A Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD) considerou que o fim da operação da Ryanair para os Açores representará um “choque sem precedentes” na economia açoriana, podendo ameaçar a atividade de “centenas de empresas”.
“A concretizar-se, este cenário provocará uma quebra abrupta no investimento turístico, comprometendo mais de uma década de trabalho, negociações, captação de mercados e desenvolvimento estratégico. Corremos o risco real de ver estagnar tudo aquilo que demorou anos a construir”, afirmou a associação empresarial, em comunicado de imprensa.
A companhia aérea de baixo custo Ryanair anunciou “que irá cancelar todos os voos de/para os Açores a partir de 29 de março de 2026, devido às elevadas taxas aeroportuárias (definidas pelo monopólio aeroportuário francês ANA) e à inação do Governo português, que aumentou as taxas de navegação aérea em +120% após a Covid e introduziu uma taxa de viagem de dois euros, numa altura em que outros Estados da União Europeia (UE) estão a abolir taxas de viagem para garantir o crescimento de capacidade, que é escasso”.
Em reação, a CCIPD disse que o fim da operação da Ryanair para os Açores “representa um choque sem precedentes para a economia regional” e que os empresários da ilha de São Miguel estão num clima de “autêntico pânico”.
“Desde a saída da base da Ryanair em 2022, os Açores perderam 94.000 lugares anuais que nunca foram repostos pela SATA [companhia aérea açoriana]. Esta redução violenta na capacidade aérea atingiu em cheio a operação de inverno, fragilizou as empresas e fez recuar o destino na sua competitividade internacional”, apontou.
Segundo a associação empresarial, os impactos de uma eventual saída da Ryanair “não se limitam ao setor turístico”.
“O efeito cascata será brutal: hotelaria, restauração, comércio, rent-a-car, animação turística, eventos, serviços, agricultura, pesca, transportes, indústrias criativas — todos sentirão de forma dramática a quebra na procura. Centenas de empresas e milhares de trabalhadores verão a sua atividade diretamente ameaçada”, alertou.
A Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada acusou o Governo Regional dos Açores de “falta de empenho” e de não ter uma “visão estratégica” para garantir acessibilidades aéreas e assegurar uma promoção turística “robusta e profissional”.
A associação que representa os empresários de São Miguel e Santa Maria alegou que a diferença de investimento entre Açores e Madeira neste setor é “gritante”.
“A Madeira investe de forma contínua, agressiva e altamente profissionalizada na promoção turística, com equipas preparadas, campanhas consistentes, presença ativa nos principais mercados internacionais e com orçamento de cerca de 20 milhões de euros; os Açores investem muito menos de metade, investem mal e investem tarde”, criticou.
Também a atuação da ANA Vinci, responsável pela gestão do aeroporto de Ponta Delgada, mereceu “profunda insatisfação” dos empresários.
“Existem investimentos estruturais que deviam estar concluídos há cinco anos e que, segundo a concessionária, só estarão prontos daqui a mais cinco — tudo com a conivência do Governo Regional”, vincaram.
A Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada apelou ao executivo açoriano para que “abandone a postura reativa e assuma, de imediato, uma posição firme, estratégica e orientada para resultados, assegurando que os Açores permanecem integrados nas grandes rotas europeias de baixo custo e que não perdem a notoriedade internacional conquistada com tanto sacrifício”.
“Os Açores têm hoje uma oportunidade decisiva para travar a perda de conectividade e garantir um futuro sustentável para a economia regional. É urgente negociar com seriedade e visão com uma transportadora que comprovadamente gera retornos imediatos e robustos para o arquipélago. Mas isso exige liderança, estratégia e capacidade de decisão — precisamente o que tem faltado”, sublinhou.
Perante isto, a ANA emitiu um comunicado em que afirma que “a declaração da Ryanair constitui uma surpresa, sendo as recentes conversas com a companhia irlandesa são orientadas no sentido de aumentar, e não reduzir, a sua oferta de voos para Ponta Delgada”.
A ANA defende-se, referindo que “as taxas aeroportuárias em vigor nos Açores, as mais baixas da rede, têm sido inalteradas em 2025 não tendo a ANA proposto qualquer aumento para 2026. Essa redução de custo em termos reais (i.e. retirando o efeito da inflação) não pode assim justificar a mudança de posição da companhia”.
A ANA diz ainda que “o diálogo mantém-se naturalmente aberto com a Ryanair para identificar, além do conhecido posicionamento de comunicação da companhia, quais terão sido os elementos novos de contexto”, acrescentando que as rotas (PDL-LIS e PDL-OPO) operadas pela Ryanair estão também operadas pela SATA e pela TAP.
com Lusa





