Na segunda–feira, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro anunciou que a Indonésia se tinha tornado o mais recente membro pleno do grupo BRICS e saudou o país “detentor da maior população e da maior economia do Sudeste Asiático”.
A candidatura da Indonésia recebeu o aval dos líderes do grupo na Cimeira de Joanesburgo, em 2023. Apesar desse aval, a Indonésia pediu para entrar formalmente no grupo apenas após as eleições presidenciais de 2024 e da formação do novo Governo, o que sucedeu agora.
“A Indonésia partilha com os demais membros do grupo o apoio à reforma das instituições de governança global e contribui positivamente para o aprofundamento da cooperação do Sul Global, temas prioritários para a presidência brasileira do BRICS, que tem como lema Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, referiu o Governo brasileiro.
O grupo BRICS, termo criado por um analista da Goldman Sachs sobre economias emergentes, foi fundado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul, em 2011, e, em 2024, o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia. O bloco representa já mais de 40% da população global e mais de 35% do Produto Interno Bruto mundial, mas o seu peso no cenário mundial pode não ficar por aqui.
Nos últimos anos, o BRICS tem vindo a convidar várias nações a se juntarem ao grupo, mas embora alguns desses convites tenham sido rejeitados (caso da Argentina), outros deverão ser aceites. Nesse sentido e após a Indonésia, outros potenciais países a aderirem ao BRICS são Azerbaijão, Bangladesh, Myanmar, Paquistão, Senegal, Sri Lanka, Síria e Venezuela. Alguns destes Estados até poderão juntar-se ao grupo durante 2025.
O bloco, que conta ainda com outros países associados, casos de Turquia, Nigéria, Argélia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Cazaquistão, Vietname, Tailândia, Malásia, Uzbequistão e Uganda, está assim, a visar reforçar a sua posição estratégica como contrapeso às organizações existentes.
Num contexto global em que a Rússia foi alvo de sanções económicas na sequência da invasão e da guerra que provocou em solo da Ucrânia, o BRICS é também um outro tabuleiro em que Putin se move e aposta em exercer a sua influência, com o intuito de angariar novos aliados, sobretudo junto de países emergentes. Por sua vez, esses países estão também ávidos de terem voz e de ocuparem um lugar mais central numa nova ordem mundial que defendem. Aliás, as declarações da Indonésia a respeito da sua adesão ao BRICS vão nesse sentido, destacando que a sua entrada como membro permanente do grupo BRICS, dará mais destaque aos países não ocidentais e ajudará a alcançar uma ordem mundial mais equilibrada.
“Esta conquista reflete o crescente papel ativo da Indonésia nos assuntos globais, bem como o seu compromisso em reforçar a cooperação internacional para alcançar uma ordem global mais inclusiva e equilibrada”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Indonésia.
O grupo BRICS é “uma plataforma importante para a Indonésia reforçar a cooperação sul-sul, garantindo que as vozes e aspirações dos países do Sul Global são ouvidas e representadas no processo de tomada de decisão global”, acrescentou o ministério, em comunicado.
Várias das nações que se perfilam como futuros membros do BRICS são potências regionais mas que ainda ocupam um plano secundário na hierarquia mundial, encontrando, assim, no BRICS um espaço de acolhimento favorável às suas aspirações e onde sentem que podem ter protagonismo. Putin sabe disso e joga também com isso para querer mostrar que tem aliados e tentar tirar dividendos.
Na 16ª cimeira dos BRICS em Kazan, na Rússia, em outubro de 2024, Vladimir Putin insistiu especificamente na criação de um novo sistema de pagamentos que ofereça uma alternativa à rede mundial de mensagens bancárias SWIFT e que permita a Moscovo evitar as sanções ocidentais. O BRICS é, por isso, um outro tabuleiro de guerra em que Putin se move. Até onde estas suas ideias e o próprio BRICS vão chegar é a dúvida agora.