver em Portugal”. “Há um estudo que veio agora a público que diz que nos jovens os rapazes são mais conservadores e as raparigas mais progressistas. Eu também quis perceber isso. Como é que isso se reflete depois? E o que é que está a acontecer? Porque é que estamos a ter, outra vez, ondas de exclusão, discriminação e violência?”.
Com este podcast, Catarina espera chegar a novos públicos, que não acompanham tanto a televisão hoje em dia, mas acima de tudo aos adolescentes, educadores e decisores políticos. Ao seu lado tem a Missão Continente, sua parceira na Corações com Coroa e agora também neste projeto.
“Aquilo que eu pretendo mesmo é contribuir, enquanto comunicadora, para um país mais humanista. E há qualquer coisa que não está a correr bem, como nós sabemos. Não é só em Portugal, mas no mundo inteiro. E, então, eu quero perceber o que é que estes jovens pensam, porque são eles que vão agarrar nisto”, conclui Catarina.