O café, bebida que surgiu na Etiópia há mais de mil anos, na zona de Kaffa, e amplamente divulgada pelos árabes, que iniciaram a sua torra, tornou-se um hábito mundial e é hoje uma das bebidas mais consumidas em todo o planeta. É, sobretudo uma bebida social, consumida mais vezes fora de casa, um estilo de vida que não é apenas reservado aos portugueses, muito adeptos dos “vamos tomar um café?”.
Segundo a multinacional de dados estatísticos, a Statista, as receitas do mercado mundial do café, combinando o consumo fora de casa e o consumo doméstico, ascenderam, em 2023, a 450,1 mil milhões de dólares (cerca de 402,7 mil milhões de euros), sendo que as receitas relativas ao consumo fora de casa são muito superiores: 253,7 mil milhões de dólares (cerca de 227 mil milhões de euros) são relativas a estabelecimentos e apenas 105 mil milhões de dólares (cerca de 94 mil milhões de euros) são referentes ao consumo dentro de portas.
O preço do café tem vindo a subir consideravelmente nos últimos anos, e em junho deste ano registou o valor mais alto dos últimos 13 anos, segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC).
E, apesar de todos os constrangimentos sentidos no setor – que falaremos adiante -, estima-se que o mercado cresce para os 461 mil milhões de dólares (412,5 mil milhões de euros) em 2024, representando o consumo fora cerca de 367,8 mil milhões de dólares (329 mil milhões de euro) e o consumo em casa de 93,4 mil milhões de dólares (83,5 mil milhões de euros). Para 2028, as estimativas são também aliciantes: o setor deverá gerar um volume de negócios de 509,2 mil milhões de dólares (cerca de 455,6 mil milhões de euros).
A que preço chegará a famosa “bica” portuguesa?
Porém, ficará este crescimento a dever-se à transformação desta bebida num produto de luxo? A que preço chegará a famosa bica portuguesa? A previsão torna-se difícil. O preço do café tem vindo a subir consideravelmente nos últimos anos, e em junho deste ano registou o valor mais alto dos últimos 13 anos, segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC).
Segundo uma análise feita pelos especialistas da XTB, plataforma de investimento online, uma tonelada de café custa agora 5 mil dólares (cerca de 4.448 euros). O preço do Arábica já aumentou 40% este ano e o do Robusta cerca de 90%.
A análise da XTB refere que são vários os fatores que têm levado a este incremento de preços. Um deles é a redução dos níveis de stocks mundiais, que atingiram os níveis mais baixos desde 2011. Os recentes eventos climáticos adversos estão a comprometer a qualidade dos grãos, o que pode reduzir a produção anual entre os 10% e os 20%. No Brasil, o La Niña está a provocar secas que levam à redução do café tipo arábica, traduzindo-se num défice no mercado mundial, e o tufão Yagi destruiu cafezeiros no Vietname.
Situações climáticas adversas, como secas e cheias, nova regulamentação europeia e constrangimentos no Canal do Suez, são os principais fatores na origem da descida de stocks e aumento dos preços do café a nível mundial.
Acresce a isto a chegada de nova regulação, nomeadamente na União europeia, que vai proibir a utilização de produtos produzidos em zonas onde tenha ocorrido ações de desflorestação. Por isso, comerciantes e produtores estão a aumentar a compra de café, por forma a evitar os novos constrangimentos que serão vividos em 2025.
Também o bloqueio parcial do Canal do Suez está a ter impacto nos preços. Ou seja, ao comprar café na Ásia ou em certos países africanos, o café tem de percorrer uma distância muito maior até à Europa.
Por tudo isto, os analistas referem que é muito difícil antecipar o comportamento deste produto. “Nos últimos anos, o mercado tem registado excedentes em vez de défices, o que indica que ainda há muito café a nível mundial. Por outro lado, o crescimento da procura é praticamente ininterrupto, e dois ou três anos de produção reduzida poderiam levar a uma situação em que a redução dos stocks terá um impacto significativo nos preços ao consumidor”, pode ler-se no documento.
O comportamento dos Fundos, que detêm um grande número de posições líquidas longas em futuros de café, e estão a reduzir as posições curtas, vão impactar os preços deste produto no futuro.