A Casa Independente, em Lisboa, vai encerrar no final de 2026, “sem possibilidade de continuidade do projeto”, anunciaram hoje as responsáveis daquele espaço cultural que abriu em 2012 no Largo do Intendente.
Em outubro de 2023, Patrícia Craveiro Lopes e Inês Valdez foram informadas de que o edifício onde está a Casa Independente seria colocado à venda e que, por isso, não veriam renovado o contrato de arrendamento em vigor. Na altura, souberam que teriam até março de 2026 para abandonar o espaço. A ideia era encontrarem um local alternativo.
Num comunicado enviado hoje à Lusa, anunciam que a Casa Independente “permanecerá aberta até dezembro de 2026, sem possibilidade de continuidade do projeto”.
O novo prazo “decorre de um acordo recente com o proprietário do edifício, que permitiu prolongar a atividade por mais um ano”.
Patrícia Craveiro Lopes e Inês Valdez referem que “foram feitas diversas tentativas para encontrar uma solução que permitisse à Casa Independente permanecer aberta para além de 2026, mas as negociações não foram suficientes”.
“O proprietário seguiu a tendência que hoje domina Lisboa, onde hotéis e condomínios têm mais valor do que projetos culturais que servem a comunidade”, lamentam, dizendo também que “mesmo a tentativa de arrendar um espaço camarário com o apoio desta autarquia não teve resultados, o que mostrou como a cidade continua sem respostas para proteger os seus espaços independentes”.
A decisão, “que não é leve”, de colocarem o ponto final no projeto “resulta da impossibilidade de reabilitar ou garantir um novo espaço numa cidade onde a especulação imobiliária não deixa margem de hipótese para projetos culturais, tal como não a deixa para muitos residentes”.
Em outubro do ano passado, Patrícia Craveiro Lopes tinha dito à Lusa que havia contactos com a Câmara Municipal de Lisboa para ajudar as duas sócias a arranjar um sítio para arrendar, “porque o mercado está absolutamente impossível”.
No comunicado hoje divulgado, afirmam que Lisboa “atravessa um esgotamento estrutural”, defendendo que “a pressão imobiliária e as rendas impraticáveis resultam na transformação de edifícios históricos em hotéis e condomínios de luxo, ao mesmo tempo que enfraquecem a vivência cultural e comunitária”.
“O destino da Casa não é um caso isolado: é o reflexo de uma cidade cujo centro, outrora pulsante de cultura independente, se encontra hoje esvaziado”, alertam.
Com o aumento dos preços do arrendamento e da compra de imobiliário, residentes e associações têm sido forçados a mudar de zona da cidade ou a encerrar definitivamente. Foi o que aconteceu em anos recentes com o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, na Rua do Benformoso, o Sport Club do Intendente, no Largo do Intendente, ou a Crew Hassan, na zona dos Anjos.
Em risco estão também espaços como o Arroz Estúdios, no Beato, a Sirigaita e a Zona Franca dos Anjos, nos Anjos, e a SMOP – Sociedade Musical Ordem e Progresso, na zona das Janelas Verdes.
A Casa Independente abriu em 2012 no Largo do Intendente, num período de revitalização daquela zona, até então dominada pela prostituição e tráfico e consumo de droga.
“Ao longo destes 13 anos, o espaço foi um pilar de transformação cultural da cidade, acompanhando e impulsionando a nova vida do Intendente, que se tornou símbolo da revitalização de Lisboa e ponto de encontro entre residentes, artistas e visitantes”, recordam.
Para as fundadoras da Casa Independente, o encerramento “é também reflexo de um Intendente que volta a dar sinais de abandono, marcado pela ausência de visão e de investimento público para preservar o seu papel como centro de vida comunitária e cultural, e tomado por empreendimentos imobiliários de luxo”.
Até ao dia do encerramento, em dezembro de 2026, Patrícia Craveiro Lopes e Inês Valdez garantem que o espaço “manterá uma programação intensa, afirmando-se como lugar de resistência, diversidade e celebração”.
As duas sócias convidam todas as pessoas a juntarem-se a elas até ao encerramento da Casa Independente, “transformando este fim anunciado num tempo de partilha”.
A Casa Independente tem sido palco de concertos, exposições, apresentações de livros, cinema, mesas redondas, conferências, residências artísticas e performances.
Lusa