Calçado português assume “ambição” de ser alternativa à produção massificada da Ásia

Os industriais do calçado alertam que a atual concentração de 90% da produção na Ásia “não é sustentável” e a Europa “não pode resignar-se a um papel secundário”, tendo Portugal dado “provas claras” de poder ser uma alternativa. “Temos o conhecimento, a criatividade, a tradição e a tecnologia para propor uma alternativa credível e competitiva…
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Os industriais do calçado alertam que a atual concentração de 90% da produção na Ásia “não é sustentável” e a Europa “não pode resignar-se a um papel secundário”, tendo Portugal dado “provas claras” de poder ser uma alternativa.
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Os industriais do calçado alertam que a atual concentração de 90% da produção na Ásia “não é sustentável” e a Europa “não pode resignar-se a um papel secundário”, tendo Portugal dado “provas claras” de poder ser uma alternativa.

“Temos o conhecimento, a criatividade, a tradição e a tecnologia para propor uma alternativa credível e competitiva ao modelo de produção massificada. Portugal tem dado provas claras dessa ambição”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) na sessão de abertura de uma conferência sobre o futuro da indústria do calçado, que decorreu esta terça-feira no Porto.

Defendendo que a Europa “não pode resignar-se a um papel secundário”, mas antes “afirmar-se como referência de qualidade, de inovação e de responsabilidade”, Luís Onofre avisou que a atual concentração “tão extrema” da produção de calçado na Ásia – responsável por quase 90% dos 24.000 milhões de pares produzidos a nível mundial – “torna o setor vulnerável e desequilibrado”.

“E, sobretudo, ignora o imenso potencial de outras regiões do mundo, nomeadamente da Europa”, salientou.

Entre as “provas claras” da “ambição” do setor português de calçado, o dirigente associativo apontou os 120 milhões de euros investidos nos últimos três anos nas áreas da automação, robótica e sustentabilidade.

“Trata-se do maior ciclo de investimento do setor de calçado em Portugal e um passo decisivo no caminho que decidimos percorrer: tornar a nossa indústria numa das mais modernas do mundo”, enfatizou, acrescentando: “É igualmente a nossa maior prova de confiança no futuro e um contributo para repensar o futuro global da nossa indústria”.

Na sua intervenção na conferência, a representante da Comissão Europeia (CE) em Portugal apontou a indústria portuguesa de calçado como “um exemplo claro de como a participação estratégica e a capacidade de adaptação podem transformar desafios em vantagem competitiva”.

Destacando a automação, a robótica avançada, a inteligência artificial e os novos modelos de consumo como fatores que “vão redefinir o papel da Europa nas cadeias de valores globais”, Sofia Moreira de Sousa garantiu que para a CE é “uma prioridade apoiar a indústria para que se torne mais consciente, mais digital e mais sustentável”.

A responsável da Comissão defendeu que o caminho a seguir passa pelo reforço das cadeias de valores estratégicas, investimento em inovação, aceleração da transição verde e atração de talento, num contexto em que “as cadeias de valor globais estão a reajustar-se, a tecnologia avança a um ritmo sem precedentes e as exigências ambientais, sociais e de consumo se tornam cada vez mais claras”.

A este propósito, Sofia Moreira de Sousa lembrou o “compromisso político e económico” da CE “para reforçar a competitividade industrial europeia, acelerar a transição verde e digital e garantir que a Europa continue a ser um espaço de inovação, de produção e tecnologia”, ao mesmo tempo que “está a trabalhar num dos processos mais ambiciosos da simplificação regulatória nos últimos anos”.

“Sabemos que as empresas precisam de regras claras e previsíveis. A redução de encargos e a modernização da regulação são fundamentais para apoiar a competitividade industrial”, sustentou, rematando que a indústria europeia “só será forte se for capaz de produzir, e produzir na Europa, com talento europeu, inovação europeia, padrões europeus”.

Já Vasco Rodrigues, da Universidade Católica, notou que se há 30 anos cerca de um terço do calçado produzido no mundo era feito na Europa, hoje a produção europeia responde por apenas 2,3% e a Ásia por 88%.

Ao mesmo tempo, embora quase um terço do comércio mundial de calçado ocorra dentro da Europa, esta exporta pouco para outros continentes, enquanto a Ásia tem “fluxos importantes de exportações para todos os continentes” e é “o grande polo do negócio do calçado a nível mundial”.

Lusa

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