Três anos depois do abandono da União Europeia (UE) por parte do Reino Unido (RU), a investigação levada a cabo pela Bloomberg Economics desenha um quadro sombrio no que diz respeito aos danos causados pela forma como o governo Conservador lidou com o Brexit.
Segundo os economistas Ana Andrade e Dan Hanson, numa nota publicada pela Bloomberg, o PIB britânico está 4% abaixo do que poderia estar, caso o Reino Unido tivesse permanecido na União Europeia. A diminuição no crescimento do PIB deve-se, segundo eles, a uma queda relativa do investimento em empresas no país, bem como ao impacto causado pela escassez de mão-de-obra de cidadãos europeus.
Sem o Brexit, o PIB Britânico poderia ter aumentado mais 4%.
Na nota publicada na passada terça-feira, os dois economistas declararam que o Reino Unido cometeu um “ato de autoagressão económica” com o voto de 2016 e com as policies erráticas que se lhe seguiram. Acrescentam ainda que “a rutura do Mercado Único terá impactado a economia britânica mais depressa” do que esperado.
Os resultados geram uma contradição em relação ao conteúdo do discurso do Primeiro-Ministro, Rishi Sunak, segundo o qual o Brexit “representa uma grande oportunidade” para o RU – reiterando declarações dos três Primeiro-Ministros conservadores que o antecederam. No mesmo comunicado, na noite da passada segunda-feira, Sunak afirmou que foram feitos “enormes avanços na exploração das oportunidades criadas pelo Brexit [com o intuito de lidar] com preocupações geracionais”. O Primeiro-Ministro inglês deu exemplos do que, no seu entender, foram práticas bem sucedidas que o país implemento: “Liderando o rollout de vacinação mais rápido na Europa, concluindo acordos comerciais com mais de 70 nações, recuperando o controle das fronteiras, forjámos, com confiança, uma via como nação independente”.
O relatório da Bloomberg admite não ser “simples nem rigoroso” determinar o volume de produção perdida pós-Brexit. Até porque a decisão do RU de abandonar a União Europeia foi agravada pelas perturbações tectónicas resultantes das vagas sucessivas da COVID-19.
O investimento empresarial britânico cresceu 19% menos do que a média dos G7.
É, no entanto, evidente que após a votação de 2016, o desempenho económico do RU começou a divergir do do restante Grupo dos Sete (G7) – com um intervalo que tem vindo a aumentar.
Dadas as incertezas quanto ao que seria a vida fora da UE, várias empresas adiaram as tomadas de decisão nas suas escolhas de investimentos, o que ajudará a explicar parte da baixa de desempenhos. O investimento empresarial no RU representa, atualmente, apenas 9% do PIB do país, face a uma mediana do G7 de cerca de 13%.
Outro problema que, em muito, tem vindo a afetar a economia do RU resulta da falta de mão-de-obra no país, uma das mais graves consequências do Brexit. Segundo a estimativa de Ana Andrade e Dan Hanson, há menos 370.000 cidadãos da UE a trabalhar no RU do que se o país tivesse permanecido no Mercado Único – um quantitativo apenas parcialmente esbatido pela chegada de uma nova leva de cidadãos não-europeus.
Segundo a Bloomberg, o impacto do Brexit no comércio inglês pode não ter sido tão negativo como temido.
Os dois economistas referem, no entanto, que, se durante algum tempo, se assumiu que as novas regras comerciais impostas à UE em 2021 criaram uma barreira entre “o desempenho comercial no Reino Unido e do G7, essa lacuna já não parece assim tão significativa”.
Acrescentam que no RU “os dados comerciais foram metodologicamente revistos, o que pode ‘desfocar’ comparações”. Curiosamente, concluem que se espera que seja o comércio a sofrer “com o grosso do impacto resultante da saída do Mercado Único”.