Como é que surgiu a ideia de criar estes guias para crianças?
No meu trabalho, como designer gráfica, os meus projetos favoritos sempre foram os editoriais com componente pedagógica, como catálogos de museus ou livros escolares. Além disso, sempre fui uma pessoa muito curiosa e com interesse em ler sobre vários temas. Mas só depois de ser mãe e observar as curiosidades e dúvidas da minha filha durante a sua idade dos porquês, é que me senti inspirada a criar os guias “Famílias Curiosas”. Existem tantos guias da cidade de Lisboa, mas nenhum pensado para famílias com crianças, além de que são sempre muito generalistas.
Foi assim que decidi criar os guias “Famílias Curiosas”, pequenas brochuras que exploram em pormenor pequenas zonas interessantes de Lisboa, como o Jardim da Estrela ou o Bairro de Campo de Ourique, e que além de terem conteúdos escritos de forma a cativar toda a família, ainda contam com alguns desafios para manter as crianças entusiasmadas durante o percurso.
Esta pode ser a solução que tantos pais procuram para fazer com que as crianças larguem os ecrãs?
Embora se fale muito do excesso de ecrãs nas camadas mais jovens, não me parece que nós, pais, sejamos inocentes. Passamos também demasiado tempo agarrados ao telemóvel com a desculpa de que o que estamos a fazer é trabalho, ou é sempre importante. Temos a obrigação de ser um exemplo neste campo também. Os guias “Famílias Curiosas” pretendem convidar as famílias a sair de casa, largar os hábitos sedentários, explorar a natureza, apreciar o património, a arte, e olhar para o que nos rodeia com “olhos de ver”. No fim de cada passeio, toda a família largou os ecrãs e ativou o espírito de descoberta que todos temos, mas que está muitas vezes adormecido.
Como é que surge a ideia de juntar os acessórios à gama de produtos?
Os acessórios foram todos criados e costurados por mim para oferecer à minha filha, antes de existir a Play Slow. Observava as suas brincadeiras de “faz-de-conta” e pensava como seria mais divertido se ela tivesse um determinado acessório que trouxesse mais realidade à brincadeira, como o avental de cozinha, o de jardinagem, a bata de médica. Algumas pessoas amigas pediam que costurasse peças iguais também para os seus filhos, então pareceu-me que faria todo o sentido acrescentar estes acessórios à loja. É esse o principal objetivo da Play Slow, disponibilizar materiais que promovam bons momentos em família, sejam eles um passeio para conhecer uma zona de Lisboa, fazer bolachas juntos, ou semear um canteiro de ervas aromáticas no jardim ou na varanda lá de casa.
Neste momento tem apenas guias em Lisboa. Há algum plano de expansão?
A prioridade atual é abranger a maior área possível da cidade de Lisboa, mas os guias “Famílias Curiosas” fazem sentido em qualquer zona do mundo onde haja história, património, natureza e famílias curiosas. Quem sabe se um dia não existirá um guia “Famílias Curiosas em Coimbra”, a minha cidade, “Famílias Curiosas em Sintra”, seria um local excelente dada a combinação de natureza e património, ou “Famílias Curiosas em Soho”, um bairro cheio de vida que adoro em Londres. O céu é o limite!
Considera que as crianças hoje em dia têm o contacto necessário com a história e cultura?
Atualmente já começa a existir uma maior oferta a nível cultural e de acesso mais democratizado: os museus estão cada vez mais a dar maior importância ao público infantil, não faltam eventos em espaços culturais, há cada vez maior oferta de literatura apelativa para a infância. No entanto, os telemóveis, computadores e consolas roubam uma fatia considerável de tempo na vida das crianças. Cabe-nos a nós, pais, gerir da melhor forma esta competição feroz. Os guias “Famílias Curiosas” podem ser uma ferramenta aliciante para incutir o gosto pela história e cultura.