Visto de fora, o TikTok acaba por ser a plataforma onde até parece fácil. Ou seja, a forma como o algoritmo da rede social entrega o conteúdo, faz com que ele acabe por chegar a mais pessoas do que, por exemplo, no Instagram. Só que, para os criadores de conteúdo que o usam como veículo de trabalho, há muito mais dedicação e tempo envolvidos do que simplesmente um único conteúdo que chega a muita gente.
“Viralizar um vídeo é muito fácil, mas manter-se na plataforma com uma boa estatística é mais complicado”, garante a criadora de conteúdo Carolina Moura.
Natural de Coimbra, mas a viver em Espanha desde muito cedo, Carolina conta hoje com mais de 1,8 milhões de seguidores no TikTok. Não nega que sempre teve interesse pelo mundo das redes sociais, mas não sabia ao certo como tornar isso uma realidade. Até que chegou o TikTok.
“Quando começou o TikTok, estava a namorar com um rapaz e ele não parava de dizer: tens de começar um TikTok, vais adorar. No início pensava que era de pessoas a dançar, então eu morria de vergonha e dizia que não. Mas no fim, ele convenceu-me, fiz um vídeo e funcionou muito bem. Era um get ready with me”, conta à Forbes.
É exatamente aqui que se começa a diferenciar o resultado que obtém um criador que aponta a um vídeo viral e o que consegue um criador que se foca na consistência. Carolina começou a ser um rosto conhecido dos utilizadores da plataforma por causa da categoria moda, mas acabou por perceber que para tornar isto uma profissão teria de continuar a inovar, adaptar e renovar o seu conteúdo.
“O mais importante é começar a fazer muitas coisas, porque só com uma, no final, as pessoas acabam por perder interesse. É mais com a personalidade do que qualquer outra coisa, ser natural e a partir daí é que começa a funcionar. Eu comecei a fazer coisas de roupa, depois mudei e comecei a mostrar sítios, restaurantes, a falar do que for. Foi assim que comecei a crescer. É importante pensar sobre as coisas virais, mas ao mesmo tempo fazer um conteúdo que gostes de fazer diariamente. Nem sempre vais ter um vídeo viral, também é verdade, mas tens de fazer sempre, todos os dias e com calma”, diz.
Hoje em dia, mesmo que continue a fazer vídeos sobre moda, os conteúdos de Carolina que apresentam maiores resultados são aqueles em que coloca o telemóvel a gravar e fala diretamente para a câmara sobre diversos temas, assim como toda a experiência de uma viagem ou as visitas a lojas para mostrar o que há de novo. “São coisas que eu acho que são muito dinâmicas e que não é conteúdo vazio, na minha opinião. Acho que o conteúdo que eu faço pode ser mais ou menos importante, mas não é vazio”, defende. “Porque eu só fazia coisas de roupa, senti que, de repente, começou a descer. As pessoas perderam o interesse, logicamente, porque eram sempre os mesmos vídeos. Por isso é que comecei a fazer mais coisas”.
Profissão: TikToker
Por norma, nas redes sociais, há duas formas de tentar chegar a uma profissionalização: através da monetização das próprias plataformas – ainda que diversos criadores de conteúdo realcem que nunca são quantias muito elevadas – e através do trabalho com as marcas. Só que também aqui o TikTok está um pouco diferente de todas as outras: Já não recompensa monetariamente os criadores.
“Antes tinha, mas agora não tem. Antes havia uma retribuição económica por cada vídeo, visualizações, não sei bem como é que funcionava, mas também não era assim muito dinheiro, não era nada exagerado. Agora acabou e é só por meio da publicidade que fazemos com as marcas”, conta Carolina.
Uma medida que não veio afetar muito a carreira de Carolina, que confessa não ter perdido trabalho, mas que pode afetar os criadores que não trabalhem tanto com as mercas. Ou que não tenham outros projetos, como Carolina tem.
“Agora mesmo estou em dois projetos, um é uma aplicação e outro é uma loja de roupa. A loja de roupa ainda está a começar, ainda nem sequer saiu, e a aplicação [VALENTYN] saiu em outubro”, conta.
Cria-la passa simplesmente pela vontade de ter um impacto maior na vida das pessoas, e não pela ideia de um projeto “reserva” para o caso de algo mudar nas redes sociais. “Eu entendo que uma pessoa possa pensar que agora funciona, mas se calhar o TikTok daqui por dois anos não funciona. Se calhar não é o TikTok, mas é outra. Neste momento todos estão com um telemóvel na mão. Os meus pais não estão porque não nasceram nesta altura, mas eu sei que nós vamos continuar a crescer e vamos continuar com o telemóvel na mão. Então, eu não tenho medo. É verdade que se calhar o meu perfil, em algum momento, pode deixar de funcionar, mas também sei que tenho algumas publicidades que são anuais, então tenho sempre um ano de margem de trabalho. Mas não foi por isso [que criou os outros projetos], é simplesmente por inquietude pessoal”, afirma.
Perfil de sucesso
“É como qualquer pessoa que luta muito por conseguir um sonho. E depois consegues. É sentir-se agradecido, completo, orgulhoso de si mesmo por ter conseguido”, diz.
É assim que Carolina Moura define sucesso na sua área profissional. Mas para lá chegar é necessário ter em conta algumas coisas. Sejam elas mais ou menos técnicas.
“A primeira é ter claro o tipo de conteúdo que gostavas de fazer. Tens de ser consciente que os três primeiros segundos é quando vais conseguir captar, ou não, a atenção das pessoas, então é muito importante que estes primeiros três segundos sejam com movimento, que façam a pessoa ficar. Acho que é importante não fazer vídeos de 10 minutos porque ninguém vai ver 10 minutos de vídeo. É importante ser natural e falar bem, alto. Não é para falar baixinho, tens de perder a vergonha. Tens de pôr um título nos vídeos. E eu acho que é muito importante pôr sempre a mesma tipografia”, diz, enumerando algumas das coisas mais importantes para quem está a começar a sua carreira nas redes sociais.
E porque já sabe que tudo isto, entre outras coisas, funciona, está mais do que preparada para recomeçar. Desta vez, em português, mesmo que esteja ainda numa fase de entender o mercado. Neste momento ainda não conseguiu entender se o tipo de conteúdo que faz seria tão bem recebido em Portugal como em Espanha, mas garante: “Eu já pensei em começar a fazer vídeos para Portugal. Se calhar até começo, posso começar e ver se funciona ou não”.